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Mulheres lideram atos contra Bolsonaro no Brasil e no mundo

As mobilizações #EleNão foram realizadas em todos os estados brasileiros e em diversos países.

Publicado: 01 Outubro, 2018 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

 Reuters/Alexandre Schneider
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Largo da Batata (SP)

Mais de um milhão de pessoas participaram das mobilizações contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) neste sábado (29). Os atos da campanha #EleNão foram organizados em mais de 260 cidades brasileiras. O cálculo, elaborado pelo Brasil de Fato, tem como base as informações fornecidas pelas organizações dos atos.

As manifestações foram organizadas por centenas de movimentos populares do campo e da cidade e tiveram uma participação expressiva nas principais capitais do país.

Confira a cobertura completa dos atos #EleNão
A campanha #EleNão ganhou expressão logo que as pesquisas de intenção de voto mostraram o candidato de extrema-direita à frente da disputa eleitoral para a Presidência da República. Mulheres de todo o país iniciaram uma série de mobilizações nas redes sociais contra o fascismo e o discurso de ódio estimulados pelo candidato.

Na medida em que as manifestações cresciam, o líder das intenções de voto também viu crescer sua taxa de rejeição, que chegou a 46%, segundo a última pesquisa divulgada pelo DataFolha nesta sexta-feira (28).

Os cartazes, lambes, pirulitos e faixas, presentes nas centenas de manifestações, expressaram o repúdio ao “coiso", como ficou conhecido o candidato do PSL. E também trouxeram pautas propositivas, como: a defesa da saúde pública e o combate à violência contra as mulheres, ao racismo e à lgbtfobia. Além da defesa dos direitos trabalhistas.

Alexania Rossato, liderança do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), esteve presente no protesto no Rio de Janeiro. Segundo a organização, o ato contou com a participação de 200 mil pessoas.

"Estamos nas ruas no Rio de Janeiro e em todo o Brasil para dizer #EleNão e também para dizer não à privatização dos nossos recursos naturais e das nossas empresas estatais. Nos manifestamos contra todos os retrocessos que tivemos durante estes dois anos com Temer. As propostas de Bolsonaro são exatamente as mesmas do atual governo".

Crédito: Divulgação
Rio de Janeiro Rio de Janeiro
Rio de Janeiro 

Em São Paulo, o ato #EleNão reuniu cerca de 500 mil pessoas e ocupou todo o Largo da Batata, na zona oeste da capital, além das duas faixas da Avenida Faria Lima.

As manifestantes entoam a palavra de ordem #EleNão e pediram respeito aos direitos das mulheres, dos negros e dos LGBTIs. Inúmeros cartazes criticaram o projeto neoliberal de Bolsonaro e as medidas postas em prática pelo presidente Michel Temer (MDB), como a reforma trabalhista e a EC 95, que ficou conhecida como a PEC do Teto dos Gastos.

A estudante Tainá saiu do ABC Paulista, região metropolitana de São Paulo, para participar da marcha na capital. "Ele [Bolsonaro] representa um modelo de sociedade que nós não toleramos mais. Estamos aqui negando a candidatura dele”, afirmou. Ela disse ainda que o ato é uma forma de gritar contra o extermínio das minorias e das mulheres.

A menção ao retrocesso que o candidato do PSL representa foi uma constante nos atos realizados pelo Brasil e pelo mundo. Nayara Martins, da Secretaria Nacional de Juventude da União Nacional por Moradia Popular, participou do ato #EleNão em Belo Horizonte (MG), que reuniu cerca de 100 mil pessoas.

"Eu digo 'Ele Não' por todas as mulheres que são mães solteiras, que são pobres e que precisam de moradia. É preciso que a gente se una, porque somos a maior parte deste país", disse a militante.

Durante a campanha de Bolsonaro, o General Mourão, vice-presidente na chapa do candidato de extrema-direita, afirmou que famílias compostas por mãe e avó são "fábricas de desajustados".

Elisa Maria, da Marcha Mundial das Mulheres, participou do ato em Recife, onde 250 mil pessoas saíram às ruas. Ela avaliou que "Bolsonaro é a continuidade de Temer, mas nos moldes de uma ditadura agressiva. Queremos uma economia voltada para os mais pobres e não para os mais ricos", concluiu a feminista.

Marielle Vive
A vereadora do PSOL e ativista de direitos humanos Marielle Franco, morta há 6 meses e meio, foi lembrada em muitos dos atos realizados pelo país.

A época do assassinato, Bolsonaro foi o único presidenciável que não se pronunciou a respeito do crime. Carla Ambrósio, do coletivo Mulheres Negras contra o Bolsonaro, afirmou que Marielle representa o dia a dia de resistência das mulheres brasileiras, principalmente das negras e periféricas.

“Ela, como vereadora, lutou para que todo o povo periférico, principalmente da Maré, tivesse condições dignas de moradia, tivesse condições dignas para viver, e não só para sobreviver. Quando assassinaram Marielle, eles acharam que iriam nos calar e nos diminuir. Ao contrário, nós ganhamos mais força", afirmou.

Resistência sem ódio
Apesar da gravidade da conjuntura, o clima dos atos foi de animação. Várias cidades contaram com blocos de carnaval, batucadas e shows. Em Salvador (BA), as 50 mil pessoas que participaram do ato assistiram ao show de Daniela Mercury, que afirmou: “a gente não pode aceitar uma pessoa que traga ódio e violência para o Brasil".

No Rio de Janeiro, participaram mais de 90 blocos de carnaval. "Isso mostra a potência de uma geração que não vai aceitar o conservadorismo reinando em nosso país", disse MaíraMarinho, liderança do Levante Popular da Juventude e integrante da organização do ato.

O ato em Recife (PE) saiu da Praça do Derby, rebatizada de Praça da Democracia pelos movimentos populares desde o golpe de 2016. Ao longo de todo o caminho, os manifestantes entoaram palavras de ordem e paródias contra Jair Bolsonaro. Vários blocos e troças carnavalescas também se juntaram à mobilização.

A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) participou do ato em Brasília, que reuniu mais de 30 mil pessoas. "O parlamento só não basta. Ele é apenas um espaço para fazer valer e deixar subir às tribunas a força da população. Todas as vitórias que tivemos foram conquistadas nas ruas, por meio da parceria entre a institucionalidade e o movimento concreto", afirmou a deputada.

Mulheres do movimento "Mães pela diversidade" também saíram às ruas em Brasília. É o caso da funcionária pública Ana Valéria Monção. Mesmo recém-operada, ela participou do protesto. "O avanço do fascismo é algo aterrorizante e inaceitável. Não quero esse mundo para eles [filhos]", afirmou.

Um ato mundial

Dezenas de atos da campanha #EleNão foram realizados em vários países da América, África, Europa e Oceania. Na Europa os atos ocorreram na Alemanha (Berlim), na Holanda (Amsterdã e Haia), na Irlanda (Dublin), na Suécia (Malmö), na Itália (Milão), na França (Paris e Lyon), na Espanha (Santiago de Compostela e Barcelona), em Portugal (Cidade do Porto, Coimbra e Lisboa), na Noruega (Oslo) e na Dinamarca (Aahrus).

Crédito: Divulgação
Ato em Paris Ato em Paris
Ato em Paris 

Na América, os atos foram realizados na Argentina (Buenos Aires e Rosário), nos Estados Unidos (Atlanta, Boston e Nova Iorque), no Canadá (Quebeque) e na República Dominicana. O continente africano foi representado Pela África do Sul (Cidade do Cabo) e a Oceania pela Austrália (Melbourne e Sydney).

(Fonte: Brasil de Fato)