Combate à corrupção dinamitou empresas nacionais, diz presidente da CSN
Benjamin Steinbruch condena desmonte da indústria em nome do combate à corrupção e considera que preservação da empresa nacional uma obrigação das autoridades brasileiras.
Publicado: 04 Abril, 2017 - 00h00
Escrito por: CNM CUT
O diretor presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch, publicou um artigo nesta terça-feira (4) em que destaca como o combate à corrupção prejudicou a economia brasileira. Argumentos usados por ele em seu texto são reivindicações e bandeiras antigas da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), por entender que a defesa do conteúdo nacional e uma política industrial de Estado são os principais indutores do desenvolvimento e que empresas e seus trabalhadores não devem ser punidos por desvios de conduta de seus executivos.
Agora, depois do golpe contra a democracia no Brasil, alguns empresários começam a perceber o caminho para o abismo que o ramo industrial está tomando, com o aprofundamento da crise propiciado pelos atuais detentores do poder, a política de negar o conteúdo local, entre outras medidas que têm afetado diretamente a produção e a economia no país.
Confira a seguir, alguns trechos do artigo de Steinbruch:
"A autodestruição da atividade industrial tem uma sequência assustadora nos últimos anos. O necessário combate à corrupção, em vez de punir só os corruptos, está dinamitando empresas nacionais. A indústria naval, a de petróleo, a da construção e agora os frigoríficos são setores importantes diretamente atingidos. Em todos eles, o Brasil alcançou um nível altamente competitivo no cenário global."
"Não é normal um movimento de autodestruição tão grande quanto o que está em curso no Brasil. Falo sobre a indústria brasileira. Vimos há duas semanas um evento no qual um dos setores mais eficientes da indústria brasileira, o de carnes, foi fulminado por uma operação ao que parece precipitada.
O objetivo, absolutamente correto, era interromper atos de corrução na fiscalização de alguns frigoríficos. Estavam envolvidas duas dezenas de unidades num universo de 5.000, ou seja, uma minoria.
O mais certo seria que os responsáveis pela eventual corrupção fossem levados à Justiça para responder pelos seus atos. Mas a comunicação espalhafatosa da operação acabou atingindo em cheio toda a atividade do setor, um dos poucos que ainda prosperam na atual recessão."
Em vez de apenas atingir malfeitores, a operação levantou grandes dúvidas sobre a qualidade das carnes. Imediatamente, vários países cancelaram importações do produto brasileiro à espera de novas garantias das autoridades sanitárias.
Em poucos dias, os frigoríficos, envolvidos ou não na operação, começaram a reduzir a produção, em razão da queda de demanda interna e externa, uma péssima notícia num país em crise: mais recessão, mais desemprego.
(...)
Preservar a empresa nacional deve ser uma obrigação das autoridades brasileiras em todas as áreas: que as pessoas culpadas sejam punidas com o rigor da lei, que as empresas paguem multas por seus erros, mas que a atividade produtiva não seja mais prejudicada."
(Fonte: Brasil 247, com informações da CNM/CUT)