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Para pesquisador do IEB, não há crise econômica mundial

Em painel da 3ª Conferência Expressões da Globalização, Alexandre Barbosa disse que há uma reorganização da economia. Painel também contou com representante do IG Metall e de sindicalista do ABC.

Publicado: 13 Novembro, 2014 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

 
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O pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e professor da Universidade de São Paulo, Alexandre Barbosa, afirmou na tarde desta quinta-feira (13) que não está havendo uma crise mundial, mas sim uma reorganização global da economia. Ele participou no início da tarde de painel da 3ª Conferência Expressões da Globalização, que está acontecendo em Guarulhos (SP) e será encerrada amanhã (14).

“A crise teve impactos diferentes nos países e não ganhou escala mundial. Os chineses, por exemplo, a chamam de crise do Atlântico Norte. Se olharmos os indicadores, vemos que a África não está em crise, que a América Latina não está em crise, nem tampouco a Alemanha (que tem se beneficiado pelo aumento da exportação para a China)”, opinou o pesquisador do IEB durante sua apresentação.

O painel foi sobre desenvolvimento econômico e política industrial. Dele também participaram o sindicalista Wolfgang Lemb, que integra a Comissão de Economia, Tecnologia e Trabalho do IG Metall (Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha), e José Roberto Nogueira "Bigodinho"), trabalhador na Volkswagen e diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SP). O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), Paulo Cayres, foi o mediador.

A 3ª Conferência, que tem como tema “Trabalhadores (as) frente à Crise Econômica, Política e Social - cinco anos depois", é uma realização da Fundação Hans Böckler (FHB), organizada pela CNM/CUT, em parceria com o Instituto Integrar e o IG Metall. A primeira edição do evento foi feita no Brasil em 2009 e a segunda ocorreu na Alemanha, em 2012.

Crédito: Roberto Parizotti
Barbosa (esq.)Barbosa (esq.)
Barbosa (esq.), Lemb, Nogueira e Paulo Cayres avaliam política industrial

Durante sua explanação, o professor Alexandre Barbosa afirmou que o Brasil vive neste momento de desaceleração econômica que não é decorrente apenas da crise financeira. “Trata-se de uma nova forma de inserção da economia brasileira nesta reorganização global de mercados. Aquilo que funcionou de 2003 a 2010 não funciona mais, porque estamos vivendo o fim do ciclo expansivo”, defendeu.

Barbosa também é de opinião de que o Brasil não atravessa um processo de desindustrialização, como apregoam alguns especialistas em economia. “Em 10 anos, só na indústria foram gerados três milhões de novos empregos na indústria. No período da crise, o país gerou 400 mil postos de trabalho só no ramo metalúrgico. Isso é um forte indicativo de que a indústria continua ativa”, considerou o pesquisador.

Para ele, o movimento sindical também vive outro momento e terá de intensificar sua atuação para conquistar novos patamares para os salários dos trabalhadores porque, com a valorização do salário mínimo, houve uma redução no leque das remunerações dos assalariados. “Outra pauta atualíssima é a luta pelo contrato coletivo nacional de trabalho. Acredito que os metalúrgicos, em particular, têm condições de avançar nesta luta”, destacou Barbosa.

"Renascimento da política industrial"
Em sua exposição, o dirigente do IG Metall destacou que ainda se fala em crise econômica na Alemanha (não em pós-crise) e que, diante de seus reflexos, o país está discutindo o “renascimento da política industrial”, para definir quais os caminhos devem ser adotados.

O IG Metall tem participado, segundo ele, de fóruns de debates no Ministério da Economia. Wolfgang Lemb contou que seu sindicato usa a imagem de um farol de porto para explicar a sua posição em relação à política industrial: “O farol só funcionará bem e terá muita luz se for construído sobre uma boa base. Para nós, essa base é o trabalho decente e a formação continuada dos trabalhadores, com uma rede de proteção laboral”.

O sindicalista alemão disse ainda que o Ministério tem discutido com os representantes dos trabalhadores onde deverão ser aplicados os recursos para conquistar a estabilidade na indústria e um futuro tranquilo para todos. “Para nós, a política industrial alemã deve priorizar três dimensões: a ecológica, a econômica e a social”, defendeu Lemb.

Menos juros, mais crédito
Em sua exposição, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC explicou o processo de debates tripartites (governo, empresários e trabalhadores) que culminou com a implantação do Inovar Auto, o novo regime do setor automotivo brasileiro.

José Roberto Nogueira avaliou que todo o processo – ancorado pela efetiva participação dos trabalhadores nos fóruns de deliberação – está propiciando um novo patamar para a indústria automotiva nacional. “O número de indústrias automobilísticas no Brasil, de atuais 13 chegará a 25 até 2018”, informou o metalúrgico.

Segundo ele, o Inovar Auto é fundamental para o Brasil, porque impediu que as empresas aqui instaladas se transformassem apenas em montadoras, em “batedoras de chapa”.

O novo regime automotivo, prosseguiu Nogueira, já fez com que a importação de carros começasse a diminuir. E propiciou também um cronograma para garantir o aumento do conteúdo local de autopeças.

O sindicalista avaliou ainda que para que a indústria nacional seja forte e contribua com o desenvolvimento social, os metalúrgicos da CUT defendem que é necessário, entre outras medidas, que o governo reduza as taxas de juros, amplie a oferta de crédito e defina uma política de proteção ao emprego. “Agora é preciso avançar, porque mudar, nós já mudamos há 12 anos”, finalizou, referindo-se às profundas transformações sociais vividas pelo país nesse período.

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(Fonte: Solange do Espírito Santo – Assessoria de Imprensa da CNM/CUT)