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Delphi defende "seguro-saúde" para automóveis

Publicado: 16 Maio, 2008 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

A direção da Delphi, fabricante de autopeças, começa a defender a criação linhas de financiamento para manutenção dos automóveis. Da mesma forma como se oferece crédito para a compra do carro novo, os executivos da empresa propõem uma extensão de recursos para o reparo do veículo ao longo do uso. 

"O máximo que se vê na maior parte das oficinas hoje é um comerciante que aceita dividir o pagamento do conserto do carro em dois ou três cheques", afirma Edson Brasil, vice-presidente da divisão da Delphi que atua no mercado de reposição na região da América do Sul . 

A idéia do financiamento surgiu durante um encontro de executivos do setor e autoridades do trânsito, esta semana em São Paulo. A discussão ainda é embrionária. Mas entre as possibilidades, pensou-se em lançar a proposta de incluir o custo da manutenção no próprio financiamento no ato da compra do veículo. Da mesma forma como se faz hoje com o seguro, licenciamento e acessórios. Em qualquer concessionário, é possível adicionar todos esses custos às prestações do financiamento de um automóvel. 

Como as vendas de carros aceleraram nos últimos anos, os modelos com três a quatro anos começam agora a ir para as oficinas. Somente a reposição garante à indústria de autopeças brasileira uma receita anual de mais de US$ 3 bilhões. 

Na Delphi, as vendas para o mercado de reposição brasileiro têm registrado crescimento de 15% a 20% ao ano. A receita obtida com esse segmento equivale a 10% do faturamento anual total de US$ 1 bilhão na América do Sul. No mundo, dos US$ 24 bilhões que a companhia americana faturou em 2007, US$ 1,5 bilhão saíram da venda para reposição. Depois que se separou da General Motors, em 1999, a Delphi criou uma divisão especial para a reposição. Até então, a empresa atendia apenas a indústria automobilística. 

O financiamento que essa empresa defende agora é algo semelhante ao que o cidadão tem para cuidar da própria saúde. Essa espécie de seguro-saúde é defendida pelo presidente mundial da divisão de reposição da Delphi em todo o mundo, Francisco Ortoñez. 

Na Delphi há 38 anos e no comando da divisão de reposição desde 2000, Ortoñez participou do encontro em São Paulo e disse ter ficado impressionado com os dados alarmantes que a cidade coleciona sobre mortes no trânsito, veículos quebrados que paralisam as vias. O executivo se assustou ao ver a foto de um automóvel que foi parar dentro de uma casa, em Florianópolis, depois de cair de um abismo por problemas nos freios. 

Ortoñez, que circula pela Europa e Ásia para visitar os países onde a Delphi tem fábricas, diz que o descuido com a manutenção é um problema mundial. Mesmo com uma inspeção veicular já em curso em São Paulo, os dirigentes da indústria de autopeças acreditam que é preciso, junto com a fiscalização, promover uma mudança cultural no condutor a respeito da manutenção. Assim como o cinto de segurança: o uso foi forçado por lei, mas hoje boa parte dos motoristas naturalmente o coloca logo que entra no carro sem, muitas vezes, vincular o gesto ao atendimento de uma legislação. 

Ortoñez diz que a cultura da manutenção não existe nem mesmo nos Estados Unidos. "É muito comum um americano que tem mais de um carro encostar o que está quebrado na garagem", afirma o executivo. 

As discussões do encontro desta semana serão agrupadas em um documento que servirá para ampliar a discussão. A Delphi pretende envolver outros fabricantes de componentes e o governos nas próximas discussões. Hoje, mil veículos novos entram nas vias de São Paulo todos os dias. "Não podemos simplesmente continuar enchendo essa jarra com feijões sem cuidar dos veículos que quebram no meio do caminho", afirma Ortoñez. 

Para atender ao aumento das vendas de autopeças, as 11 fábricas que a Delphi tem no Brasil - com cerca de 10 mil funcionários - operam a plena capacidade. O ritmo da operação da Delphi na América do Sul hoje é muito diferente do que a empresa vive na matriz, nos Estados Unidos. Para sair do capítulo 11, a lei de falências dos Estados Unidos, a companhia apresentou um plano de reestruturação que prevê o fechamento da maioria das fábricas naquele país. Com isso, ganham mais força as operações nos países emergentes. 

Fonte: Valor