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Cidade chinesa abriga 40 mil famílias de funcionários de gigante do carro elétrico

Publicado: 21 Agosto, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

BYD, diz a corporação chinesa que carrega esse nome, é um acrônimo para Build Your Dreams (construa seus sonhos). Entre investidores, a piada é que a sigla, na verdade, significa Build Your Dollars (construa seus dólares).

Contratado em 2016 como "embaixador global" dessa líder do setor de veículos elétricos, Leonardo DiCaprio estrela comercial feito na medida das ambições ocidentais dessa gigante -é a fabricante nº 1 de seu ramo, com fatia de 13% do mercado, mais de 100 mil automóveis produzidos no ano passado e projeção de faturar US$ 22 bilhões em 2017.

O ator americano dirige por uma metrópole com arranha-céus a perder de vista, paisagem que faz Nova York parecer uma cidade do interior. Convida o espectador "para o futuro". E esse futuro encenado vem em mandarim, como o ideograma na placa do carro elétrico que DiCaprio guia.

O amanhã, para a BYD, não está apenas nas ruas de uma China que se moderniza com pé no acelerador. Está também no Brasil, visto como consumidor em potencial para produtos da companhia - sobretudo ônibus movidos a bateria elétrica, vendidos como energia "limpa e silenciosa".

Não à toa o prefeito de São Paulo, João Doria, ganhou no fim de julho um tour pela sede da BYD, onde assistiu à peça publicitária com DiCaprio.

Doria, que passou uma semana no país a convite do governo chinês, saiu de lá paparicado. Ganhou, como doação à capital paulista, quatro carros elétricos (R$ 230 mil cada um), que pretende usar para a vigilância do centro e do parque do Ibirapuera. O que a BYD ganha com isso? A versão oficial, dada por Marcello Schneider, diretor institucional do braço brasileiro da BYD: apoiar "a sustentabilidade nas comunidades locais dos países onde estamos presentes".

Nos bastidores, a estratégia ganha um adendo: um afago no prefeito da maior cidade brasileira não machuca ninguém. São Paulo abrirá em breve licitação para renovar o contrato com empresas dos ônibus das linhas municipais. A BYD, com 410 funcionários nas duas fábricas que mantém em Campinas, não esconde seu afã em entrar na disputa.

O QG da empresa é uma cidade à parte dentro de Shenzhen, metrópole de 12 milhões de habitantes no sul chinês. Os funcionários vivem onde trabalham: abastecida com energia solar, a chamada BYD Village abriga 40 mil famílias de seus empregados -que ganham a posse do apartamento cedido a eles após dez anos de serviços prestados.

A corporação incentiva relacionamentos entre seus contratados e até dá "uma ajuda de custo para que os noivos [desde que os dois sejam funcionários] celebrem o matrimônio", segundo Schneider.

A minicidade corporativa tem escola, hospital, clube, monotrilho com 4,5 km de extensão e um morador ilustre: o presidente da BYD, que mora num dos condomínios.

Com fortuna estimada em US$ 4,4 bilhões, Wang Chuan-fu, 51, é o 414º entre os 500 maiores bilionários do mundo no ranking da "Forbes".

Filho de fazendeiros pobres e órfão ainda na adolescência, ele criou a BYD 22 anos atrás. Naquele início, baterias para celular eram o filé da casa. Em 2003 veio o interesse por automóveis. Um modelo de Sedan da BYD, o F3, virou best-seller na China, à frente de concorrentes como Volkswagen e Toyota.

O executivo comanda um império de 230 mil funcionários. A fama global veio em 2008, após o megainvestidor Warren Buffett adquirir 10% das ações da BYD por US$ 230 milhões. O valor multiplicou para US$ 1 bilhão em dez meses.

Competidores argumentam que a BYD só voou tão longe por depender de subsídios do governo chinês a veículos elétricos. E agora a fonte secou, já que o país vem diminuindo o apoio ao setor. A empresa também não conseguiu entrar no mercado americano ainda. 

(Fonte: Folha de S. Paulo)