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'Não queremos mais democracia com racismo, com machismo ou com homofobia', diz secretária da CNM

Publicado: 20 Maio, 2019 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Adonis Guerra
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 Mesa de abertura contou com presença do Coletivo de Igualdade Racial da CNM/CUT

Na tarde desta segunda-feira (20) o debate no 10º Congresso da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT) foi sobre o tema "Por um estado democrático de direito, contra o genocídio da população negra”, durante a 1ª Conferência Nacional de Igualdade Racial - Marielle Franco.

A secretária de Igualdade Racial da Confederação, Christiane Aparecida dos Santos, destacou o tema da democracia como fundamental no debate sobre o racismo.

"Não tem como falar em democracia sem falar da questão racial. Como falar de democracia se tem uma parcela da sociedade que passa fome e com a população negra sendo assassinada pelo Estado?”, questionou a dirigente.

Para ela, o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, é o aval para que os policiais possam matar e todos sabem quem serão as vítimas: o povo negro. "Não queremos mais democracia com racismo, com machismo ou com homofobia’, completou Christiane.
 

Crédito: Adonis Guerra
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Christiane: Democracia é fundamental para debater racismo 

O presidente da CNM/CUT, Paulo Cayres, o Paulão, afirmou que a luta histórica dos negros e negras pela libertação de um processo escravista não pode ser imputado a uma princesa branca. "O fim da escravidão sempre foi e será o resultado da luta nos quilombos que tentam até hoje apagar. O povo negro não fez nada para receber tamanha opressão que foi imposta a ele”, disse.

O presidente da Confederação avaliou positivamente a criação do Coletivo de Igualdade Racial, que também integrou a mesa de abertura da 1ª Conferência, e o papel essencial ao levar para os metalúrgicos e metalúrgicas de todo o País o debate sobre o racismo e a luta pela igualdade racial no Brasil.

Capitalismo racista: Os fantasmas da escravidão continuam assombrando
O professor Deivison Mendes Faustino Nkosi, da Universidade Federal de São Paulo, elencou três tópicos para o debate sobre a questão racial: Capitalismo e racismo, o racismo diante das transformações no processo produtivo e o combate ao racismo no contexto da luta de classes.

"Não dá pra falar de luta de classes sem olhar o racismo e a importância do racismo para o capitalismo”, defendeu.

Segundo ele, a natureza contraditória do capitalismo, que propõe uma igualdade formal (expressa juridicamente) e uma liberdade (para vender a sua força de trabalho), não foi suficiente para dar conta das desigualdades raciais. 

"Isso não aconteceu. Se é um sistema da igualdade como o racismo pode permanecer ao longo do sistema?”, questionou.

Para Deivison, a resposta está na teoria de Karl Marx, onde o pensador define a liberdade formal, mas não substancial do capitalismo e a igualdade só interessa aos trabalhadores.

O professor afirma que o capitalismo só chegou por meio da violência, a partir da escravidão e a escravidão só deu certo pelo racismo, por meio de um discurso de inferiorização ‘natural’ do povo negro, incentivado pela burguesia e depois por um racismo científico.

“Para entender o racismo é preciso analisar cada momento do capitalismo e a luta de classes não se separa do racismo, que ganha novas roupagens para manter o sistema”, afirmou.

Crédito: Adonis Guerra
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Deivison: para entender racismo é preciso analisar cada momento do capitalismo 

Deivison destacou o racismo dentro do capitalismo em três dimensões: Econômica (com a precarização e menores salários pagos aos negros e negras), ideológica (com a chamada meritocracia e com salário simbólico da branquitude) e política (racismo divide a classe trabalhadora e identificação com as classes dominantes - principalmente no debate sobre cotas).
“As desigualdades raciais estão presentes na sociedade, na fábrica e no sindicato. Os fantasmas da escravidão continuam assombrando”, concluiu o professor.

Estado ultraliberal e o impacto para a população negra
A jornalista Juliana Gonçalves, da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, a Cojira, mostrou preocupação com a atual conjuntura política no Brasil depois de o próprio presidente da República ter declarado que o País é ingovernável.

“Toda a crise vai agudizar a desigualdade, ferindo os direitos humanos em um patamar profundo. Corremos o risco de voltar para o mapa da fome e a pobreza neste País tem cor e sexo”, salientou.

Juliana destacou o crescimento da informalidade e do desemprego com maior impacto sobre a população negra.“A reforma da Previdência é a destruição da seguridade social, seguro desemprego, licença maternidade, remuneração por acidente de trabalho. Mulheres e mulheres negras são as mais atingidas por essas mudanças que estão na proposta do governo”, disse.

Crédito: Adonis Guerra
Juliana: Juliana:
Juliana: destacou crescimento do desemprego da população negra 

“Além disso, nenhuma trabalhadora doméstica vai se aposentar, já que foram reconhecidas como profissão formal apenas em 2014”, completou. 

Segundo a jornalista, há muita desinformação sobre o chamado déficit na Previdência, quando um terço é desviado para outras questões e a reforma se tornou uma política genocida.

“Na Brasilândia, a expectativa de vida da população, principalmente negra, é de 57 anos. É trabalhar até morrer mesmo”, criticou.

O sistema tributário injusto, que cobra mais impostos dos mais  pobres, e a adoção de um pacote anticrime, que criminaliza a pobreza, contribuem ainda mais com a devastação das políticas que foram conquistadas, mesmo antes de darem conta de garantir direitos. 

“Por que a Lei Maria da Penha diminuiu a violência contra as mulheres brancas, mas não contra as negras? Precisamos entender o porquê e identificar aí o racismo”, indagou Juliana.
 
“Não dá pra falar de feminicídio sem falar de cor e raça”, completou.

A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado
A secretária de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores, Maria Julia Nogueira, traçou um perfil sobre os trabalhadores e trabalhadoras negros e negras e todo o enfrentamento que o povo negro faz desde a luta pelo fim da escravidão no Brasil.

“A nossa verdadeira história não é contada. Só foi possível o fim da escravidão por três fatores: a pressão externa da Inglaterra sobre o Brasil, que foi o último a abolir a escravidão; a mobilização nos quilombos que organizavam a resistência e a participação dos abolicionistas, que eram jovens intelectuais, como o Castro Alves, que denunciava todo abuso praticado contra o povo negro”, explicou.

Crédito: Adonis Guerra
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Maria Júlia traçou o perfil dos trabalhadores (as) negros (as)

Para a dirigente, o genocídio de hoje é o dia 14 de maio, dos que não tinham terra, não tinham trabalho e só sobrou o morro para se viver.

“O Estado tem uma dívida histórica com a população negra, com vários crimes, como a tentativa de branqueamento da população, daqueles que não podiam trabalhar e com o governo incentivando a vinda de imigrantes europeus para as fazendas de café, principalmente”, acrescentou.

(Fonte: Rossana Lana, especial para CNM/CUT)