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Guerra comercial ameaça se estender a setor de alumínio

Publicado: 10 Julho, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

A ameaça de guerra comercial no setor de aço poderá se estender para o setor de alumínio, mesmo depois de uma tentativa de apaziguamento no G-20 sobre o excesso de capacidade na China.

A indústria brasileira de alumínio já pediu para o governo também combater o excesso de capacidade nesse segmento, a exemplo do que querem fazer os Estados Unidos, a União Europeia (UE), a Rússia e alguns países em desenvolvimento.

No encontro dos líderes das maiores economias desenvolvidas e emergentes, que formam o G-20, em Hamburgo, o comunicado final tentou mascarar as fortes divergências com promessas que se contradizem e deixam em aberto o potencial de confrontos.

Já na chegada em Hamburgo, a delegação dos EUA ameaçou a China com medida unilateral se Pequim continuasse a não dar informações sobre as capacidades de suas siderurgias, necessárias para o grupo de trabalho internacional tentar encontrar soluções ao excesso de capacidade.

Só depois de decisão "do mais alto nível" da China, na madrugada de sábado, é que Pequim aceitou um compromisso no papel. O comunicado diz que os países do G-20 reconhecem o impacto negativo de excesso de capacidade em setores industriais sobre a produção doméstica, comércio e trabalhadores. Defendem a urgente eliminação de subsídios para o setor do aço. E aceitam trocar informações sobre suas capacidades de siderurgia até fim de agosto. Em seguida, o grupo de trabalho apresentará em novembro soluções concretas para reduzir o excesso no setor.

O confronto no comércio internacional de aço só será evitado se for encontrada, portanto, uma solução. Acontece que a China, principal alvo, não tem grande incentivo para se curvar diante dos EUA, inclusive porque na prática não será afetada por restrições impostas por Washington. É que os chineses exportam hoje já bem pouco para os EUA, barrados por várias medidas antidumping. Os maiores afetados por uma eventual medida americana serão os outros grandes exportadores, como Brasil, UE, Rússia e Turquia.

"O Brasil pode ser alvo de bala perdida nessa briga", declarou uma alta fonte brasileira. Outros negociadores acham que a China não tem interesse em conflito global que mine mais o sistema multilateral de comércio.

Em Hamburgo, alguns países sinalizaram que querem buscar "solução coletiva" também para o excesso de capacidade de alumínio. A produção na China aumentou quase 1.500% entre 2000 e 2017, segundo analistas. Produtores temem o alumínio barato da China, no que parece ser outro confronto anunciado.

O governo brasileiro aguarda para ver o que vai acontecer como solução ou não para o aço, antes de passar ao combate do excesso de capacidade de alumínio e outros produtos.

A expectativa entre negociadores é de que os EUA anunciem resultado de investigação sobre importações de aço e de alumínio em breve, mas Trump espere até novembro antes de decidir se sobretaxa os produtos por razões de segurança nacional, começando a implementar sua política protecionista de "America First".

A manifestação do G-20 sobre comércio, no geral, ilustrou como os EUA sob o governo Trump são "ponto fora da curva", como diz um negociador. Diante das profundas divergências, houve risco de sequer haver comunicado. O resultado é que, desta vez, o G-20 reconhece a importância do papel crucial do "sistema internacional do comércio", evitando o uso do termo "multilateral".

Os americanos quiseram dar ênfase à importância de acordos bilaterais. A promessa de busca de comércio recíproco e ao mesmo tempo não discriminatório é algo que cada um interpreta como quer. Para os EUA, maior potência do mundo, significa que os parceiros devem abrir seus mercados para as exportações americanas.

Os EUA ficaram isolados na questão do clima, sem surpresa. Trump fez um esforço para ler os textos que lhe foram preparados, para evitar maiores gafes, mas até fisicamente parecia deslocado entre boa parte dos líderes do G-20. Quanto à premiê alemã, Angela Merkel, corre o risco de pagar um preço pelo chamado "G-20 da fúria", com a violência que tomou conta das ruas de Hamburgo.

(Fonte: Valor Econômico)