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Nobel da Paz sugere a Dilma que Brasil lidere políticas mundiais voltadas para a infância

Publicado: 05 Fevereiro, 2016 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Lula Marques
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Encontro aconteceu no Palácio do Planalto

O indiano Kailash Satyarthi, ganhador do prêmio Nobel da Paz de 2014, sugeriu nesta quinta-feira (4) à presidenta Dilma Rousseff, em encontro no Palácio do Planalto, que o Brasil assuma a liderança mundial de uma política pública voltada para os programas de desenvolvimento das crianças de forma mais abrangente e “holística”. O ativista, reconhecido por sua luta pela erradicação do trabalho infantil e do trabalho escravo, destacou que o Brasil pode conduzir essas políticas por meio de parcerias com órgãos de cooperação internacional, pelo destaque obtido com programas como o Bolsa Família e pelo combate ao trabalho infantil.

Satyarthi disse que a presidenta foi receptiva à sua sugestão e que quis saber detalhes sobre pobreza, violência e doenças que afetam as crianças em outros países, assim como sobre ações de combate a essas questões. “Discutimos particularmente como o papel e o poder emergente dos países que experimentaram um rápido desenvolvimento, nos últimos anos, como o Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), podem estabelecer um exemplo para todo o mundo”, afirmou.

O indiano acrescentou que esse exemplo pode ser observado, sobretudo, em relação a uma agenda voltada para a ampliação de programas para a infância, de forma a estimular experiências afins e be-sucedidas em alguns países, como é o caso do Brasil. “A boa nova é que todas as crianças do mundo estão incorporadas hoje nos programas dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU (Objetivos do Milênio)”, lembrou.

Pelo Twitter, a presidenta disse: "Foi com muito orgulho que recebi o líder mundial contra trabalho infantil e escravidão de crianças e ganhador do Prêmio Nobel da Paz". Afirmou ainda que a atuação de Satyarthi para erradicar o trabalho infantil merece todo o apoio e condiz com os esforços do governo brasileiro.

'Papel da sociedade'
Ao ser perguntado sobre os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) – em 2014, o país tinha 554 mil crianças de 5 a 13 anos trabalhando –, Satyarthi disse que o número é preocupante, mas que ainda assim o Brasil apresentou queda significativa nos últimos 15 anos. Disse que os índices foram reduzidos em todo o mundo – de 260 milhões de crianças realizando algum tipo de trabalho, em 2000, para 168 milhões, em 2015.

Ele ressaltou que foi reduzido o número de crianças fora da escola de forma mundial: em 2000 este número chegava perto de 59 milhões, e no ano passado caiu para 30 milhões em escala global. “Isso se fez possível devido ao forte papel desempenhado pela sociedade civil", assinalou.

"Os números foram reduzidos também em razão de abordagens inovadoras por parte de vários países, como foi o caso do Bolsa Família e Bolsa Escola, aqui, programas que criaram uma confiança no mundo, no sentido de que estamos de fato contribuindo para erradicar e reduzir a zero este problema", afirmou o indiano.

Ele ainda citou a importância do trabalho iniciado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a continuidade dos esforços por Dilma nos últimos anos. “No meu país natal, o número de trabalho infantil tem sido reduzido de igual modo nos últimos 15 anos: de 12,5 milhões para 4,3 milhões.”

“Programas ou políticas de educação obrigatórias somadas a programas de alimentação nas escolas têm ajudado, assim como o papel da mídia em todo esse processo”, afirmou.

Segundo Satyarthi, os empresários precisam se dar conta de que têm de resolver essa questão para fazer prosperar os negócios. E esse entendimento tem ajudado a mudar a visão do mundo sobre o problema. “O mundo avança no rumo certo, mas a velocidade ainda é lenta. Cada criança importa, cada criança conta no cômputo maior das coisas. Não se trata unicamente de números contabilizados, mas são seres humanos, vidas humanas.”

Impeachment e STF
Kailash Satyarthi só se recusou a responder sobre dois temas aos jornalistas: o impeachment da presidenta Dilma e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender a "lista suja" do trabalho escravo.

Sobre o impeachment, disse que não lhe cabia comentar o assunto. Sobre a decisão do STF, afirmou que não poderia analisar a questão da lista especificamente, mas considera que há um apoio forte por parte do Judiciário brasileiro no combate ao trabalho escravo. Ele citou como exemplos o fórum instalado no início da semana com a sua presença (pelo Conselho Nacional de Justiça), e outras iniciativas e programas.

Satyarthi está no Brasil desde a última semana. Além do Distrito Federal, o indiano visitou os estados de Pernambuco e São Paulo (neste último, se encontrou com o ex-presidente Lula). Em Brasília, manteve contatos e participou de reuniões com representantes do Judiciário, parlamentares e os ministros Miguel Rossetto (Trabalho e Previdência Social) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome).

(Fonte: Hylda Cavalcanti - Rede Brasil Atual)