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'Ao criar lei do pré-sal, Brasil atraiu a oposição internacional', diz analista

Publicado: 27 Agosto, 2015 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

O período dos governos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, iniciado em 2003, foi até certo ponto bem aceito pelos setores mais poderosos do mundo, política e economicamente. Porém, o Brasil deixou de ser o “queridinho” desses setores. Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, Giorgio Romano Schutte, o ponto em que os grandes interesses passaram a desconfiar do Brasil e colocar em xeque os governos do PT foi o ano de 2010.

“Até então, no meio da crise internacional, o Brasil era o queridinho de todo o mundo. Pela primeira vez, o Brasil era visto como solução, e não mais como parte do problema. Entrou para o G-20, estava à frente dos Brics. E o que acontece em 2010? O Lula, pela primeira vez em oito anos, toma uma medida que vai diretamente contra os interesses internacionais, que foi a mudança do marco regulatório de exploração do petróleo, do pré-sal”, disse o economista em entrevista a Isaías Dalle, do site da CUT. "Lula vinha fazendo o governo que havia prometido, atendendo às camadas populares sem contrariar interesses das elites”, acrescenta.

Crédito: Roberto Parizotti
Giorgio SchutteGiorgio Schutte
Giorgio Schutte 

Segundo Schutte, ao aprovar a legislação que garantiu o controle do pré-sal pelo país, aprovada pelo Congresso num momento em que Lula tinha uma aprovação extraordinária de 85% da população, o governo brasileiro se colocou “contra interesses muito organizados e poderosos”.

Para ele, o posicionamento da diplomacia brasileira ao se posicionar, no cenário internacional, a favor do Irã, quando Lula se encontrou com o presidente Mahmoud Ahmadinejad, foi um fato político que, somado à questão do pré-sal, ajudou a turvar a visão positiva de setores poderosos do mundo. “Irã? Bomba? Quem se sente ameaçado imediatamente é Israel. E eles têm um lobby muito forte”, afirma Schutte. “Tenho dúvidas se Lula e Celso Amorim [então ministro das Relações Exteriores] sabiam da reação que aquilo provocaria nos Estados Unidos.”

Na questão econômica, o analista acredita que até 2010 o Brasil conseguiu reagir bem à crise financeira internacional. Mas, a partir daquele ano, a presidenta Dilma percebeu a necessidade de reduzir as taxas de juros. “Então, quando ela começa em 2012 a atacar de maneira muito corajosa a taxa de juros, isso se torna uma coisa que contraria a comunidade financeira internacional”, lembra. Contrariando interesses financeiros internacionais, Dilma então passou a ser questionada a partir desses setores e perdeu a confiança do mercado. “Todos os relatórios financeiros começam a questionar a capacidade do governo” e a “credibilidade do governo”. “Ela não consegue resistir, ela teve de voltar atrás (interrompendo a queda dos juros)”, diz Schutte.

O professor acredita que os problemas enfrentados a partir do momento em que o governo deixou de satisfazer poderosos interesses políticos (Irã) e econômicos (pré-sal) se agravaram pela falta de maior capacidade política de negociação. No caso do Irã, conversando mais “com os amigos” (França, Rússia, China). Internamente, “ deveria ter articulado, montado uma base de apoio”.

Todo esse cenário negativo “começa a criar um clima que desperta forças políticas internas que percebem que o vento está a favor da derrubada da Dilma”, constata.

No entanto, para ele, o afastamento de Dilma do comando do Palácio do Planalto não é mais tão interessante quanto parece às elites. “Não creio mais que haja muitos setores internos interessados em derrubar o governo. Para quê? Está ótimo assim. É um governo facilmente cooptável para fazer políticas impopulares. O que eles querem é evitar a volta do Lula e desestabilizar a Dilma, impedir que ela possa fazer qualquer guinada à esquerda”, analisa.

O problema, diz Schutte, é que todo esse cenário acabou criando “monstros”, como Eduardo Cunha e a intolerância. Em sua opinião, porém, o recuo registrado por setores da mídia, inclusive em editorial do jornal The New York Times, é sintomático de que derrubar o governo não interessa mais. “É só observar editoriais do Financial Times e o The New York Times mais recentes. É de interesse manter o governo. Até porque as políticas que eles querem estão sendo implementadas. Uma coisa é certa: com essa política, eles vão destruir o PT.”

Leia a íntegra da entrevista aqui.

(Fonte: Rede Brasil Atual e CUT Nacional)