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Fornecedores de peças terão mais poder que montadoras

Publicado: 14 Agosto, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Quando a General Motors cindiu sua operação de autopeças, em 1999, a ideia era abandonar um negócio genérico e de baixa margem de lucro e se concentrar na construção e na venda de carros.

Com o avanço dos serviços de carros on-line e das tecnologias de smartphones nos carros, o eixo do poder na indústria automobilística está virando, em detrimento das montadoras e em favor dos fornecedores de componentes, antes desconsiderados.

Na Alemanha, as grandes (Volkswagen, Daimler e BMW) enfrentam acusações de conluio tecnológico. Nos EUA, a atenção da mídia rendeu publicidade grátis ao novo carro elétrico da Tesla.

Cresce o medo de queda nas vendas de veículos a compradores individuais, à medida que apps de serviços de carros – que em breve terão veículos autoguiados – substituem a propriedade de automóveis. Os novos compradores passarão a ser frotas, que comprarão carros em massa e a preços mais baixos, privando as montadoras de seu valor de marca.

Por enquanto, o balanço beneficia as montadoras. Mas os investidores confiam mais no futuro de fornecedores de componentes como Delphi, Bosch, Valeo e Continental, que ganharam terreno em termos de tecnologia, eletrônica e recursos de segurança.

Milhares de fornecedores vêm há muito desempenhando papéis fundamentais mas nada glamourosos na produção de veículos.

Hoje, seus componentes respondem por mais de 70% do valor de um carro, ante 40% a 50% no início dos anos 1990. Sua participação cresceu à medida que os carros ficaram mais complexos tecnologicamente.

A virada em favor dos fornecedores pode se acelerar à medida que o fator de diferenciação entre carros deixa de ser o conjunto motopropulsor, que inclui motor e transmissão, e passa a ser o software e a eletrônica.

"As megatendências – eletrificação, carros compartilhados e carros autoguiados – mudarão o modelo de negócio nas montadoras mais do que no setor de autopeça", diz Wolfgang Schäfer, da fornecedora Continental.

Há cinco anos, montadoras e fabricantes de peças tinham relações preço/lucro semelhantes em suas ações. Mas neste ano o indicador caiu para 7,4 nas montadoras e subiu a 13,4 nos grandes fornecedores de autopeças, segundo dados da Bernstein.

Os dois conjuntos de empresas estão sujeitos aos mesmos fatores cíclicos, como recessões ou queda nas vendas de carros, mas os investidores estão apostando que a soma das peças de um carro tenha valor superior ao todo.

Virada
A virada ainda não chegou. As margens das montadoras europeias são as mais altas desde 1990. Graças ao mercado chinês, a venda de carros deve subir para 114 milhões em 2024, segundo a consultoria AlixPartners.

As montadoras precisam acelerar seu investimento, e os motores, transmissões e sistemas de escapamento serão cada vez mais substituídos por baterias importadas da Ásia, o que reduzirá as barreiras aos novatos – como a Tesla demonstrou nos EUA.

Muitos fornecedores de autopeças não são afetados pelas tendências. Carros, mesmo que autoguiados ou compartilhados, continuarão a precisar de freios, portas e pneus, e semicondutores, equipamentos eletrônicos e sistemas de segurança.

"Na cadeia de valor, o fornecedor de componentes se tornou mais importante que nunca", diz Arndt Ellinghorst, analista da EvercoreISI.

(Fonte: Folha de S. Paulo)

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