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Ineficiência não é culpa só do setor, dizem executivos de montadoras

Publicado: 29 Novembro, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

A falta de competitividade da indústria automotiva brasileira não pode ser analisada sob o ponto de vista setorial, segundo Dan Ioschpe e Philipp Schiemer, presidentes, respectivamente, do Sindicato da Indústria de Componentes (Sindipeças) e da Mercedes-Benz do Brasil. Para ambos, os problemas do setor refletem, em grande parte, o ambiente conjuntural, como deficiências logísticas e a falta de previsibilidade nas políticas públicas.

"Muitas empresas do nosso setor têm recebido prêmios por soluções de aumento de produtividade, mas essa vantagem diminui quando se adiciona uma logística que quebra nossas peças pelo caminho, uma alta tributação, a necessidade de gastar em seguros por causa dos roubos de cargas nas estradas, os juros reais e os litígios trabalhistas, que se tornaram recorrentes", destacou o dirigente.

Ioschpe, também vice-presidente do Instituto de estudos para o desenvolvimento industrial (IEDI) e Schiemer participaram ontem do debate "Políticas e programas de apoio a empresas: qualidade e efetividade do gasto público federal", promovido pelo Banco Mundial e pelo Insper. Os comentários dos representantes da indústria foram uma resposta à apresentação, no mesmo encontro, de um novo estudo do Banco Mundial.

Apresentado pelo pesquisador Tim Surtgeon, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), o trabalho crítica o excesso de proteção à indústria automobilística no Brasil e propõe uma redução gradual do Imposto de Importação.

"Sr. Schiemer, se o governo abrir o mercado o senhor pega suas coisas e volta para a Alemanha?", questionou o mediador do debate. "Começamos bem a discussão", respondeu o executivo alemão, ao lembrar que acompanha a política econômica brasileira desde 1991, na sua primeira passagem pelo país. "Se falarem: amanhã vamos abrir o mercado, toda indústria pode fechar", disse.

"Somos a favor da abertura, mas trabalhamos numa indústria que precisa de previsibilidade. O que não podemos mais ter é uma política que abre o mercado hoje e volta a fechar daqui a dois anos. As regras não podem mudar no meio do jogo", destacou Schiemer.

O presidente do Sindipeças seguiu o mesmo raciocínio. "O Brasil precisa inserir-se na competitividade mundial. Mas tudo tem que ser mensurável e ter início, meio e fim", destacou Ioschpe ao referir-se às regras da política industrial no país.

Para ele, a indústria automobilística está inserida em um contexto no qual "os problemas não são setoriais". Com base no estudo do qual participou e apresentou durante o debate, Surtgeon destacou os anos de protecionismo ao setor no país, desde o início da década de 50, e disse que o Brasil precisa descobrir sua vocação no contexto global e não só tentar replicar aqui todas as etapas da produção de um veículo. Ele apontou, como exemplo, o caso da Tailândia, onde a indústria de veículos especializou-se na produção de picapes.

"Se a indústria automotiva instalada no Brasil for exposta à competitividade vocês vão perder empresas", destacou o pesquisador americano.

(Fonte: Valor Econômico)