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Metalúrgicos da CUT entregam declaração de apoio ao projeto Gripen ao presidente Lula

Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (5), em São Bernardo do Campo, os presidentes da CNM/CUT, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, IF Metall (Suécia) e o prefeito Luiz Marinho, formalizaram apoio para compra do caça sueco. Documento será entregue a Lula nos próximos dias

Publicado: 05 Abril, 2010 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Na tarde desta segunda-feira (5), os presidentes da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, Carlos Grana, do sindicato metalúrgico sueco IF Metall, Stefan Löfven, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre e o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, reuniram a imprensa na sede da CNM/CUT, para anunciar durante entrevista coletiva, o apoio das entidades ao Projeto Gripen, que disputa a venda de caças para a Força Aérea Brasileira com concorrentes da França e dos Estados Unidos.

Declaração dos metalúrgicos em PDF: clique aqui

O presidente da CNM/CUT afirmou que, ao contrário dos outros dois projetos, a proposta sueca além de contemplar a transferência de tecnologia de ponta para o Brasil e a geração de empregos para o setor, "assume compromissos sociais que se tornarão um marco internacional de respeito às normas trabalhistas e à OIT (Organização Internacional do Trabalho), como a garantia de organização sindical nas fábricas que vão produzir os caças no Brasil e na Suécia",

Ao toso, os caças suecos vão gerar 1,2 mil empregos somente na região do ABC. Em todo o País, serão 28 mil postos de trabalho (6 mil diretos e 22 indiretos), caso o governo federal escolha o projeto Gripen, da sueca Saab, para renovar a frota da Força Aérea Brasileira.

Valter Bittencourt

Stefan Löfven, Luiz Marinho, Carlos Grana e Sérgio Nobre, durante entrevista

Pata Sérgio Nobre, o que leva os metalúrgicos a apoiar o Projeto Gripen, é prioritariamente a questão do emprego. "A luta sindical baseia-se na defesa dos empregos. A partir do momento em que temos uma proposta que contempla este sentido e outras duas que não, vamos apoiar quem de fato quer investir no país e não apenas exportar".

Em sua fala, o presidente do IF Metall lembrou que se o projeto sueco for o vencedor da concorrência, a Saab incluirá 100% de transferência da tecnologia empregada e ainda terá todo o financiamento feito pelo governo sueco. "Cerca de 40% do desenvolvimento da aeronave seria de responsabilidade da indústria brasileira. Mas por outro lado, haverá acesso irrestrito para participação nos 60% restantes", afirmou.

Segundo Stefan, com o projeto Gripen, o Brasil passará a ser o 7° país do mundo a desenvolver essa aeronave (além dos cinco países-membros do Conselho de Segurança da ONU e a Suécia).

Valter Bittencourt

Stefan Löfven conversa com jornalistas sobre o apoio dos metaúrgicos ao Gripen

Já o prefeito Luiz Marinho falou sobre sua experiência na Suécia, quando foi à convite da Saab, até a fabrica que produz os caças e pode também voar na aeronave. "Ao contrário do que dizem por aí, que o avião só existe no papel, eu pude constatar pessoalmente que ele existe, ao voar nele. Segundo os maiores especialistas no assunto aqui no Brasil, da própria FAB, o Gripen é a melhor opção entre os três concorrentes", finalizou.

No fim da coletiva, os três sindicalistas e o prefeito assinaram a declaração conjunta (leia abaixo) e afirmaram que levarão o documento pessoalmente para ser entregue ao presidente Lula nos próximos dias.

Confira a íntegra do documento

05 de abril de 2010

DECLARAÇÃO CONJUNTA DAS REPRESENTAÇÕES SINDICAIS METALÚRGICAS DO BRASIL E DA SUÉCIA SOBRE A PROPOSTA DE PARCERIA ENTRE AMBOS OS PAÍSES PARA O DESENVOLVIMENTO, PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO COMPARTILHADA DO AVIÃO SUPERSÔNICO GRIPEN

Reunidos no dia 05 de abril de 2010, na cidade de São Bernardo do Campo, Estado de São Paulo, Brasil, nós, dirigentes sindicais do ramo metalúrgico de ambos os países - aqui representados pelo Presidente do IF Metall (sindicato metalúrgico da Suécia), Sr. Stefan Löfven; pelo Presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CNM/CUT), Sr. Carlos Alberto Grana; e pelo Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sr. Sérgio Nobre - decidimos pela conveniência desta declaração conjunta a respeito da possível parceria entre Brasil e Suécia em torno da elaboração do projeto, desenvolvimento, fabricação e comercialização do avião supersônico Gripen.

Por meio do Programa F-X2, que é uma licitação internacional que tem como objetivo reequipar o Brasil com aviões supersônicos modernos, o país está prestes a decidir por qual dos projetos de aeronaves deverá optar com vistas a alcançar seus objetivos militares, geopolíticos, operacionais, econômicos e tecnológicos. A escolha é de competência do Governo Brasileiro, que, por sua vez, será seguramente assessorado por suas instituições ligadas à área da Defesa. Sendo este, porém, tema também relacionado à estratégia de desenvolvimento econômico e social de ambos os países, que pode ter acentuados efeitos sobre a estrutura produtiva, o emprego e as relações de trabalho, entendemos que nos cabe explicitar publicamente nossa posição sobre a questão em tela, de forma que nossa perspectiva seja também levada em conta neste momento da decisão.

O custo de aquisição e de manutenção das aeronaves deve ser levado em conta. A aeronave sueca é a mais competitiva nestes quesitos. Mas, para nós, do movimento sindical sueco e brasileiro, os pontos fortes da proposta de parceria apresentada pela Suécia ao Brasil são: a elaboração e desenvolvimento tecnológico conjunto do projeto; a parceria de longo prazo para a busca de novos mercados de exportação e; a participação de segmentos sociais importantes relacionados ao assunto, como é o caso das instituições de pesquisa, desenvolvimento e inovação na área da aviação, de outras esferas de governo (Governos Estaduais e Prefeituras), do Parlamento, do empresariado, das universidades e dos sindicatos. O mérito da proposta da empresa sueca Saab sobressai ainda mais, quando esta é comparada com as "caixas pretas" que até o momento são os conteúdos dos demais projetos - o Rafale da empresa francesa Dassault e o F-18 Hornet da companhia americana Boeing - no que se refere aos itens mencionados.

Cabe realçar, ainda, que a Saab e o governo sueco se empenharam em envolver as organizações sindicais de ambos os países no diálogo sobre o projeto.

Consideramos que a proposta apresentada pela Suécia ao Brasil, e que nossas entidades puderam conhecer detalhadamente, não se resume a uma evasiva intenção de "transferência tecnológica". Em primeiro lugar, a proposta assegura a efetiva transferência de segmentos da cadeia produtiva, resultando que o Brasil produza peças, subconjuntos e conjuntos que irão compor a aeronave. Ela também aponta para a oportunidade de desenvolvimento conjunto de uma nova geração de aeronaves, que envolverá, em uma primeira etapa, o treinamento de pilotos, técnicos e engenheiros brasileiros, por intermédio de intercâmbios com suas contrapartes na Suécia. Em seguida, o desenvolvimento compartilhado passará pela construção da aeronave com a participação, lado a lado, de trabalhadores suecos e brasileiros no processo produtivo (learning by doing) que ocorrerá na Suécia e no Brasil. Como resultado, caso o Brasil opte pelo acordo com a Suécia, o país será o sexto país do mundo a estar apto a produzir seu próprio avião supersônico.

Igualmente importante, para que este desenvolvimento conjunto aconteça na prática, é o compromisso do apoio por parte do governo e do setor não-governamental sueco para a constituição no Brasil de novos clusters de produção de equipamentos de defesa, bem como de novos parques tecnológicos centrados na temática da defesa, articulados à expansão daqueles atualmente já existentes. Por fim, verificamos que o desenvolvimento tecnológico conjunto é assegurado na própria forma como está programado o processo de fabricação: a aeronave Gripen somente poderá ser completada nas linhas de montagens da Suécia e do Brasil com a incorporação de determinadas partes e componentes produzidos exclusivamente no país parceiro.

Destacamos também que a tecnologia adquirida pela engenharia brasileira na área militar deverá se transbordar para a área da aviação civil. A nosso ver, este é um item que pode ser aprofundado nas negociações desenvolvidas entre Brasil e Suécia.

Este cenário de parceria no que tange à elaboração, produção e comercialização de produto de alto valor agregado, como é o caso de aeronaves supersônicas, garante perspectivas otimistas no curto, médio e longo prazo, em termos da geração de empregos e qualificação profissional. No Brasil, estima-se que poderão ser criados imediatamente cerca de 6.000 postos de trabalhos na cadeia produtora e 22.000, na área de tecnologia. Na Suécia, a geração de empregos deverá ocorrer, sobretudo, no médio e no longo prazo.

Tão importante quanto o surgimento de novos postos de trabalho será a qualidade destes empregos, já que este setor exige escolarização, capacitação e treinamento profissional. A formação profissional requisitada para atender o projeto abrange pelo menos três áreas de engenharia: produção, produto e aviônica (radares, telemetria, sistemas GPS e outros). Certamente, no caso brasileiro, haverá a necessidade da participação das universidades e das escolas técnicas, para que esta demanda de pessoal seja satisfatoriamente atendida.

Acrescente-se ainda que a escolha do projeto sueco abre a possibilidade de potencialização da parceria entre os países em outras áreas estratégicas, como o desenvolvimento de novas fontes de energia sustentável.

Queremos registrar que, paralelamente as negociações em nível dos Estados Nacionais quanto à escolha do avião supersônico sueco pelo Brasil, nós, as entidades sindicais dos dois países, cobraremos das empresas envolvidas com o projeto Gripen a negociação em torno de um acordo marco global (International Framework Agreement) nas relações de trabalho, seja no âmbito das empresas signatárias (filiais e subsidiárias) seja no que se refere à cadeia fornecedora dessas empresas, tanto na Suécia quanto no Brasil. Este acordo poderá servir de nova referência mundial no que diz respeito ao compromisso com a implementação da Agenda do Trabalho Decente conforme as normas propugnadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) - normas estas que se alicerçam em três pilares: igualdade, liberdade e segurança no trabalho.

Ressalve-se, por fim, que entendemos que a parceria proposta entre Suécia e Brasil para o desenvolvimento, fabricação e comercialização de aviões de caça supersônicos não é fator de acirramento da corrida armamentista. A questão da produção de armamentos militares deve ser encarada realisticamente a partir dos interesses de ambos os Estados Nacionais em face da suas respectivas estratégias geopolíticas de defesa e proteção. Neste sentido, a proposta de parceria uma vez mais se fortalece na medida em que os dois países se caracterizam pelo não alinhamento e pelas boas relações diplomáticas com o resto do mundo.

Este documento conta com o apoio do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, ex-presidente da CUT e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS METALÚRGICOS DA CUT - CARLOS GRANA

IF METALL - STEFAN LÖFVEN

SINDICATO DOS METALÚRGICOS DO ABC - SÉRGIO NOBRE

PREFEITO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO - LUIZ MARINHO

Valter Bittencourt - Imprensa CNM/CUT