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Bancos cortaram mais de 50 mil postos de trabalho desde 2015

Publicado: 08 Maio, 2018 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Com taxas de juros extorsivas, que "enforcam" a economia real e colaboram para a estagnação do crescimento, os grandes bancos que atuam no Brasil também têm contribuído com a elevação do desemprego. Desde 2015, o setor, que registra sucessivos lucros bilionários, cortou cerca de 50 mil postos de trabalho no país. Só nos primeiros três meses deste ano, foram 2.226 vagas extintas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

De janeiro a março, apenas os três maiores bancos privados –  Itaú Unibanco, Santander e Bradesco – registraram lucro líquido de R$ 14,3 bilhões. No ano passado, os três grandes privados, mais o Banco do Brasil – as quatro instituições com ações listadas na Bolsa – somaram R$ 57,63 bilhões em lucros. Em 2016, esse número foi de R$ 50,2 bilhões e, em 2015, alcançaram a cifra de R$ 61,9 bilhões, de acordo com a consultoria Economática.

Já o fechamento de vagas – o número de demitidos menos o de contratados –, nesse mesmo intervalo foi de 17.905, em 2017, alcançou 20.553, no ano anterior e, mesmo em 2015, quando os lucros foram recordes, 9.886 postos de trabalho no setor bancário foram extintos. Os quatro bancos somavam certa de 330 mil trabalhadores, em 2017, e quem mais cortou vagas foi o Bradesco, com redução de 9,2% no total de empregados em relação ao ano anterior.

Em dezembro do ano passado, os dispensados ganhavam em média R$ 7.456. Já a média salarial dos contratados foi de R$ 4.139, o que representa apenas 56% da remuneração dos desligados. Os dados são do Caged.

Junto da redução de postos de trabalho, fecham também as agências bancárias. Só em 2017, as quatro instituições acabaram com 1.296 delas, segundo estudo divulgado pelo Dieese. O Itaú Unibanco anunciou, ainda em 2015, que em 10 anos pretendia fechar metade da sua rede bancária, que hoje tem cerca de 3.500 agências pelo país.

Segundo o técnico do Dieese Gustavo Cavarzan, trata-se de uma "reestruturação produtiva" do setor bancário, que agora pretende maximizar seus resultados reduzindo suas estruturas. Mas ele diz que nem sempre foi assim. De 2003 a 2011, os bancos conciliavam a ampliação dos negócios, com o crescimento do número de agências e de funcionários, mas, desde 2012, quando começaram os cortes, passaram a apostam na terceirização e nos avanços da tecnologia.

Com a terceirização, os bancos têm se utilizado dos chamados "correspondentes bancários" – quando outros estabelecimentos comerciais, lotéricas e agências dos Correios, por exemplo, passam a oferecer serviços financeiros, em parceria com os bancos.

"Esses estabelecimentos fazem contratos com os bancos para prestarem determinados serviços, só que os trabalhadores não são bancários, não têm os direitos previstos em convenção da categoria, têm salários muito menores, entre outros fatores. Assim, os bancos conseguem expandir suas atividades sem contratar, ou até mesmo demitindo", explica Carvazan.

Outro processo ainda mais decisivo é a intensificação da tecnologia no setor bancário, que vem contribuindo para o aumento do desemprego. Estudo divulgado pela própria Federação Brasileira de Bancos (Febraban) aponta que 35% de todas as operações bancárias hoje são realizadas por meio de smartphones, e só em 2017, os grandes bancos investiram R$ 19,5 bilhões em desenvolvimento tecnológico.

Contudo, apesar dos custos infinitamente mais baixos dessas transações, as tarifas bancárias não apenas não reduziram, como seguem subindo. O técnico do Dieese destaca que, segundo relatório do Bradesco, o custo das operações virtuais é de cerca de 3% do que seria se elas fossem realizadas numa agência. Ainda assim, as tarifas bancárias tiveram reajuste de cerca de 9%, segundo o Dieese, frente a uma inflação oficial de 2,95%, no ano passado.

"A gente não vê esse movimento, que está no discurso dos bancos – que os clientes seriam beneficiados com a redução de custos –, sendo reproduzido na prática. As tarifas seguem aumentando muito acima da inflação geral. Essa redução de custos está sendo totalmente apropriada pelas empresas", ressalta Gustavo.

Para a presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, os avanços tecnológicos são importantes, mas não podem ficar a serviço apenas dos banqueiros. "É preciso transações seguras, com a redução do valor das taxas para população, com melhores serviços e melhores condições de trabalho para a categoria." Ela lembra que outra consequência negativa é que o uso das novas tecnologias pode aumentar a exclusão de parcela mais pobre da população, além daqueles que vivem em áreas afastadas, fora dos espaços urbanos, e que não contam com fácil acesso à internet.

Ivone ressalta que todas essas inovações servem para "precarizar" ainda mais as relações de trabalho no sistema financeiro. "Os trabalhadores sempre tiveram de se mobilizar para conquistar seus direitos, e isso não vai mudar. No ano passado, durante negociação salarial, os trabalhadores conseguiram incluir cláusula para garantir a requalificação e realocação de trabalhadores atingidos pelo avanço tecnológico. "Esperamos que todos os bancos cumpram o compromisso."

(Fonte: Tiago Pereira, Rede Brasil Atual)