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Mexicanos denunciam precarização do trabalho em seminário internacional

Evento, que aconteceu na sede da CNM/CUT reuniu metalúrgicos de quatro países, que também demonstraram preocupação com a crise política no Brasil e se posicionaram contra a tentativa de golpe.

Publicado: 13 Abril, 2016 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: CNM/CUT
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Sindicalistas dos quatros países dizem não ao golpe

Baixos salários, jornada de trabalho de 50 horas, terceirização sem limites, repressão aos trabalhadores e violações da Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que diz respeito à liberdade sindical e à proteção do direito sindical. Essas foram algumas das denúncias dos metalúrgicos mexicanos durante o Seminário de Intercâmbio entre Trabalhadores na Indústria Automotiva. O encontro, encerrado nesta quarta-feira (13), reuniu representantes da Alemanha, Argentina, Brasil e México. A atividade começou na segunda-feira (11) e foi realizada na sede da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), em São Bernardo do Campo (leia mais aqui).
 
O encontro foi promovido pelo IG Metall (Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha), em parceria com a CNM/CUT, a IndustriALL (federação internacional dos trabalhadores na indústria), e sindicatos de metalúrgicos da Argentina e do México, com apoio da Fundação Friedrich Ebert (FES).

Crédito: CNM/CUT
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Álvaro Lopez (em pé, à dir.) denuncia práticas antissindicais no México 


O representante do Sitiaudi (Sindicato Independente dos Trabalhadores da Audi do México), Álvaro Lopez,  explicou os contratos de proteção, controlados e negociados pela empresa com sindicatos fantasmas. “São contratos fictícios e sem o conhecimento ou consentimento dos trabalhadores. Não temos direito à greve, sofremos violência em caso de organização sindical dentro das fábricas e o governo corrputo do México não garante os direitos dos trabalhadores”, denunciou.                                                           

Direto de Genebra, na Suíça, por teleconferência, Suzanna Miller, representante da IndustriALL, contou que desde 2009 a situação dos trabalhadores mexicanos é denunciada na Conferência Internacional da OIT. “Este é o sétimo ano que a IndustriALL luta na Organização Internacional do Trabalho pela liberdade sindical no México. Infelizmente, pouco se avançou porque os governantes e as empresas manipulam informações e os trabalhadores sofrem diversos tipos de retaliações”, disse.

Já o presidente do IG Metall Wolfsburg da Alemanha, Hartwig Erb, destacou que a situação dos mexicanos pode se tornar realidade num futuro próximo nos demais países, caso os trabalhadores não promovam ações solidárias internacionais. “A Europa está vivendo um processo de terceirização em suas relações de trabalho. O mundo está vivendo a 'mexicanização' das relações trabalhistas. É uma luta que devemos levar nos nossos sindicatos porque o tempo de assistir já passou. Agora efetivamente é hora de agir ”, afirmou.

Para o dirigente Raúl Amthieu, da Smata (Sindicato dos Mecânicos e Afins do Transporte Automotor da Argentina), é preciso realizar uma ação conjunta e coordenada para pressionar as empresas multinacionais a cumprirem os Acordos Marco Globais (AMGs). “São diretrizes que colocam condições básicas de trabalho e liberdade sindical. A
implementação desses acordos depende da nossa organização local e no mundo. Precisamos fortalecer o trabalho dos sindicatos com o trabalho de rede sindical”, avaliou.
 

Crédito: CNM/CUT
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Não vai ter golpe: alemães, argentinos e mexicanos reforçam luta de brasileiros

Não vai ter golpe
Durante a atividade, os dirigentes brasileiros alertaram os estrangeiros sobre a tentativa da direita e da imprensa de derrubar o governo da presidenta Dilma Rousseff, eleita por 54,4 milhões de brasileiros. 

O presidente da CNM/CUT, Paulo Cayres, dstacou que é preciso enfrentar o golpe alimentado por veículos de comunicação que estimulam o discurso do ódio. “O Brasil viveu 500 anos com uma direita que excluía os pobres, as mulheres e negros. Desde 2003, a elite não aceita dividir a universidade, postos de trabalho e aeroportos com os mais pobres”, contou.  “Não se trata de defender partido A ou B, mas sim de defender a democracia. Os brasileiros que querem o impeachment desrespeitam a luta contra a ditadura, que aconteceu a partir do golpe de 1964”, completou.

As delegações dos três países disseram que têm acompanhado com preocupação a crise política brasileira e foram unânimes em defender a democracia e repudiar a tentativa de golpe contra o mandato de Dilma. "É preciso defender sempre governos de esquerda, em qualquer parte do mundo, porque eles se preocupam com os trabalhadores e os direitos das minorias. Por isso, apoiamos a luta dos brasileiros contra o golpe", assinalou Eduardo Paladin, dirigente da Unión Obrera Metalurgica (UOM).
 

Crédito: CNM/CUT
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Situação dos metalúrgicos dos quatro países foi discutida no evento 

Panorama sindical e político
No primeiro dia do encontro, os participantes apresentaram um panorama das questões políticas, econômicas e sindicais nos quatro países.

A primeira mesa de debate contou com a presença do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, que fez uma análise de conjuntura política. “Temos no Congresso 55 projetos de lei que flexibilizam os direitos trabalhistas conquistados com muita luta. Os empresários querem transformar o Brasil em um novo México, com baixos salários, poucos direitos trabalhistas e sindicatos enfraquecidos”, avaliou.

Já o argentino Pablo Molina, da UOM, destacou os ataques da mídia contra o movimento sindical em seu país: “A Argentina está com sua economia estagnada, com aumento do desemprego, desvalorização da moeda e sem controle de importação. Mas os jornais e canais de TV atacam os sindicatos como baderneiros enquanto lutamos pelo equilíbrio da relação entre capital e trabalho”. 

Em sua intervenção, o secretário de relações internacionais do IG Metall, Flavio Benites, falou sobre a situação da Volkswagen alemã após a fraude com a emissão de poluentes. “Já são mais de 1,2 mil trabalhadores terceirizados demitidos na empresa para arcar com os custos deste escândalo. Mais uma vez o capital coloca em cima dos trabalhadores o problema gerado por ele. E a cooperação internacional neste momento é fundamental para fomentar a luta dos trabalhadores na Alemanha”, finalizou.

Crédito: Divulgação
Em Detroit, Comitê Mundial dos Trabalhadores na FordEm Detroit, Comitê Mundial dos Trabalhadores na Ford
Em Detroit, Comitê Mundial dos Trabalhadores na Ford também debateu situação mexicana


Comitê Mundial dos Trabalhadores na Ford
A preocupação com a "mexicanização" das condições de trabalho e salários também foi abordada no encontro do Comitê Mundial dos Trabalhadores na Ford, que aconteceu entre os últimos dias 6 e 8, em Detroit (EUA). "O México está sendo o destino das grandes montadoras e a Ford também anunciou a construção de uma nova planta naquele país. E a produção seria toda voltada à exportação. É preocupante porque lá se paga salários muito baixos, a organização sindical é atacada, e o foco nas exportações tira a possibilidade de se investir na produção e geração de empregos nos demais países",  explicou o secretário geral da CUT/SP e diretor da CNM/CUT, João Cayres, que é trabalhador na Ford do ABC e integra o Comitê.
 

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Alessandro, Bob King e João CayresAlessandro, Bob King e João Cayres
Alessandro, Bob King e João Cayres

Cayres esteve em Detroit acompanhado de Alessandro Silva, metalúrgico na Ford de Taubaté. Neste encontro anual do Comitê, 13 países de todos os continentes foram representados e os trabalhadores resolveram empreender uma ação solidária aos metalúrgicos mexicanos, para que eles consigam fortalecer seus sindicatos e tentar conquistar direitos já assegurados em outras plantas da montadora.

Ao longo dos três dias de reunião, representantes da empresa e trabalhadores discutiram os projetos da companhia. "A empresa demonstrou interesse em apmpliar a atuação com foco na mobilidade urbana, pensando em produzir bicicletas e trens, por exemplo", contou o diretor da CNM/CUT.

Segundo Cayres, foram renovados também o Acordo Marco Global da Ford e o reconhecimento da Rede Sindical Internacional dos Trabalhadores na Ford. 

"Pela primeira vez, o Comitê recebeu a visita do diretor-geral da Ford, Bill Ford, que é bisneto do fundador da companhia", contou o secretário da CUT/SP. "O ex-presidente da UAW (United Auto Worker, o sindicato dos metalúrgicos nas montadoras dos EUA), Bob King, também esteve conosco", completou, assinalando que King teve um papel importante na viabilização da Rede Sindical na Ford.

(Fonte: Shayane Servilha - Assessoria de Imprensa da CNM/CUT)