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Lula: ‘Qual o meu crime, ser candidato com mais chance? Façam uma chapa e ganhem’

Em entrevista nesta quarta, ex-presidente falou do julgamento em Porto Alegre, em 24 de janeiro, e exortou adversários a concorrer nas urnas, em vez de esperar pelo Judiciário.

Publicado: 21 Dezembro, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu na manhã desta quarta-feira (20) entrevista coletiva para 11 repórteres e blogueiros do Brasil e estrangeiros. Bravo com a condenação, sem provas sobre o tríplex de Guarujá e bem-humorado com a vida, Lula falou sobre as acusações, a condenação, o julgamento do recurso no Tribuna Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre, em 24 de janeiro, candidatura, campanha, referendo revogatório, alianças, políticos e partidos.

Sobre o julgamento que provocará intensa mobilização do campo progressista, o ex-presidente afirmou que a atuação política e seletiva da Operação Lava Jato deixou o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, assim como a Polícia Federal e o Ministério Público Federal com acusações em que só há delações. “Eles estão sem rota de fuga, mentiram e não têm como sair."

“Minha vontade é ter atestado de inocência no dia 24, não posso aceitar entrar para a história como culpado. Acho engraçado que a imprensa não deu nada do Tacla Duran (ex-advogado da Odebrecht), imagine se fosse o PT. Qual o meu crime, ser um candidato hoje com mais chance?!  Então, eles que façam uma chapa e ganhem. Se o apartamento é meu, que me entreguem a chave, quem sabe o nosso próprio encontro possa ser na varanda do apartamento.”

Acusações da Lava Jato
Vivemos no Brasil um momento atípico, acho que vai continuar assim por mais um tempo e o Brasil só vai voltar para a normalidade quando o povo eleger o presidente e que tenha condição de montar um governo que só o eleito tem.

Eu não posso estar mal-humorado porque sou corintiano, tem mais gente com motivos de estar mal-humorado, menos eu. A minha condenação será a negação da justiça, que vai ter que fazer para transformar uma mentira em verdade e julgar uma pessoa que não cometeu crime, até agora não apresentaram provas. Na avaliação de centenas de juristas é quase uma piada. Tenho desafiado a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, que apresentem uma só prova. Tudo começou com uma mentira, seguiu como mentira e o Moro aceitou a mentira. Tudo agora está subordinado à imagem pública, ao que a imprensa fala do processo, eles estão sem rota de fuga, mentiram e não têm como sair. Não é possível alguém dizer que alguém é dono e não é dono. A mega mentira foi o power point do Dallagnol (Deltan Dallagnol, procurador do MPF). Minha vontade é ter atestado de inocência no dia 24, não posso aceitar entrar para a história como culpado. Acho engraçado que a imprensa não deu nada do Tacla Duran, imagine se fosse o PT. Qual o meu crime, ser um candidato hoje com mais chance?!  Então, eles que façam uma chapa e ganhem. Se o apartamento é meu, que me entreguem a chave, quem sabe o nosso próprio encontro possa ser na varanda do apartamento.

Governo Temer
O orçamento é o mais comprometido, Temer continua gastando para continuar no governo, cortando na educação, na saúde. Quando venci, os economistas diziam que o Brasil estava quebrado. A economia para dar certo é preciso que quem esteja falando tenha credibilidade na sociedade. A relação do Brasil com os países ricos é muito estável, tudo em torno de 5, 6, 7%, no nosso governo a relação com a Argentina chegou a 30% (do comércio entre os países). Não pode ser governante pensando só em vender para pagar dívidas, quando acabar, o país está quebrado. Sou contra o estado empresário, não pode perder o seu papel de indutor da economia, onde deve receber universidade, indústria, centro de pesquisa, escola técnica. Na crise de 2008 nós usamos os bancos para sair mais rápido da crise. O Estado não é neutro. Quem não depende do Estado é que manda o Temer fazer o desmonte, porque quer mais recursos para eles. Conversem com a Laura Tavares, filha da Maria Conceição Tavares, especialista em Previdência. Quando incluímos 7 milhões de trabalhadores rurais na Previdência, nós arrumamos o dinheiro, mas aí veio o Malan e juntou a Previdência no orçamento da união e eu briguei com o Mantega para tirar.

Eleições
É possível ganhar as eleições, juntar gente séria e juntar empresários, milhares de pequenos empresários para reconstruir o país na base da produtividade. Eu posso usar o compulsório, posso pegar uma parte da reserva e aplicar na economia para o país crescer e voltar a ser competitivo. Se eu casei com a dona Marisa e chego querendo vender a geladeira, o fogão, o bule do café, aí eu levo a dona Marisa para a pobreza. Eles tratam a Petrobras como empresa de petróleo, é uma indústria com peso de indução de pequenas e médias empresas brasileiras. Eles não têm noção do que foi feito com a indústria naval.

A peça processual
Vou esperar a minha inocência, quero por 3 a zero. Só queria que eles lessem a peça processual. Eu vi um artigo do Emir Sader que calculou que o revisor leu 2 mil páginas por hora, isso é impossível. Quero que eles leiam e grifem onde está a prova. Se condenarem, tem ‘n’ recursos, vou continuar viajando defendendo o Brasil, a América Latina, os Brics, o Brasil não nasceu para ser um vira-lata. Tem que se enxergar.

Eu tenho que viajar para a Etiópia a convite da União Africana. Não sei se vou ou não a Porto Alegre, não tenho que ir, mas não sei se vou e como réu não vou participar das manifestações, mas o PT deve divulgar o máximo possível a acusação e a defesa, debates nas universidades, quero que as pessoas tenham acesso ao processo e os meus acusadores vão ficar ridicularizados. Comparo à minha situação da invasão do Iraque, o Bush sabia, o Tony Blair sabia que não tinha armas químicas, cadê as armas químicas, e o Saddam Hussein também mentiu que tinha armas químicas e não tinha e não teve coragem de dizer de público. Preferiu se esconder num buraco como rato. Aquele país tinha um poço descoberto pela Petrobras com 80 bilhões de barris de petróleo. É dessa forma a mentira da Polícia Federal, do Ministério Público. Se eu não acreditar na Justiça, o que vou fazer com 72 anos, luta armada? Os homens da Justiça devem fazer jus a essa Justiça.

Campanha de ódio
O candidato a presidente não pode se envolver com as negociações de outros partidos, isso deve ser feito pelo presidente do partido ou coordenação da campanha, o candidato deve ficar de fora para intervir se precisar. 2014 foi muito atípico, muito diferente por causa de 2013; primeiro foi a imprensa e polícia em cima de 3 mil meninos brigando por passe livre, depois mudou e eu vejo com muita desconfiança, ali começou a surgir a ideia de afastar o PT do poder, a campanha de 2014 teve muito ódio que não tinha não outras eleições. O Aécio colhe o que plantou. Tentei ajudar a Dilma a discutir o governo, eu fui na apuração e vi que tinha algo estranho no semblante da Dilma, saí de lá com a certeza tinha deixado ela desconcertada, não sei o que era, mas algo estava errado. Ela teve o tempo dela. Houve um choque quando a Dilma apresentou a reforma, principalmente para o pessoal que entrou na campanha, os mais jovens, parte do movimento sindical que não queria a direita e foi um choque a proposta de reforma. Isso facilitou para nossos adversários chamarem de estelionatário eleitoral.

Referendo revogatório
Acho que nós vamos voltar melhor que nos governos anteriores, as pessoas que estavam comigo estão muito melhor, vejam o Haddad (presente na entrevista) antes era só universidade e agora foi prefeito de São Paulo. Eu quero fazer uma eleição dizendo o que vai acontecer, não quero dizer meias verdades, quero dizer que vamos defender o referendo revogatório. Vejam que a elite brasileira, que perdeu as eleições de 1988, já fez uma nova Constituição, é só pegar as emendas aprovadas. Vamos ter que discutir estrategicamente e de forma soberana o Brasil. Não pode ficar assim de a cada eleição mudar a Constituição, o povo tem que saber que para fazer as mudanças que o Brasil precisa, tem de votar num candidato progressista e num deputado progressista.

Na campanha quero dizer porque o povo pobre tem que pagar menos imposto que o rico, porque o rentista não pode pagar mais, temos que fazer uma política tributária diferente, colocar em prática o imposto sobre herança. Vamos mostrar o que ocorre na Inglaterra, nos Estados Unidos. Nós estamos mais maduros, fiz duas reformas tributárias, uma tinha unanimidade, mandei para o Congresso Nacional, e não andou. O Serra não queria.  Não vai ser uma campanha só pedindo voto, queremos uma campanha de Nação, que Brasil nós queremos.

Haddad no programa de governo
Por isso, o Haddad já foi indicado pela executiva do partido para organizar o debate sobre programa (de governo). Eu não preciso ser candidato para fazer o que eu já fiz, isso é bobagem, eu quero fazer o que eu não fiz. Dizem que estou radical, eu não estou radical, estou mais sabido. Eu sei de onde eu vim e o que eu sou. Quero dizer que o povo pobre vai subir mais um degrau na escala social, a sala da casa grande vai ficar mais próxima da sala do mais pobre.

Maluf
Com quem eu vou governar? Com quem eu vou me aliar? Na campanha do Haddad, eu estava com câncer e fui chamado para tirar foto com Maluf, afinal o Haddad ia ganhar mais dois minutos na televisão e candidato desconhecido precisa desse tempo, mas eu não precisava daquilo. O ideal seria o PT eleger a maioria, mas aí daria racha. Assim, você tem que compor com quem está lá. Fazer acordos programáticos. Se você é candidato e não quer fazer acordo com nenhum partido, porque todos são ladrão, essa pessoa não vai se eleger nem governar.

Corrupção
A corrupção é um problema grave no mundo inteiro, nós sabemos o que aconteceu na Espanha, na França, na Alemanha. Lamentavelmente, o ser humano tem suas falhas e felizmente no Brasil temos instrumento para combater a corrupção. Nós aprovamos um monte de propostas para combater a corrupção e vocês vão dizer que esse partido é “fueda”. O fato de prender o empresário não pode quebrar a empresa, para continuar gerando emprego, vejam o exemplo da Samsung. Aqui quebram vários ramos. Criam a palavra propina, que está no mundo judiciário. Acho que uma boa parte do dinheiro que está fora é de evasão fiscal, de dinheiro roubado, está lá fora sem pagar imposto. Vai pagar um pequeno imposto para trazer de volta, mas não trouxeram.

(Fonte: Paulo Salvador - Rede Brasil Atual e TVT)