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Metalúrgicos brasileiros e alemães voltam a se reunir em conferência em 2016

4ª Conferência Expressões da Globalização será na Alemanha e foi definida ao final da 3ª edição, na sexta (14), que reafirmou parceria solidária entre entidades sindicais dos dois países.

Publicado: 15 Novembro, 2014 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

 
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Metalúrgicos brasileiros e alemães voltarão a se reunir em 2016, na 4º Conferência “Expressões da Globalização”. O evento será na Alemanha e foi anunciado ao final da terceira edição, nesta sexta-feira (14), em Guarulhos (SP), que durante três dias reuniu cerca de 200 trabalhadores em multinacionais alemãs de suas matrizes e das filiais brasileiras.

As entidades promotoras avaliaram que a troca de experiências em atividades como essa aprofunda as relações solidárias entre o movimento sindical dos dois países, além de contribuir para a unificação de lutas e a valorização de redes sindicais e comitês mundiais de metalúrgicos em multinacionais.

A 3º Conferência teve como tema “Trabalhadores (as) frente à Crise Econômica, Política e Social - cinco anos depois", foi uma realização da Fundação Hans Böckler (FHB), organizada pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), em parceria com o Instituto Integrar e o IG Metall (o sindicato nacional dos metalúrgicos alemães). A primeira edição do evento foi feita no Brasil em 2009 e a segunda ocorreu na Alemanha, em 2012.

O presidente da CNM/CUT, Paulo Cayres, ressaltou a importância dessa cooperação e da solidariedade de classe entre a categoria metalúrgica dos dois países, que garantem a qualificação e o fortalecimento das ações sindicais para se contrapor à prática de exploração e repressão das empresas. “No Brasil, assim como em todo o mundo, sofremos ataques constantes aos nossos direitos, porque o capital tem suas redes ampliadas para além dos muros das fábricas. Há 12 anos no Brasil, a elite capitalista tenta minar os governos progressistas que a população tem escolhido democraticamente nas urnas, porque acha que só os representantes dela podem governar”, disse o sindicalista.

Crédito: Roberto Parizotti
Paulo CayresPaulo Cayres
Paulo Cayres (microfone) destacou importância da vitória de Dilma Rousseff

Por isso, na opinião dele, o resultado da última eleição foi uma vitória gigantesca da classe trabalhadora e dos movimentos sociais, diante de todos os ataques desferidos conta a presidenta Dilma Rousseff ao longo de seu mandato e durante o processo eleitoral. “Os trabalhadores mostraram que têm um projeto muito mais democrático, justo e inclusivo para o Brasil, que incomoda a direita, porque, para ela, trabalhadores não podem ter direitos, não podem viajar, não podem ter acesso às mesmas coisas que os ricos têm. É isso que está incomodando os capitalistas e que nos faz cada vez mais procurar mecanismos que nos fortaleçam enquanto classe e que reafirmem nosso principal princípio, que é a solidariedade entre os trabalhadores de todo mundo”, afirmou o presidente da CNM/CUT.
 

Crédito: Roberto Parizotti
Martin BMartin B
Martin Behrens (microfone) reafirmou relação solidária entre metalúrgicos dos dois países


Em sua intervenção final o diretor da FHB, Martin Behrens, lembrou da relação solidária entre metalúrgicos alemães e brasileiros, que este ano completou 30 anos e está cada vez mais profunda. “Ao longo desse tempo, temos visto o empenho do movimento sindical dos dois países para garantir a solidariedade entre nós e a busca por igualdade de direitos. E parcerias para viabilizar conferências como essas só aprofundam mais nossa união. Nossas redes são feitas por homens e mulheres e, mesmo com raízes profundas como as árvores, precisam ser regadas e adubadas. Por isso, a FHB vai realizar a 4ª Conferência em 2016, esperando os metalúrgicos brasileiros na Alemanha para mais uma rodada de debates sobre as nossas propostas para a ação sindical e para uma política industrial que garanta direitos e qualidade de vida aos trabalhadores e às sociedades dos dois países”, destacou Behrens.

A secretária da Mulher da CNM/CUT e diretora do Instituto Integrar, Marli Melo, assinalou que as conferências foram construídas para refletir sobre os impactos da crise financeira internacional nos trabalhadores. “Mas os motivos que nos move a continuar com a parceria é que, embora Brasil e Alemanha sejam diferentes, a classe trabalhadora é a mesma nos dois países e no mundo, lutando contra a exploração, a desigualdade e o direito de organização sindical. Se o capital não tem fronteiras, os trabalhadores também não têm. E os exemplos são as nossas redes sindicais e a conquista dos Acordos Marco Globais”, afirmou.

O secretário geral e de Relações Internacionais da CNM/CUT, João Cayres, agradeceu o apoio da Fundação Hans Böckler para a viabilização da 3ª Conferência e também ressaltou a importância da parceria para qualificar a ação sindical dos metalúrgicos e metalúrgicas brasileiras, particularmente nas multinacionais alemãs instaladas no país.

Crédito: Roberto Parizotti
João CayresJoão Cayres
João Cayres (microfone) fala durante o painel sobre relações internacionais

Relações internacionais
No último painel do evento (confira os demais nos links ao final desta matéria), foram debatidas as relações internacionais do movimento sindical metalúrgico dos dois países e apresentadas as principais linhas de ação da IndustriALL Global Union, a federação internacionais de trabalhadores na indústria. Para isso, o painel contou com a presença do secretário geral adjunto da entidade internacional, o brasileiro Fernando Lopes. A seu lado, no painel, estavam as dirigentes do IG Metall Angela Hidding e Angelica Jimenez-Romo, além de representantes das Comissões de Fábrica da Bosch (Gertrud Moll), da Volkswagen (Wolfgang Schultz) e da Basf (Fritz Hoffman).

Os sindicalistas alemães resgataram a importância da parceria histórica entre os metalúrgicos dos dois países, que este ano completa 30 anos, reafirmando que ela se contrapõe à ideia empresarial de que os trabalhadores devem seguir a lógica da concorrência entre as diferentes plantas. Todos enfatizaram que o que move a categoria metalúrgica é a construção da solidariedade de classe e a luta contra a exploração. Eles citaram vários exemplos dessa parceria, desde o apoio dos alemães às greves no ABC paulista na década de 1980 e as ações dos brasileiros em favor de lutas dos metalúrgicos naquele país, como contra as demissões na matriz da ThyssenKrupp. Hoffman relembrou também ações de solidariedade entre os trabalhadores químicos dos dois países.

Crédito: Roberto Parizotti
Painel sobre relações internacionais destacou solidariedadePainel sobre relações internacionais destacou solidariedade
Painel sobre relações internacionais destacou importância da solidariedade de classe


Angelica Jimenez ressaltou que, sem as ações solidárias das últimas três décadas, os quase 200 representantes da categoria no Brasil e na Alemanha não estariam reunidos nessa 3ª edição da Conferência. “A lógica neoliberal quer nos transformar em concorrentes, mas a lógica sindical nos transforma em parceiros solidários”, reforçou, listando exemplos de sucesso da parceria, como o apoio à construção das redes sindicais, à formação de trabalhadores (em especial os jovens metalúrgicos) e a conferências bilaterais para intercâmbio de informações.

O dirigente da IndustriALL, por sua vez, enumerou as bandeiras que movem a atuação da federação internacional em defesa dos 50 milhões de trabalhadores do ramo industrial que representa em todo o mundo. Para ele, o fortalecimento das entidades sindicais é uma dessas bandeiras primordiais, porque “sindicatos fortes influenciam a vida política das nações e contribuem para mudar as sociedades, a exemplo do que vem ocorrendo no Brasil nos últimos 12 anos”.

Além disso, Fernando Lopes – que já foi presidente da CNM/CUT no início dos anos 2000 – destacou a importância dos Acordos Marco Globais como instrumentos para se garantir o trabalho decente, outra bandeira da federação internacional. “A luta contra o trabalho precário perpassa toda a ação da IndustriALL. Infelizmente, em países como Bangladesh, as empresas violam os mais básicos direitos dos trabalhadores. Lá o salário dos trabalhadores na indústria têxtil, por exemplo, é de US$ 60 por mês”, afirmou, lembrando que a IndustriALL conseguiu uma importante vitória para combater o trabalho precário naquele e em outros países, com a assinatura de um AMG por 35 multinacionais do setor têxtil, que também vale para sua cadeia de fornecedores.

A defesa dos direitos sindicais e contra a perseguição de sindicalistas também está entre as bandeiras da IndustriALL. Lopes disse ainda que a entidade luta pelo desenvolvimento industrial sustentável, por meio de uma política construída por todos os atores sociais. “Mas tudo isso só pode se concretizar se tivermos sindicatos fortes e atuantes”, considerou.

O painel foi coordenado do por João Cayres, que lembrou a parceria com a IndustriALL, o IG Metall, a Fundação Friedrich Ebert e a DGB (central sindical alemã) para a formação sindical de trabalhadores na indústria na América Latina e Caribe, particularmente os jovens. “É muito gratificante ver os resultados desse trabalho, que amplia a nossa política solidária de lutar pela igualdade, inclusive de gênero, em todo o mundo”, concluiu.

Crédito: Roberto Parizotti
Grupo de participantes da 3ª ConferênciaGrupo de participantes da 3ª Conferência
Grupo de participantes da 3ª Conferência Expressões da Globalização

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(Fonte: Solange do Espírito Santo – Assessoria de Imprensa da CNM/CUT)