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'Ninguém fez mais pela democracia do que nós', diz Lula

Ao participar de lançamento de memorial, ex-presidente diz que celebrar e lembrar a democracia é lutar para manter direitos. Mais de duas mil pessoas estiveram presentes no evento.

Publicado: 02 Setembro, 2015 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Ricardo Stuckert
Ex-presidente Ex-presidente
Ex-presidente: "Falar de democracia é questão de sobrevivência"

"Temos defeitos, mas, na história deste país, ninguém fez mais pela democracia do que nós", disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no ato de lançamento do Memorial da Democracia, na noite desta terça-feira (1º). O evento foi realizado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e reuniu lideranças políticas, sindicais e de movimentos sociais em torno da plataforma multimídia que conta a história das lutas populares do país. O Memorial - uma plataforma digital - foi criado pelo Instituto Lula (leia mais no final da matéria).

Ao comentar a conjuntura política e as manifestações contra o governo Dilma, o ex-presidente afirmou que é preciso saber concretamente o que está acontecendo. "Por que as pessoas estão se manifestando? Primeiro, esse é um direito legítimo. Lembro que Dilma e eu, em campanha, dizíamos que a democracia não é um pacto de silêncio, é a sociedade em movimento, à procura de mais direitos. Aqui todo mundo já xingou alguém e já carregou uma faixa contra alguém", destacou, sendo muito aplaudido pela plateia de mais de duas mil pessoas.

O ex-presidente disse ainda esperar que outros partidos queiram disputar com o PT a luta por mais democracia, mais participação popular, em vez de reivindicar e promover ataques ao estado democrático de direito e às liberdades constitucionais. "Nada é mais sagrado do que a liberdade, e falar de democracia é questão de sobrevivência. Estamos vivendo um momento delicado, o momento da irracionalidade emocional da sociedade brasileira", assinalou Lula.

Ele lembrou que o PT sempre foi um partido que foi para as ruas lutar por melhores condições de vida para a classe trabalhadora. "Mas hoje parece que tem um viés, uma coisa deformante, porque sempre que a gente ia pra rua era pra pedir liberdade e agora tem gente indo pra rua pedir o fim da democracia, e com esses nós temos de pelear, de debater", ressaltou.

Lula reafirmou as razões que considera serem as principais causadoras da atual tensão da cena política do país. "Nós cansamos de ir pras ruas pedir aumento do salário mínimo e agora tem gente indo pras ruas contra o aumento. Nós fomos pras ruas pelas cotas pro povo negro, e tem gente indo pras ruas pra derrubar as cotas e pedir prisão pra garoto. Fomos defender o direito do povo pobre ir pra universidade, e tem gente indo contra. E, isso, porque estão ocupando um espaço que era só deles", destacou.

Ao fim, Lula dirigiu-se diretamente à militância que acompanhou o lançamento do Memorial, presencial e virtualmente (com transmissão ao vivo pela internet), chamando-a novamente para ocupar espaços e voltar a incluir o debate político no dia a dia. "Precisamos ter a coragem, nós, do PT e da CUT, de andar com nossas camisas vermelhas outra vez. Um partido grande como o PT corre o risco de cometer erros, mas o PT nasceu pra mudar a história deste país, pra mudar o jeito de fazer política, de governar a cidade, o estado, a nação", concluiu.

Crédito: Ricardo Stuckert
Lideranças sindicais e políticas presentes no eventoLideranças sindicais e políticas presentes no evento
Lideranças sindicais e políticas presentes no evento

Presenças
Em sua participação no lançamento do Memorial da Democracia, Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, exaltou a figura do ex-presidente. "Posso dar meu testemunho: no mundo político há poucas pessoas democráticas como Lula", disse, arrancando aplausos. "Quem militou do lado dele cresceu, pôde ser o que quisesse ser. Eu cheguei a ser presidente do Instituto porque é prática dele fazer crescer as pessoas, e isso é algo que temos de resgatar em todas as instâncias em que participamos", afirmou.

Okamotto disse que vai trabalhar para construir o Memorial presencial. "Infelizmente, nosso país tem pouca memória. Eu fico imaginando se a gente pudesse fazer com que as pessoas sentissem o cheiro do gás lacrimogêneo, ouvissem o barulho do helicóptero, isso levaria a juventude a pensar o que é a democracia, que não é apenas o processo eleitoral, poder votar", disse, em referência às lutas do movimento sindical no ABC paulista, duramente reprimidas pela polícia..

"Eu tinha 20 e poucos anos quando, trazido por Lula, comecei a militar no movimento sindical. Muita coisa aprendi aqui, aprendi que democracia é ter liberdade, é a verdade, justiça, oportunidade para todos, tolerância, combater a corrupção, porque tudo isso, se não for compreendido pelo povo, não teremos uma pátria democrática", completou, ao relembrar a atuação no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

A historiadora Heloísa Starling explicou que o Memorial conta uma história da longa jornada de lutas do povo brasileiro. "Contar é narrar a história e enumerar os fatos. O Memorial propõe uma reflexão sobre os fatos do passado. Acredito que haja interesse grande na nossa história, e isso acontece por várias razões: a história é dinâmica e paradoxal, escravagista, insurgente, cruel e generosa."

A professora disse ainda que os brasileiros também estão descobrindo que a história está ao alcance de todos: "Nós somos o que somos hoje porque fomos o que fomos no passado, que insiste em se reapresentar. Por isso, o Memorial tem ambição de recordar." Ela destacou também que a ideia do Memorial é "chamar de volta ao coração dos brasileiros aquilo que é, foi e será parte da historia".

Para Ivo Herzog, filho do jornalista assassinado pela ditadura Vladimir Herzog, o portal é fundamental para o senso crítico das pessoas que nasceram pós ditadura: “Eu tenho certeza que este portal é uma ferramenta maravilhosa para as pessoas conhecerem a sociedade em que vivem e as conquistas que foram alcançadas com muita luta”.

Carina Vitral, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE),  afirmou que contar a história da democracia é também contar a história da UNE e lembrar de uma geração que lutou para mudar a vida das pessoas e que lutou no período que antecedeu o golpe de 1964 por reformas de base. "Essa luta foi interrompida, e uma geração de vários líderes estudantis pagaram com suas vidas, foram presos, torturados, mortos e desaparecidos. Em nome dessas pessoas, seguimos a luta da UNE para continuar mudando o país", ressaltou Carina.

A líder estudantil lembrou ainda que quando atacam a presidenta Dilma o fazem contra a sua condição de mulher, mas também de combatente política na época da ditadura. Dirigindo-se ao presidente Lula, disse: "Quando tentam te difamar, caluniar, saiba que nós, estudantes, não deixaremos isso acontecer. Quando te caluniarem, a você e à presidenta Dilma, nós responderemos com luta. Quando encherem certos balões nós vamos furar, e tenho certeza que nessa luta nós venceremos, porque as ideias deles são tao frágeis quanto os balões".

Carina mencionou a importância do Memorial, que vai contribuir para a juventude manter acesa a luta pela democracia: "Não vivemos essa luta na nossa pele, mas a estudamos, e agora podemos visitar memoriais como este, com recursos multimídia, que será um instrumento valoroso".

Crédito: Divulgação
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Memorial traz linha do tempo na luta contra a ditadura e do período da redemocratização

O Memorial
O Memorial da Democracia é um site multimídia que organiza e apresenta informações históricas sobre as lutas das conquistas sociais e direitos no país. O portal reúne fotos, textos, desenhos, jornais, cartazes, áudios e diversos documentos, que são apresentados de forma cronológica. Na primeira fase, o visitante encontrará no site dois módulos, que se referem aos períodos mais recentes da luta política e social no país: o período da ditadura civil-militar – “1964-1985: 21 anos de resistência e luta” – e a redemocratização – “1985-2002: construindo a democracia”.

Outros períodos serão abordados paulatinamente com o desenvolvimento do site. O Instituto Lula trabalha para lançar mais três módulos em breve, que cobrirão os períodos de 1930 a 1945, 1945 a 1964 e 2003 a 2010. Este último abordará as lutas populares nos dois mandatos de Lula na Presidência da República.

(Fonte: Rede Brasil Atual)

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