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O Brasil virou um país estratégico para a EADS, diz presidente da empresa

Louis Gallois, presidente mundial da EADS, dona da Airbus, quer aumentar a presença do grupo no País em várias áreas até 2020

Publicado: 02 Julho, 2008 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Nesta semana, o presidente mundial da EADS (European Aeronautic Defense and Space Company), dona da Airbus, veio ao Brasil para anunciar um investimento de 350 milhões na Helibras, fábrica de helicópteros que o grupo tem em sociedade com o governo mineiro. Louis Gallois, executivo que comanda um grupo de capital francês, alemão e espanhol e fatura 40 bilhões por ano, quer mais do Brasil.

A EADS tem um plano de dobrar de tamanho até 2020, crescendo principalmente fora da Europa. O Brasil, ao lado de China, Índia, Rússia e México, subiu para o topo da lista de prioridades do grupo. A EADS, segundo maior grupo de defesa e aviação do mundo, quer produzir e vender mais, comprar empresas e fazer mais parcerias no País. "Somos atraídos pelo custo da mão de obra, pelos recursos tecnológicos, pelo tamanho do mercado e pelos fornecedores", diz Gallois.

O senhor poderia detalhar o investimento e os planos para o Brasil?

Vamos investir uma quantidade significativa de dinheiro. Nós queremos construir uma fábrica integrada de helicópteros no Brasil em torno da Helibras. Não apenas para o Brasil, mas para a América Latina. Poderia ser um centro de produção de helicópteros para outras partes do mundo. Como o presidente Lula disse, um (o governo) está dando suporte ao outro (Helibras). É um bom jeito de trabalhar (Para receber o investimento da EADS, o governo pretende encomendar 60 Super Cougar no valor de 1,2 bilhão). Nós podemos ter um grande investimento no País.

Qual é o papel do Brasil no projeto maior da EADS, de diversificação regional e de redução do peso da Airbus para o grupo?

O Brasil, para nós, agora é um dos países estratégicos, como Rússia, Índia, China e México. É um dos países onde queremos investir, aumentar nossas atividades. Está claro que o Brasil está no topo da lista.

A EADS pretende trazer outros negócios para o País?

Podemos fazer isso direta ou indiretamente com nossos fornecedores. Em um avião, por exemplo, a produção é muito terceirizada. Na Airbus, 84% do avião é feito fora da companhia. Isso não significa que estamos deixando a Europa, mas podemos aumentar o número de nossos parceiros em outras regiões.

É possível ter uma idéia do que o grupo pode trazer para o Brasil?

Em helicópteros, está claro. Podemos ter fornecedores e atividades diretas em aviação militar. Somos atraídos pelo custo da mão de obra, mesmo com a valorização do real, pelos recursos tecnológicos, pelo tamanho do mercado e pelos fornecedores, que já estão acostumados a trabalhar para a Embraer. Está claro que, na Europa, temos um problema de custo.

A EADS pretende criar um centro de desenvolvimento de mísseis no Brasil?

Não. Em algumas atividades, nós não terceirizamos. Mas podemos criar, comprar uma empresa ou ter um parceiro no mercado doméstico. Um caso exemplar é um contrato de transferência de tecnologia feito com empresas brasileiras, a Mectron e Avibrás. A MBDA, empresa da EADS que detém a tecnologia de fabricação de mísseis, subcontratou as duas no Brasil para trocar o motor dos mísseis Exocet para a Marinha. A MBDA oferece assistência e desenvolvimento de tecnologia local. Nós estamos em contato com empresas brasileiras para ver o que pode ser feito em outras áreas. Há muitas oportunidades no mercado de defesa brasileira, que está crescendo.

Existem outras oportunidades?

No mercado de aviação, temos um cliente importante. A TAM é nosso maior cliente no País, um dos nossos melhores clientes no mundo. Em helicópteros, as oportunidades estão claras. Mesmo na área espacial, estamos entregando partes de satélites brasileiros. Em segurança, o sistema de rádio que está sendo implementado agora pela Polícia Federal é da EADS. Segurança é um mercado que cresce rápido no Brasil. E esse é um contrato significativo. E há outras oportunidades em segurança. Nós temos uma área de vigilância de fronteiras por satélites. O Brasil é um país enorme. Você sabe quantos quilômetros de terra tem a fronteira brasileira? São 15 mil. E o litoral? São 7 mil.

Vocês poderiam comprar alguma empresa brasileira?

Estamos totalmente abertos. Nós precisamos aumentar nossa presença no Brasil. Não estamos conversando com nenhuma. Temos pessoas encarregadas disso no País. Mas não temos nenhum alvo especial. As oportunidades vão aparecer. A área de mísseis é um bom exemplo. A Marinha brasileira precisa trocar o motor dos os mísseis a cada dez anos, mais ou menos. E essa capacidade, é claro, está nas empresas brasileiras. Nós queremos estar aptos para fazer parte desse mercado, se necessário.

O senhor também aproveitou a viagem para visitar a Embraer. O que foi fazer na empresa?

Eu não estava descobrindo a Embraer. Ela não é nova para nós (até o ano passado, a EADS tinha cerca de 6% das ações da Embraer). Por anos, fomos sócios da Embraer. É uma empresa boa. Eu fiquei muito impressionado como eles aplicam a realidade virtual no desenvolvimento dos aviões. Eles não estão usando apenas para desenhar aviões, como nós na Airbus, mas também em todo o processo de fabricação de aviões. Outra coisa: eles são os únicos do mundo que pintam o avião sem as asas. Nós pintamos tudo de uma vez com medo de causar alguma avaria na pintura. Mas eles ganham muito tempo fazendo assim. É muito mais eficiente. É fascinante.

O senhor acha que a Embraer está preparada para a crise econômica mundial - as ações da empresa caíram 40% nas últimas semanas.

O mesmo aconteceu conosco. A indústria toda está sofrendo. O mercado acionário está sendo prudente demais com a Airbus. Eu acho que a gente merece mais atenção. Nos últimos tempos, surgiu, é claro, a pressão do preço do petróleo, que aumentou os custos de todos os nossos clientes e nos impactou.

Algumas empresas estão cancelando pedidos para novos aviões?

Não muito. Eu não posso falar pela Embraer. Não posso dar números da Airbus por razões estratégicas. Mas nós estamos mais atentos com o mercado. Sabemos que as companhias aéreas estão afetadas financeiramente, com custos mais caros por causa do preço alto do petróleo. No curto prazo, as encomendas vão cair. Mas depois as empresas vão precisar renovar suas frotas com aviões que consomem menos combustível.

Recentemente, a TAM começou a comprar Boeings como forma de pressionar a Airbus. Qual a opinião do senhor sobre isso?

Eu não vou comentar essa pergunta. Eu gosto muito dos aviões da Airbus. E a TAM é um cliente muito importante para nós.

Como o senhor administra uma empresa tão complexa como a EADS, com tantas nacionalidades?

A administração melhorou muito depois que terminamos a reestruturação no ano passado. Nós estamos trabalhando como uma empresa normal. Nós temos de estar atentos aos interesses dos alemães, dos espanhóis, mas é uma empresa normal.

Fonte: O Estado de S. Paulo