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‘Não há debate sobre política industrial em SP’, diz novo secretário geral da CUT no Estado

Em entrevista, o metalúrgico João Cayres avalia desafios da direção eleita (foto) e a necessidade de ampliar articulação para debater modelo alternativo para o governo do Estado.

Publicado: 04 Setembro, 2015 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

O movimento sindical precisa cobrar do governo do Estado de São Paulo que estabeleça uma política industrial e ações mais efetivas tanto no que se refere aos direitos do funcionalismo público quanto para estimular o desenvolvimento de cidades menores. A avaliação é de João Cayres, metalúrgico na Ford de São Bernardo do Campo (SP), que acabou de assumir o cargo de secretário geral da CUT-SP.

Cayres é secretário geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT) e membro do Comitê Executivo da IndustriAll Global Union (federação internacional dos trabalhadores na indústria). Foi eleito para a direção da Central na última sexta-feira (28), no 14º Congresso Estadual da CUT/SP, que aconteceu em Águas de Lindóia, no interior do Estado.

Nesta entrevista, João Cayres fala dos desafios e das propostas de ação que a nova direção da Central terá nos quatro anos de mandato.
 

Crédito: Divulgação
João CayresJoão Cayres
João Cayres foi eleito secretário geral da CUT/SP

São Paulo é considerado o Estado mais rico do país e é governado por um modelo neoliberal há mais de 20 anos. Qual será o maior desafio neste mandato da CUT/SP?
João Cayres – São Paulo tem muitas contradições e desigualdades. Há esse discurso de que é o Estado mais rico do Brasil. Mas, depois da Bahia, é o segundo Estado que tem mais pessoas acessando o Programa Bolsa Família. Um mapa produzido pela Fundação Seade [Sistema Estadual de Análise de Dados] mostra que São Paulo é rico para poucos. Tirando municípios do ABC e alguns da Grande São Paulo, Taubaté, Sorocaba, São José dos Campos, Campinas e Ribeirão Preto, o restante do Estado tem cidades pobres. O nosso grande desafio é tentar fomentar os debates locais no que se refere à organização sindical, mas também ao desenvolvimento social, através do trabalho nas subsedes da CUT. Muitas discussões são feitas só na Capital. A ideia é também fazer estes debates no interior. Todo mundo fala que São Paulo era a locomotiva do País. O que temos percebido é que antes o que acontecia com São Paulo, acontecia com o Brasil. Se São Paulo caía, o país caía. Hoje, acontece o contrário: é o Brasil que muda São Paulo, mas em uma proporção inversa. No primeiro semestre, o Brasil caiu 2% e São Paulo caiu 4%, mas, em compensação, o Nordeste e Centro-Oeste estão crescendo. E o Estado de São Paulo, que deveria ser o propulsor da economia, não faz nada.

Isso também diz respeito ao ramo industrial?
João Cayres – Sim, também. Não há um debate sobre política industrial no governo de São Paulo. A maior quantidade de petróleo do pré-sal está de frente para o oceano paulista e não existe nenhuma política energética ou política voltada para o petróleo e gás no Estado. O governo de São Paulo sempre joga culpa e a responsabilidade no governo federal, mas não faz a sua parte. Assim, um dos grandes desafios da CUT/SP é mostrar que este modelo instalado em São Paulo está acabando com o Estado.

Do ponto de vista da organização sindical, quais serão as principais lutas da CUT no Estado?
João Cayres –
Acredito que fazer a discussão sobre o pré-sal é muito importante. Um dos grandes motes para este mandato é o Plano Nacional da Educação. Neste Plano, é possível discutir a questão industrial, a partir da destinação dos royalties do petróleo para a educação. Por isso, seria interessante fazer dialogar com a sociedade sobre o Plano Nacional de Educação, fazendo um link com a questão industrial. Temos um governo do Estado que não conversa com os sindicatos nem com as organizações sociais. Por isso, é preciso que a gente crie condições para que, mesmo sendo de direita, este governo venha para a mesa com os movimentos sindical e social. Temos que articular ainda mais a CUT/SP com os movimentos civis e com a sociedade organizada para sermos recebidos pelo governador e seus secretários.

No que diz respeito à organização do ramo industrial, é o momento de articular o Macrossetor da Indústria (MSI) da CUT no estado? Que pauta comum poderia ser levada ao governo do Estado?
João Cayres –
Em nível nacional nós conseguimos articular as Confederações cutistas do ramo, mas nos Estados ainda é preciso uma organização maior. Avalio que uma das tarefas é organizar o Macrossetor no Estado. Temos a vantagem que, dos cinco setores do MSI, quatro presidentes de Confederações são de São Paulo: Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ), Confederação Nacional dos Trabalhadores no Vestuário (CNTV) e Confederação dos Trabalhadores na Construção (Conticom). Só o presidente da Confederação dos Trabalhadores na Alimentação (Contac) não é daqui. Assim, podemos aproveitar isso e o fato de que as sedes das confederações também serem em São Paulo para articular o Macrossetor no aqui. Por meio de seus presidentes, podemos articular ações com as federações e sindicatos para podermos pensar numa política industrial para o Estado. E temos que divulgar nosso projeto em todo Estado para que o governador passe a nos ouvir.

Como a nova direção pretende se articular com os movimentos sociais para divulgação de projetos da CUT-SP?
João Cayres – Já há um grupo que se reúne semanalmente com os movimentos sociais do Estado. A ideia é intensificar esta parceria. O intuito não é ficar apenas em reuniões, mas sim produzir propostas políticas para que a gente dispute um modelo alternativo para São Paulo. Hoje, por exemplo, estamos vendo que algumas políticas municipais da Capital podem ser referência para o governo do Estado.

O que você leva de experiência da Secretaria Geral da CNM/CUT para a Secretaria Geral da CUT São Paulo?
João Cayres –
Dentro da Confederação, há uma diversidade grande de sindicatos, com cultura, pessoas e problemas diferentes. Aprendi muito com esta diversidade e as dificuldades existentes nas mais diversas regiões. Além disso, a experiência das redes sindicais fez a gente compreender e ter contato com pessoas de outras centrais e outros ramos. Isso fortalece muito a atuação. Dentro da CUT/SP, temos uma quantidade muito maior de sindicatos e de categorias muito diferentes. E por isso será uma experiência totalmente nova. Pretendo dialogar bastante e visitar os sindicatos para conhecer os dirigentes e a realidade de cada setor. A ideia é levar o pensamento cutista para as bases. É preciso andar o Estado inteiro e fazer os debates importantes para a classe trabalhadora, inclusive sobre a política brasileira.

(Fonte: Assessoria de imprensa da CNM/CUT)

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