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Chery quer vender 50% da fábrica no Brasil

Publicado: 18 Outubro, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

A Chery parece finalmente ter se cansado dos seguidos prejuízos no Brasil. Na semana passada, de forma despercebida, a montadora chinesa publicou no site da bolsa de valores de Changjiang, na cidade de Wuhu, onde suas ações são negociadas na China, que pretende vender pouco mais de 50% do controle de sua fábrica brasileira, inaugurada em 2014 em Jacareí (SP) após investimentos que somam US$ 400 milhões. Na declaração enviada à bolsa, a Chery informou ainda que espera obter na transação ao menos 421 milhões de yuan, cerca de US$ 64 milhões, e vai receber propostas até o próximo 7 de novembro.

Controlada pelo governo da cidade de Wuhu e maior exportadora de veículos da China, com 54 mil unidades exportadas nos primeiros seis meses deste ano, a fabricante estatal espera aliviar a pressão financeira negativa exercida nos últimos seis anos por sua subsidiária deficitária no Brasil. Segundo dados informados à bolsa chinesa, em 2016 a operação brasileira da Chery teve prejuízo de 1,1 bilhão de yuan (US$ 166,3 milhões).

Sem rede eficiente, entre o fim de 2016 e o início de 2017 a Chery tentou negociar a transferência de suas operações comerciais para o Grupo Caoa, que desde 2007 fabrica modelos Hyundai em Anápolis (GO) e opera um dos o maiores conglomerados de concessionárias no País com as marcas Hyundai, Ford e Subaru. Mas o negócio não prosperou. Segundo fontes ouvidas na época, os executivos da Caoa consideraram arriscado tomar a frente das vendas de uma marca com reputação desgastada no Brasil. Não há confirmação no momento de que a Caoa tenha retomado o interesse e que seja candidata a comprar participação majoritária na fábrica de Jacareí. Com isso, a Chery segue respirando por aparelhos, com rede que atualmente mal chega a 20 pontos operacionais, bem longe das 108 concessionárias de 2011.

Nem mesmo o novo plano de produtos, que previa o lançamento de três SUVs no mercado brasileiro, conseguiu até agora atrair o interesse de grupos em assumir as vendas da marca chinesa no País. A Chery dizia que iria lançar o SUV compacto Tiggo 2 em abril passado, o que já não aconteceu, e prometeu para 2018 os maiores Tiggo 7 e 9. Até o momento, vende somente as versões hatch e sedã do Celer e o subcompacto QQ, os três produzidos em Jacareí.

Para piorar a situação, a fábrica foi instalada na região que abriga um dos sindicatos de metalúrgicos mais combativos e intransigentes do País, e vem enfrentando sucessivas paralisações de trabalhadores. Desde o início efetivo da produção comercial, em março de 2015, foram promovidas ao menos cinco greves na planta de Jacareí, incluindo a iniciada recentemente, no fim de setembro passado, que já se estende por mais de 20 dias. Em junho, a Chery pôs fim a uma paralisação de 24 horas com a promessa de pagar R$ 6 mil de bônus por trabalhador a título de participação nos lucros e resultados. Desta vez a empresa resiste em ceder ao pedido de reajuste salarial de 9,2%, entre outras reivindicações (leia aqui).

Negócio insustentável
A Chery decidiu em 2011 investir em sua primeira fábrica completa fora do território chinês, com capacidade que poderia atingir 150 mil veículos/ano, como única saída para escapar da sobretaxação de 30 pontos porcentuais sobre o IPI aos carros importados, imposta a partir de 2012 pelo governo brasileiro com o Inovar-Auto, e assim tentar manter o que foi um de seu maiores mercados externos, com 21,7 mil carros vendidos em 2011.

Mas desde então nada deu certo: as vendas foram caindo pela metade ano a ano e seguiram em queda livre até atingir apenas 2 mil unidades em 2016, deixando a planta de Jacareí com ociosidade superior a 95% de sua capacidade de 50 mil/ano em um turno de trabalho. De janeiro a setembro deste ano os emplacamentos de 2,7 mil veículos no Brasil contabilizam crescimento de 140% sobre o mesmo período do ano passado, mas o volume ainda é muito baixo para representar qualquer alívio e manter a fábrica operando com rentabilidade.

(Fonte: Automotive Business)