MENU

Lucro das empresas cresce 30% no terceiro trimestre

Publicado: 21 Novembro, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

O contexto macroeconômico mais favorável no terceiro trimestre deste ano, com juros, inflação e dólar menores em relação ao mesmo período de 2016, impulsionou os resultados das companhias brasileiras. Combinadas, as empresas viram seus lucros saltarem 30% na comparação anual - muitas delas reverteram seus prejuízos em ganhos.

Levantamento feito pelo Valor Data incluiu 238 companhias de capital aberto e não financeiras, totalizando um lucro líquido de R$ 13,5 bilhões. A reportagem optou por desconsiderar os números de Petrobras, Vale e Eletrobras para não distorcer a visão geral da situação das outras empresas.

Com as três gigantes, o lucro consolidado seria de R$ 21,46 bilhões, comparado a um prejuízo de R$ 3,38 bilhões entre julho e setembro de 2016, influenciado por baixas contábeis bilionárias.

De forma geral, o trimestre foi positivo e de recuperação. Apenas 78 empresas da amostra, ou cerca de 32%, reportaram prejuízo. Ao todo, 144 companhias (60%) apresentaram melhora em seus resultados.

Na visão de analistas ouvidos pelo Valor, os resultados trimestrais confirmaram a recuperação da economia e também mostraram que o mercado já havia "colocado no preço" o bom momento para as empresas.

O Ibovespa encerrou o terceiro trimestre com alta acumulada de 18,11%, e o mês de setembro teve como principal marca a renovação de sucessivos recordes históricos do índice.

Para David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch (BofA), a safra de julho a setembro surpreendeu o banco, que esperava números positivos, mas com previsões mais conservadoras. Até o penúltimo dia de divulgações - 13 de novembro -, com 81% das companhias já tendo reportando seus resultados, metade veio acima do esperado pela instituição, 20% ficou em linha e 30%, abaixo.

Segundo ele, os principais gatilhos para esse cenário positivo foram a menor despesa financeira - atribuída à queda do dólar - e os esforços das empresas em ajustar seus custos ao longo dos anos, refletindo um melhor desempenho operacional.

As receitas totais apresentaram alta de 9,2% no trimestre, para R$ 324,6 bilhões, recuperação que veio após longo período de recessão e vendas em queda.

As despesas operacionais, por outro lado, também cresceram e pressionaram o resultado final. O indicador avançou 14% no trimestre - entre as empresas que registraram altas significativas nesta linha estão JBS, Pão de Açúcar, Via Varejo, Natura e BR Pharma.

Com isso, o lucro operacional antes de juros e impostos teve um crescimento modesto de 5,9% de julho a setembro, em base anual, para R$ 33,1 bilhões. O ganho antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) - um indicador não contábil - subiu 5,7%, para R$ 202,8 bilhões.

O que impulsionou o resultado final foi a queda nas despesas financeiras, principalmente ligada a dívidas atreladas ao dólar. A valorização do real no período fez com que as despesas financeiras líquidas recuassem 47% no trimestre.

Se por um lado o menor valor do dólar prejudica as exportadoras, o efeito na conversão do estoque de dívidas mais que compensa, no cômputo geral, essa redução de receitas.

A cotação média do dólar Ptax no terceiro trimestre de 2017, utilizada como referência para o cálculo de receitas, ficou em R$ 3,1640, o que significa quedas de 1,6% e de 2,5% em relação ao segundo trimestre deste ano e ao terceiro trimestre do ano passado, respectivamente. Já a cotação de fechamento do dólar Ptax ao fim de setembro foi de R$ 3,1680, patamar 4,2% menor que o visto ao término de junho e 2,4% abaixo da cotação de setembro de 2016. O valor de fechamento de cada trimestre serve como base para cálculos de despesas e receitas financeiras.

Em uma avaliação por setor, o analista chefe da Planner, Mario Mariante, destaca o bom desempenho visto nos bancos e em boa parte das empresas de varejo e consumo. No caso dos dois últimos segmentos, ele espera continuidade de bons resultados neste fim de ano, pelo estímulo sazonal e combinação de juros e inflação em queda. Beker, do BofA, ressalta a performance das companhias de energia elétrica.

No lado negativo, Mariante, da Planner, cita o ramo de incorporação imobiliária, que apresentou dificuldades no terceiro trimestre, ainda por conta de problemas do passado. "Os resultados foram fracos, com algumas empresas tradicionais, como a Cyrela, registrando prejuízo”.

Para o trimestre atual, a mesma variável que favoreceu os ganhos das companhias - o câmbio - pode preocupar, diz Mariante. "Incertezas ligadas à aprovação da reforma da previdência já começam a afetar o dólar." A moeda norte-americana oscila atualmente perto de R$ 3,28. No BofA, Beker aponta dúvidas em relação ao ajuste fiscal e possíveis influências externas, mas no geral mantém o otimismo com os resultados.

Uma questão específica, porém, deve ficar no radar dos investidores: o impacto da adesão ao Programa Especial de Regularização Tributária (Pert), que permite às empresas negociarem, em condições especiais, dívidas tributárias ou não-tributárias com a Fazenda Nacional, vencidas até 30 de abril de 2017.

Chama atenção, por exemplo, o ajuste feito pela Ambev, que atingiu R$ 2,97 bilhões e pesou no lucro de apenas R$ 223 mil no terceiro trimestre, ante ganho de R$ 3 bilhões um ano antes. Grupos como Marfrig, JBS, BRF e Braskem também aderiram ao Pert e especialistas alertam para possíveis efeitos nos próximos balanços.

(Fonte: Valor Econômico)