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Após atacar Lula, Palocci tem delação travada pela Lava Jato. Em benefício de quem?

Publicado: 08 Dezembro, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Para se ver livre da prisão e ter penas reduzidas, Antonio Palocci pretendia delatar Lula e uma série de políticos, na intenção de fechar um acordo de delação premiada com a Lava Jato. Mas, na prática, o acordo está travado e as acusações do ex-ministro ficaram restritas a Lula, sendo Palocci um delator informal nas ações penais movidas pelos procuradores de Curitiba - ou seja, não precisa provar nada do que disse.

Na reportagem "Perdeu o bonde", publicada pela revista Piauí nesta quinta (7), há a exposição de alguns motivos para que Palocci tenha tido sua delação travada. E há algumas dilemas, também:

- Se Palocci não tem como provar o que diz, seu depoimento contra Lula, na condição de réu e delator informal, não perde valor?

- Se a delação tem valor e for usada em novas condenações possivelmente impostas a Lula, por que a própria Lava Jato dificulta o acordo formal? Ou melhor: em benefício de quem?

DELATOR SEM PROVAS

Um dos motivos citados na matéria para a delação ter travado é curioso porque depõe contra a própria Lava Jato, e foi dito ao repórter por um membro da força-tarefa: Palocci, preso há um ano, dificulmente conseguiria produzir provas que corroborem o que diz que tem a entregar aos procuradores.

Por esse ângulo, é mesmo interessante que a Lava Jato de Curitiba mantenha Palocci no time de Léo Pinheiro e Renato Duque: os delatores informais que decidiram disparar contra Lula, na esperança de pelo menos cairem nas graças do juiz Sergio Moro no final do processo.

Piauí colheu depoimento do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa de Curitiba, que endossa essa tese. Disse ele que, na capital paranaense, a Lava Jato já está na "maturidade" e o que Palocci tem a dizer sobre políticos é problema da Procuradoria Geral da República. Trocando em miúdos: que bata em outra porta, o ex-ministro.

A distância de Brasília
O problema levantado pela reportagem é que, com a substituição de Rodrigo Janot por Raque Dodge, o acesso dos advogados de Palocci aos procuradores da República em Brasília passou a ser pífio. Antes, as conversas eram mais assíduas, tinha até grupo no WhatsApp. Agora, é burocrática, sem interlocução: é preciso ligar na secretaria, seguir os trâmites formais, para agendar um horário na PGR.

Um negociador de delações premiada disse à revista, em condição de anonimato: “Nos tempos do Janot, a PGR era um restaurante repleto de advogados propondo colaborações premiadas, com ‘garçons’ da PGR circulando de mesa em mesa, ouvindo os pedidos, cozinha a todo vapor. Agora, quase todos os assentos estão vazios, mas é difícil chamar a atenção de um atendente."

Desinteresse em Curitiba
Ao final, a impressão que se tem a partir da leitura da reportagem é que alguém não quer que Palocci seja um delato formal. Não há interesse em ouvir o que o ex-ministro tem a falar sobre políticos com foro, nomes do mercado financeiro ou dos meios de comunicação.

Seria uma novidade se o juiz Sergio Moro já não tivesse desprezado a delação de Palocci em um de seus despachos. Ao condenar Palocci a 8 anos de prisão, Moro escreveu que a oferta de delação feita pelo ex-ministro soava mais como uma "ameça" ou um pedido de socorro a algum poderoso do que uma "verdadeira" tentativa de colaborar com a Justiça.

Desde então, os procuradores de Curitiba passaram a demonstrar desinteresse pelo que Palocci teria a dizer.

(Fonte: Jornal GGN)