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Dilma se compromete a defender participação dos trabalhadores no BRICS

Presidenta recebeu delegação de sindicalistas dos cinco países do bloco, que realizaram fórum paralelo ao encontro dos chefes de Estado nesta terça-feira (15), em Fortaleza (CE).

Publicado: 16 Julho, 2014 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Marize Muniz
Presidenta brasileira com a delegação de sindicalistas do BRICSPresidenta brasileira com a delegação de sindicalistas do BRICS
Presidenta brasileira com a delegação de sindicalistas do BRICS

Em reunião na tarde desta terça-feira (15) no Centro de Convenções de Fortaleza (CE), a presidenta Dilma Rousseff se comprometeu a atender a reivindicação dos sindicalistas de ter assento no BRICS, o fórum que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A capital cearense sediou o 6º encontro dos chefes de Estado do bloco, que decidiram criar um banco para apoiar países em desenvolvimento (leia aqui).

“Na próxima reunião acho que já dá para vocês participarem. Eu assumo com vocês esse compromisso”, declarou Dilma à delegação de dirigentes sindicais dos cinco países, que realizaram encontro ao longo de todo o dia de ontem na capital cearense (leia mais abaixo) .

De acordo com a presidenta, esta a presença da representação dos trabalhadores é uma questão de simetria. "Se os empresários podem fazer o seu fórum, que ocorre em paralelo à reunião dos BRICS e apresentar suas propostas, os trabalhadores também têm esse direito”, disse a presidente aos sindicalistas.

O presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Antonio Felício, considerou que a postura da presidenta aponta para a valorização da negociação coletiva. "É o reconhecimento de que na sociedade existem duas partes em contradição permanente, os empresários e os trabalhadores, que devem ter direito ao mesmo espaço de debate e de proposta”, avaliou o sindicalista brasileiro.

“Como presidenta do BRICS ela falará em especial com o Putin (presidente da Rússia), que vai sucedê-la, para defender o espaço dos trabalhadores na próxima reunião”, acrescentou o presidente da CUT, Vagner Freitas. Para o líder cutista, “a reunião foi extremamente positiva porque equilibra a correlação de forças na disputa entre capital e trabalho”.

Crédito: Leonardo Severo
Fórum sindical debateu agenda comum de lutasFórum sindical debateu agenda comum de lutas
Fórum sindical debateu agenda comum de lutas das centrais 


Fórum sindical
Antes do encontro com Dilma Rousseff, o 3º Fórum BRICS Sindical reafirmou a importância da integração do bloco dos cinco países como elemento chave para combater a crise internacional e fortalecer a soberania e o desenvolvimento sustentável em cada uma dessas nações.

A atividade sindical aconteceu em paralelo ao encontro dos chefes de Estado e representantes governamentais e empresariais, que também aconteceu na capital cearense. O encontro sindical reuniu dirigentes das centrais dos cinco países.

Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, os BRICS representam uma importante alternativa à lógica excludente ditada pelos países capitalistas centrais que, apesar da crise, tentam se manter à base do aumento da exploração das economias periféricas. Com aproximadamente 40% dos habitantes e 15% do PIB mundial, lembrou o líder cutista, o bloco precisa ser fortalecido com a participação dos trabalhadores, a fim de que haja crescimento com distribuição de renda e valorização do trabalho.

“A sustentabilidade deve ser econômica, ambiental, social e ter a participação social como fundamento, como aspecto basilar”, defendeu Antonio Lisboa, da executiva nacional da CUT e coordenador do painel Desenvolvimento Sustentável, Trabalho Decente e Inclusão Social. De acordo com Lisboa, o fato de países como o Brasil terem ampliado a participação social, seja por meio de conferências, diálogos tripartites ou consultas, possibilita uma melhor intervenção da classe trabalhadora, que se vê fortalecida na disputa de hegemonia com o grande capital.

“Vivemos um momento de agravamento da crise. Mas nunca os ricos ganharam tanto e os trabalhadores perderam tanto. Nossa unidade é extremamente importante para enfrentar o capital e dar um basta na hegemonia de alguns poucos países, que querem nos manter tutelados, sem soberania”, afirmou o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Antonio Felício.

Para manter os ganhos das grandes corporações, denunciou, os trabalhadores da Europa e dos Estados Unidos também estão sendo vítimas da redução de direitos, “pois esta é a lógica do capital, que se desloca para onde pode impor sua hegemonia”.

João Felício defendeu a abertura de espaços formais à representação sindical dentro do BRICS, para ele uma questão de justiça, uma vez que os empresários já têm o seu Conselho reconhecido. “É importante frisar que o governo brasileiro manifestou sua posição em favor dos trabalhadores, mas é necessário que isso seja reconhecido pelos cinco governos”, acrescentou.
 

Crédito: Leonardo Severo
Gilberto Carvalho apoia reivindicação das entidadesGilberto Carvalho apoia reivindicação das entidades
Gilberto Carvalho apoia reivindicação 

Presente ao evento dos sindicalistas, o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, criticou setores da elite e funcionários do próprio governo por verem como “natural” a presença empresarial na Cúpula dos BRICS, enquanto é negada a representação aos trabalhadores.

“Esta é a velha e boa luta de classes, onde alguns introjetam a dominação dentro do próprio aparelho de Estado. O fato é que os empresários têm muito mais acesso e privilégios que os trabalhadores”, declarou. Gilberto Carvalho ironizou o fato de setores da mídia considerarem chantagem a reivindicação dos trabalhadores: “A maior chantagem é a praticada todo dia pelo sistema financeiro, pelas empresas, que estão dentro dos ministérios pressionando pelos seus interesses”.

Unidade e mobilização
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, ressaltou que “diante da informalidade, da precariedade e da má distribuição de renda, consequência do neoliberalismo na atividade econômica nos países dos BRICS, torna-se mais do que necessária a unidade do bloco, para que não venha a converter-se em algo meramente aduaneiro ou mercantilista como se viu reduzido o Mercosul”.

Na avaliação de Divanilton Pereira, secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), “os BRICS expressam neste momento a resistência dos povos e a construção de uma nova perspectiva, diferente da ordem em curso”. Por isso, alertou, este é o momento de abrir espaço para que os interesses da classe trabalhadora sejam respeitados.

Conforme Paulo Sabóia, da executiva nacional da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, o fato de os BRICS serem países populosos, com grandes extensões territoriais, riquezas minerais, petróleo, indústrias e, principalmente, com grande força de trabalho, eles abrem espaço para a consolidação de um novo patamar de disputa. “Exemplo disso é a proposta de criação do Banco dos BRICS (centro do debate dos chefes de Estado), promissor espaço de contraponto ao FMI e seu receituário de recessão, miséria e desemprego”, disse.

O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, sublinhou que a crise internacional expõe a fragilidade do atual modelo, bem como a necessidade da unidade e da mobilização para sua superação.

Internacionais
A vice-presidente da central chinesa ACFTU, Shiping Zhang, esclareceu que o objetivo do evento é fortalecer ações pelo desenvolvimento sustentável e pela inclusão social: “Lutamos contra o capitalismo e o Banco Mundial”.

“A definição de uma agenda comum é para que tenhamos voz”, disse o secretário geral da central sul-africana COSATU, Zwelinzima Vavi, acrescentando que isso significa batalhar “contra as disparidades, o desemprego, a desigualdade e a degradação ambiental”.

Para Dennis George, da central sul-africana FEDUSA, há uma expectativa muito grande em relação aos resultados do encontro sindical, "pois é desta aliança mais ampla que pode vir uma resposta mais contundente aos descaminhos do neoliberalismo".

Já o presidente da central russa FNPR, Mikhail Shmakov, enfatizou que o sucesso das ações das entidades dos trabalhadores está intimamente ligado à atuação unitária do movimento sindical. “Vamos compartilhar nossas visões e construir uma plataforma comume em defesa do salário, do emprego e dos direitos”, propôs.

O dirigente da central indiana CITU Suresh Kumar ressaltou o papel da solidariedade da classe trabalhadora neste momento de confronto aberto com as transnacionais e o sistema financeiro. “Mais do que nunca, precisamos demonstrar que a classe operária é internacional”, concluiu.

(Fonte: Marize Muniz e Leonardo Severo - CUT Nacional)
 

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