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Marine Le Pen sobe tom para reverter desvantagem no segundo turno

Publicado: 25 Abril, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Um dia após ser classificada para o segundo turno das eleições presidenciais francesas, Marine Le Pen, da direita ultranacionalista, anunciou nesta segunda-feira (24) que deixa temporariamente a liderança do partido Frente Nacional.

Com esse primeiro gesto, a candidata deu início a uma nova etapa de sua campanha. Le Pen disputa o segundo turno em 7 de maio com o centrista Emmanuel Macron.

Macron teve 24% dos votos enquanto ela recebeu 21,3%.

A decisão de Le Pen, de peso simbólico, coincidiu com o endurecimento de seu discurso de campanha, enquanto tenta atrair eleitores de direita e esquerda para sua plataforma nacionalista.

Le Pen está ciente de que, segundo as pesquisas de opinião atuais, ela deve ser derrotada no segundo turno. Uma estimativa do instituto Ipsos sugere que Macron teria 62% dos votos contra os 38% da ultradireitista, uma margem que ela precisa romper em duas semanas.

Fora da liderança da Frente Nacional, ela pode parcialmente se afastar da imagem de xenofobia e antissemitismo tradicionalmente atrelada ao partido, fundado por seu pai, Jean-Marie Le Pen. A rejeição ao seu radicalismo é um dos obstáculos entre a candidata e a Presidência.

O segundo turno será disputado em torno de temas fundamentais ao debate público francês: a migração, a segurança e a economia.

Outro assunto-chave é a integração na União Europeia. Macron é favorável ao bloco econômico, enquanto Le Pen quer um referendo para deixá-lo, como o Reino Unido decidiu em junho.

Le Pen afirmou nesta segunda que seu rival é um "europeísta histérico e radical" que será incapaz de lidar com o terrorismo. "Ele é a favor de fronteiras totalmente abertas. Ele diz que não existe uma cultura francesa. Não há nenhuma área em que ele demonstre um pouco de patriotismo", afirmou Le Pen após a votação de domingo.

Os mercados reagiram com euforia à classificação de Macron para o segundo turno —sinal de que, afinal, a França não deve tentar deixar a UE.

O euro chegou a seu maior valor em cinco meses em relação ao dólar. No Brasil, a moeda fechou a R$ 3,125.

Tanto Macron quanto Le Pen irão tentar retratar um ao outro em suas campanhas como um representante do sistema. O eleitorado demonstrou, nas urnas, que está cansado dos partidos tradicionais, que não irão ao segundo turno pela primeira vez na história moderna.

Nenhum deles, no entanto, é um completo estranho à política. Mesmo nunca eleito a um cargo público, Macron foi ministro da Economia do atual governo socialista.

O presidente francês, François Hollande, declarou seu apoio ao centrista durante o dia, assim como outros políticos de esquerda e direita haviam feito na véspera.

Le Pen disse que Macron "é parte da velha guarda da política francesa, de uma maneira ou outra responsável por onde estamos hoje".

Mas ela tampouco está fora do sistema. Le Pen é membro do Parlamento Europeu e sua família está há décadas na política, apesar de nunca ter chegado a Presidência.

Um dos principais resultados do primeiro turno foi a derrota histórica do governista Partido Socialista, cujo candidato, Benoît Hamon, teve apenas 6,3% dos votos.

O ex-premiê socialista Manuel Valls declarou seu apoio a Macron e fez uma autocrítica diante do resultado.

"Estamos em uma fase de decomposição, demolição, desconstrução", afirmou. "Nós não fizemos o trabalho intelectual, ideológico ou político sobre o que é a esquerda e pagamos o preço."

O candidato conservador François Fillon, dos Republicanos, também admitiu a derrota e afirmou que não terá nenhum papel de liderança no futuro de seu partido.

Outrora favorito ao cargo, Fillon teve 20% dos votos, após vir à tona um escândalo de corrupção no qual ele está envolvido. 

(Fonte: Folha de S. Paulo)