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Lula: 'Conquistei o direito de andar com a cabeça erguida neste país'

Em pronunciamento nesta quinta (15), ex-presidente disse estar indignado com acusações feitas ontem por procuradores. "Provem uma corrupção minha, que eu irei a pé para ser preso", disse.

Publicado: 15 Setembro, 2016 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Jornalistas Livres
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu nesta quinta-feira (15) a denúncia de corrupção e lavagem de dinheiro feita contra ele pela força-tarefa da Operação Lava Jato no dia anterior. Em pronunciamento, Lula lembrou o passado humilde, a história política, reafirmou sua inocência e afirmou que a ação contra ele tem o objetivo "acabar" com a sua vida política.

Lula falou em um hotel no centro de São Paulo, onde o PT reuniu seu conselho político. O ex-presidente entrou no auditório sorrindo e cumprimentando seus companheiros. Foi recebido com palavras de ordem: “Lula, guerreiro do povo brasileiro” e “Fascistas, fascistas não passarão!”. Ao seu redor estavam os presidentes nacionais do PT, Rui Falcão, e da CUT, Vagner Freitas, senadores e deputados petistas, os coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, e do MST, Gilmar Mauro, do MST, entre outros.

Lula se disse "indignado" com as acusações dos procuradores da Lava Jato e criticou a "pirotecnia" da entrevista coletiva do Ministério Público Federal na quarta-feira (14).

“Eu não vou fazer um show de pirotecnia, não quero me comportar como um cara perseguido ou como se estivesse reivindicando algum favor. Esta é uma declaração de um cidadão indignado. Não de um político, é um cidadão indignado com as coisas que aconteceram e estão acontecendo no Brasil”, declarou.

"Descobri que tanto os meus acusadores quanto uma parte da imprensa estão mais enrascados do que pensam que eu estava", disse Lula sobre as denúncias. O ex-presidente afirmou que foi construída uma mentira, "como se fosse um enredo de uma novela".

"E está chegando o fim do prazo, afinal, já cassaram o Cunha, elegeram o Temer indiretamente com o golpe e cassaram a Dilma. Agora precisam concluir a novela e dizer quem é o bandido e quem é o mocinho. O fecho é acabar com a vida política do Lula. Não existe outra explicação para a pirotecnia de ontem", reforçou.
 

Crédito: Roberto Parizotti
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Emoção
Lula se emocionou por três vezes, a primeira delas ao afirmar sua inocência. Disse que ninguém respeita as leis e acredita nas instituições mais do que ele e que prestaria quantos depoimentos "forem necessários". "Eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida nesse país", afirmou Lula. "Provem uma corrupção minha, que eu irei a pé para ser preso", disse.

Fazendo alusões à Tiradentes e à Inconfidência Mineira, Lula disse que tentar desgastar sua imagem e suas ideias é “bobagem”. Também citou os movimentos de ocupações de escolas em São Paulo e os recentes protestos contra Michel Temer e a favor de novas eleições.

"Não se preocupem com o Lula. Isso é bobagem. Essa meninada que proibiu o Alckmin de fechar escola em São Paulo, essa meninada que está indo pra rua reivindicar democracia e mais educação, essa meninada é um Lula de 71 anos multiplicado por milhões de Lulas jovens nesse país", avaliou.

Afirmou que seus opositores pensam que, se tirarem o Lula, está resolvido: “Pelo contrário, vocês vão ter problema com o golpe que deram, com o que querem tirar do povo trabalhador, de tentar entregar nosso patrimônio às multinacionais, nosso pré-sal, nossa Petrobrás”, criticou. “Assim, não precisa governar, é só colocar um vendedor”, ironizou.

Lembrando que construiu sua vida, ao longo de 71 anos, "comendo o pão que o diabo amassou", Lula disse que não tem tempo de parar: "O país que eu sonho está longe de ser construído. Subimos apenas um degrau, que estão tentando tirar da gente.

O ex-presidente também citou as acusações feitas pelos procuradores da Operação Lava Jato, pediu para "pararem de procurar casca onde não tem" e criticou a criminalização da política. Falando com "as pessoas sérias do MPF", disse que estava à disposição.

"O Lula não é maior do que a lei. Quando eu transgredir a lei, me punam, mas quando eu não transgredir, por favor, procurem outro para arranjar problema", disse.
Ele ironizou a ação ao dizer ainda que “tinham provas de um helicóptero com 400kg de cocaína, mas não tinham convicção, então liberaram” [referindo-se ao episódio de 2013 em que foi apreendida aeronave com 445 kg de pasta base de cocaína – e propriedade da família do ex-senador mineiro Zezé Perrella, muito próximo do senador Aécio Neves (PSDB-MG)].

“Não sei porque fazer uma coletiva para apresentar a prova de um crime, e não tem crime, tem convicção. Ninguém respeita a lei desse país mais do que eu”, assegurou. “Sou daqueles que acreditam que só com instituições fortes há democracia”, acrescentou.

Lula avaliou que “Janot [Rodrigo Janot, procurador geral da República] deve estar pensativo hoje”, que “os ministros do STF devem estar pensativos. O que aconteceu? À custa do que esse espetáculo? Por que vender um produto que não tem como entregar? Não adianta matar e esquartejar, como fizeram com Tiradentes”. E alertou: “Vocês vão ter problema com o golpe que vocês deram”.

“Vocês não podem permitir que meia dúzia de pessoas estraguem a reputação de uma instituição como o Ministério Público. Eu conheço gente que vive por cinco minutos de fama na televisão, essa pessoa vive pouco. A única coisa que eu peço, por favor, é que respeitem a minha família”, pediu.

Ao final de sua fala, em várias partes crítica à atuação da imprensa, Lula pediu isonomia no destaque dado ao depoimento de hoje. "Espero que eu tenha o mesmo destaque dos meus acusadores ontem. Só peço igualdade e oportunidade para que as pessoas possam ouvir", afirmou.

Logo depois do pronunciamento, um dos advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins, informou que entrou com uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público contra a conduta dos procuradores. "Eles não poderiam antecipar juízo de valor de uma investigação. Além de usar recursos públicos para realizar uma coletiva de imprensa, função que vai além das da instituição", explicou.

Crédito: Ricardo Stuckert
Ex-presidenteEx-presidente
Após pronunciamento, Lula (ao lado do prefeito Fernando Haddad) se encontra com manifestantes

Apoio popular
Enquanto o ex-presidente falava à imprensa, centenas de pessoas realizavam um ato de apoio a ele do lado de fora do hotel. Depois do pronunciamento, Lula foi ao encontro dos manifestantes.

Crédito: Divulgação
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Trabalhadores do Brasil, México e Argentina unidos em apoio a Lula

Entre eles, estava presente uma delegação de trabalhadores mexicanos e argentinos. Eles suspenderam as atividades de programa de formação “Ação Sindical frente às Multinacionais na América Latina” – iniciado ontem (14) na sede da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (leia aqui) – para prestar solidariedade ao ex-presidente Lula.

O presidente e o secretário geral em exercício da CNM/CUT, Paulo Cayres e Loricardo de Oliveira, também participaram da manifestação, ao lado de outras lideranças sindicais que também foram prestar seu apoio a Lula. 

(Fonte: Carta Capital, Rede Brasil Atual e Assessoria de Imprensa da CNM/CUT)