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Bancada empresarial tenta usar projeto do PPE para mexer com a CLT

Segundo sindicalistas, relator tenta emplacar mudança em direitos trabalhistas em programa pensado para proteger postos de trabalho em situações de crise.

Publicado: 02 Outubro, 2015 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Divulgação
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PPE foi criado para evitar demissões em momento de crise

A tentativa de alterar o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), em discussão no Congresso, provocou protestos dos presidentes da CUT, Vagner Freitas, e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques. Os dirigentes identificam uma manobra parlamentar para permitir que a negociação de acordos coletivos prevaleça sobre a legislação, afrouxando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Isso aconteceu em reunião da Comissão Mista da Medida Provisória 680/15, que institui o PPE, ao aprovar nesta quinta-feira (1º) relatório do deputado Daniel Vilela (PMDB-GO). Uma das emendas permite uma mudança tentada desde o governo Fernando Henrique Cardoso. "Colocaram uma emenda que não se relaciona com o programa, que não estava em discussão. Ela introduz um novo procedimento nas relações capital e trabalho, que é a prevalência do negociado sobre o legislado, fazendo uma reforma trabalhista sem discussão, o que não poderemos aceitar", afirmou Rafael, que acompanhou a votação e se disse indignado com a manobra.

O dirigente ressaltou que a medida provisória do PPE foi criada para evitar demissões em razão da queda de atividade econômica. E observou que houve muitos debates entre representantes de trabalhadores, empresários e governo para se chegar ao teor do programa. “O objetivo é preservar empregos em momentos de crise. Estamos fechando posição contrária, entre as centrais sindicais, a essa alteração que tenta aproveitar o programa para fazer passar uma reforma atropelada, sem debate”, avaliou.

"Não foi para isso que nós fizemos o PPE", reforçou o presidente da CUT. "Estão usurpando as conquistas dos trabalhadores. Queremos ampliar e, não, tirar direitos", afirmou Freitas, anunciando uma reunião com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nesta sexta-feira.

O vice-presidente da Comissão, deputado Afonso Florence (PT-BA), apresentou um destaque para retirar a mudança – que foi rejeitado por 12 votos a 8. No caminho contrário, foi acatado outro destaque – apresentado pelo deputado Efraim Filho (DEM-PB) – que retirou da MP a garantia de que o conjunto de normas estabelecidas em acordo coletivo deva ser, globalmente, mais benéfico do que as leis relacionadas, o que, na avaliação dos sindicalistas, “piorou” ainda mais o texto. “Parece que quando os patrões têm maioria não há abertura para diálogo e composição. Chegamos a propor criar uma comissão específica para discutir esse assunto separadamente, para amadurecer o debate, mas eles perceberam que tinham maioria e votaram”, disse o deputado.

Reação
Segundo Rafael Marques, o movimento sindical já está articulado para reagir. “Estamos viabilizando uma audiência na presidência da Câmara, vamos conversar com os deputados, colocar nossa posição e evitar que o PPE seja desvirtuado”, destaca. Na avaliação do presidente, o que aconteceu na Comissão Mista é mais uma demonstração do ataque que as forças conservadoras do Congresso Nacional estão tentando fazer à classe trabalhadora. “Temos o Congresso mais conservador dos últimos tempos, que não se cansa tentar atacar os direitos que foram conquistados pelos trabalhadores. Primeiro foi o projeto da terceirização, agora essa tentativa de desfigurar o PPE”, disse o líder metalúrgico.     

As outras alterações na MP, que dizem respeito ao funcionamento do programa, foram consideradas positivas. O relatório final ampliou o prazo para empresas participarem do programa – de 12 meses (seis meses com uma renovação) para 24 meses. E estendeu em um ano o período de adesão ao PPE, até 31 de dezembro de 2016. A MP segue agora para ser analisada e votada pelo Plenário da Câmara dos Deputados.

Quem está contra o trabalhador 
Para Marques, o que os parlamentares a favor desta proposta querem, de fato, é permitir que os direitos previstos na CLT e em outras leis trabalhistas sejam desrespeitados pelos empregadores. "Se o conceito de “negociado sobre o legislado” for aprovado pelo parlamento, basta a precarização constar em convenção ou acordo coletivo para os empresários terem a tão desejada segurança jurídica", criticou.

Crédito: Divulgação
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Lista com os nomes de deputados e senadores que estão contra os direitos da classe trabalhadora: 

Valdir Raupp (PMDB-RO - Senador)
Jorge Côrte Real (PTB-PE - Deputado Federal)
Antonio Anastacia (PSDB-MG - Senador)
Dário Berger (PMDB-SC - Senador)
Renato Molling (PP-RS - Deputado Federal)
Flexa Ribeiro (PSDB-PA - Senador)
Daniel Vilela (PMDB-GO - Deputado Federal)
Alexandre Leite (DEM-SP - Deputado Federal)
Dalírio Beber (PSDB-SC - Senador)
Wherles Rocha (PSDB-AC - Deputado Federal)
Wellinngton Roberto (PR-PB - Deputado Federal)

(Fonte: Rede Brasil Atual, com informações do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC)

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