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Fabricante Airbus tenta fazer cortes sem ameaçar uma retomada

Publicado: 07 Abril, 2009 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

O chefe de produção da Airbus, Tom Williams, passou os últimos cinco anos ocupado em aumentar a produção da fabricante europeia de aviões. Agora, com as companhias aéreas adiando ou cancelando pedidos, ele tem de perpetrar um difícil malabarismo: diminuir a produção das fábricas sem destruir as perspectivas para uma futura recuperação.

A Airbus informou semana passada que recebeu pedidos para apenas 16 aviões em março, em comparação com 54 pedidos no mesmo mês do ano passado e 37 pedidos em março de 2007. A empresa já informou que pode receber apenas entre 300 e 400 pedidos este ano, ante o total de 777 encomendas líquidas (já descontados os cancelamentos) do ano passado.

Montar aviões a jato é tão complexo que pisar no freio pode ser tão difícil quando enfiar o pé no acelerador. As fábricas que Williams tinha otimizado recentemente para produzir com velocidade, graças a mais máquinas e operários, agora serão obrigadas a reduzir o ritmo sem aumentar dolorosamente o custo fixo de produção dos aviões.

As dezenas de fornecedores da Airbus, fabricantes de componentes que vão de minúsculos rebites a gigantescos trens de aterrissagem, não podem arcar com armazéns lotados de peças sem uso ou fábricas ociosas, ou ficarão enfraquecidas demais quando a demanda voltar. E demitir empregados capacitados pode causar uma fuga de cérebros que prejudicaria a eventual recuperação. "Leva tempo treinar o nosso pessoal que projeta e monta os aviões, então temos de ser mais cuidadosos", disse Williams, diretor de programas da Airbus, em entrevista ao Wall Street Journal na sede da empresa no sul da França.

Desde 2003 a Airbus aumentou em 60% a produção de aviões, alcançando o recorde de 483 jatos entregues ano passado.

Mas, em outubro, esta subsidiária da European Aeronautic Defence & Space Co. cancelou planos para aumentar ainda mais a produção e, em fevereiro, anunciou que reduziria as entregas de seus cobiçados modelos com apenas um corredor, de 36 por mês para 34, e estudaria possíveis novos cortes no futuro.

A Airbus, e sua rival americana Boeing Co., que já anunciou planos de demitir 4.500 funcionários mas manter a produção estável este ano, estão reagindo ao esfriamento econômico mundial com muito mais cautela que outras indústrias. A United Technologies Corp., que fabrica equipamentos aeroespaciais, ares-condicionados e elevadores, anunciou mês passado que demitirá 5% de seus funcionários, ou 11.600 pessoas. A Caterpillar Inc., que fabrica máquinas para construção civil, anunciou 24.000 demissões, enquanto diminui bruscamente a produção e fecha linhas de montagem.

Companhias aéreas e executivos da indústria aeronáutica preveem que Airbus e Boeing terão de cortar a produção ainda mais para evitar a fabricação de aviões que ninguém quer comprar. Douglas Harned, analista de aviação da Sanford C. Bernstein & Co. em Nova York, previu num relatório publicado mês passado que a Boeing terá de diminuir o total de entregas em 20%, em relação aos atuais planos. Empresas de leasing pediram recentemente que os dois fabricantes diminuam a produção para evitar um excesso de oferta no mercado, o que prejudicaria o valor dos aviões em seus balanços.

Executivos da Airbus e da Boeing dizem que produzir jatos é diferente de outros setores porque os aviões, que a preço de catálogo custam de US$ 50 milhões a US$ 300 milhões, demoram cerca de um ano para ser montados.

O resultado disso é que os diferentes ciclos se movimentam de modo muito mais gradual.

A experiência da Boeing mostra que rápidas mudanças na produção podem ser destrutivas. Há dez anos, a fabricante tentou aumentar a produção num curto período de tempo e acabou enfrentando imediatamente falta de peças e de pessoal qualificado. Dezenas de aviões inacabados, protegidos por tendas, engarrafavam o lado de fora das fábricas enquanto os operários corriam para terminá-los. A resolução desses problemas empurrou a Boeing ainda mais para o vermelho, mesmo quando entregava um número recorde de aviões. Desde então, Boeing e Airbus vêm tentando evitar oscilações substanciais nos volumes de produção.

As restrições trabalhistas na Europa impedem que a Airbus demita com a mesma facilidade que a Boeing. Por isso que nos últimos anos a empresa europeia contratou cada vez mais funcionários temporários e terceirizados para trabalhar em áreas que exigem menos preparo. Williams diz que. se diminuir essa força de trabalho, pode cortar a produção em cerca de 20% sem demitir funcionários contratados.

Administrar os fornecedores é um desafio maior. Cortar a produção para 34 jatos "não é uma grande mudança para a Airbus", diz Henri Courpron, um ex-gerente de compras da empresa que agora dirige a divisão aeroespacial da consultoria de aviação Seabury Group. "Mas se nesse processo você mata um fornecedor, pode perder a capacidade de montar todos aqueles 34."

Fonte: The Wall Street Journal