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Perfil do Setor

Publicado: 05 Dezembro, 2005 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

O complexo eletrônico responde por parcela expressiva e crescente do produto global e vem apresentando notável progresso técnico a partir da invenção do transistor em 1948, cujas repercussões chegam à indústria de transformação em geral, e em particular na eletromecânica. A indústria de bens eletrônicos de consumo (BEC), que abrange os segmentos de áudio & vídeo, já teve proeminência maior dentro do complexo industrial e ainda é de suma relevância, representando 7,6% do mercado mundial de eletrônicos. Essa participação é inferior a dos segmentos de componentes (31,2%), dos equipamentos de processamento de dados (29,2%) e dos dois setores de comunicações (12,4% e 8,8%).

As corporações em posição de liderança na eletrônica, em geral, possuem uma estrutura produtiva verticalizada e uma rede bem estabelecida de fornecimento de insumos. A forma como essas grandes corporações se estruturam no plano mundial busca aproveitar o máximo daquilo que as diferentes nações podem lhes proporcionar, ou seja: mercado consumidor; ambiente tecnológico; incentivos fiscais; condições macroeconômicas favoráveis à exportação, entre outras.

O movimento de intensificação da concorrência no setor e a conseqüente redução das margens de lucro, além de ser enfrentado com a diversificação de estratégias, vem gerando processos de reestruturação, muitas vezes acompanhados por enxugamento da produção. As estratégias de faixas de mercado das empresas de bens eletroeletrônicos de consumo se dividem em: 

» Estratégia de liderança tecnológica: inovações radicais ou incrementais; obtenção de ganhos mediante altas taxas de crescimento dos mercados e através da manutenção de margens de lucro elevadas; ocupar faixas de mercado cujo dinamismo tecnológico e rentabilidade sejam maiores.

» Estratégia de baixo custo: linha de produção mais intensiva em trabalho; voltada para faixas de produtos de menor valor no mercado; buscam ganhos via elevada escala de produção de mercadorias baratas e com tecnologia madura, para compensar as baixas margens de lucro características desses segmentos; entre as filiais, pode estar associada a uma estratégia mais ampla de racionalização da produção.

» Estratégia Intermediária: ocupar estratos intermédios do mercado mediante a produção de bens de tecnologia relativamente disseminada; conquistar espaços sub-aproveitados pelas companhias de ponta; procura diluir seus custos e dirimir gradativamente o hiato proporcionado pelo rápido deslocamento da fronteira tecnológica no âmbito internacional; busca dar um salto tecnológico e industrial associado a esforços de fixação de marca.

Essa última tem predominado na atuação das empresas localizadas no Brasil.

A concorrência entre os países produtores vêm sendo alimentada por recursos dos governos, tais como: benefícios fiscais; redução de hiatos tecnológicos a partir de investimentos em P&D; proteção a seus mercados via adoção de padrões de acesso restrito (Europa); incentivo à colaboração entre universidades e empresas; políticas de atração de investimentos estrangeiros; criação de zonas especiais e parques industriais beneficiadas com incentivos econômicos adicionais; incentivo ao ingresso de companhias estrangeiras via estabelecimento de joint ventures com empresas estatais; permissão às transnacionais de implantação de filiais; incentivos para exportação; incentivos para treinamento de pessoal. Tais iniciativas têm o sentido de estimular a produção e a inserção externa mais ativa dos países produtores.

Os EUA destacam-se no mercado mundial, tanto para todo o complexo eletrônico, quanto para a eletrônica de consumo. O Japão segue como 2º maior e  a China ocupa o 3º  lugar. O México e o Brasil são os representantes latino-americanos no grupo dos quinze maiores, ocupando o 12º  e o 13º, respectivamente.

Na cadeia de bens eletrônicos de consumo, assim como nos demais segmentos do complexo eletrônico, vem prevalecendo duas tendências: o foco concorrencial tem se direcionado para seus componentes, cujo peso responde cada vez mais pelo valor agregado dos bens finais; a difusão de novos produtos associados à trajetória de digitalização vem dinamizando o mercado, saturado nas economias avançadas. A perspectiva é de difusão de produtos de tecnologias mais avançadas à medida que seus custos se reduzam.

Entre os fatores de competitividade do setor, o Estado aparece com destaque. A introdução de novas tecnologias, particularmente as relativas a componentes, tem levado governos a reforçar a preocupação quanto aos componentes de maior valor agregado e privilegiar a definição dos padrões de transmissão.

O Brasil é um mercado significativo não apenas de produtos eletrônicos em geral, mas principalmente de eletrônicos de consumo, que responde por 10,6% desse mercado, além de possuir uma produção relevante na linha marrom. Mas isso tudo não tem sido o suficiente para o país galgar uma inserção exportadora efetiva até o momento. O complexo eletrônico tem sido tema de preocupação, principalmente pela necessidade do país gerar superávites comerciais tendo em vista o déficit em transações correntes que esse setor tem apresentado.

Ao longo dos anos 1990, o segmento produtivo brasileiro teve que se ajustar às diferentes circunstâncias da economia, cujos maiores impactos ocorreram sobre a indústria de componentes. Entretanto, em seguida a esse boom ocorrido no período, veio uma fase de grande dificuldade para o ramo de áudio & vídeo, dado a elevada inadimplência e a concorrência nesse segmento. No início do recessivo ano de 1999, o regime cambial de bandas mudou para o regime flutuante, o que prejudicou as empresas endividadas em dólar. O declínio perdurou até meados desse ano, a partir de quando a economia brasileira voltou a se aquecer. Em 2000, o segmento experimentou um faturamento estimado em US$ 3,5 bilhões, que é pouco se comparado com os níveis de meados dos anos 1990, mas bem acima do patamar estimado para o ano anterior.

No Brasil, a ação das corporações está voltada para a faixa de mercado atendida pela estratégia intermediária, comportamento baseado em particularidades das empresas aqui instaladas, quais sejam: (a) estreitas ligações com a matriz ou com a empresa cedente da tecnologia; (b) a presença de um mercado consumidor interno diversificado; (c) dificuldade em ofertar, de forma competitiva, mercadorias de menor valor, em particular as portáteis, devido à oferta asiática. Além disso, a tecnologia própria, brasileira, refere-se, em geral, à fabricação de produtos de tecnologia vulgar.