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Prefeito de Rio Grande critica silêncio e omissão de Sartori na defesa do Polo Naval

Publicado: 11 Abril, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

O governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), vem cultivando um misto de silêncio e omissão diante da ameaça real de desmonte do Polo Naval de Rio Grande. A mobilização que reúne prefeitos e parlamentares de diferentes partidos, além de representantes de universidades, sindicatos e outras entidades da sociedade civil em defesa da indústria naval no Estado e no País não conta até agora com a participação ativa do governador e do governo como um todo. O registro dessa ausência foi feito nesta segunda-feira (10) pelo prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer, e pelo deputado federal Henrique Fontana (PT), coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval Brasileira, que se reuniram em Porto Alegre para conversar sobre os próximos passos da mobilização em defesa do Polo Naval.

Lindenmeyer fez questão de destacar que o tema da indústria naval não é uma pauta que diz respeito apenas a Rio Grande, São José do Norte ou ao Estado do Rio Grande do Sul, mas envolve uma mudança de visão de desenvolvimento da indústria brasileira:

“Tivemos uma inversão de projetos agora que nos fez passar de 80 mil trabalhadores empregados na área para pouco mais de 30 mil atualmente. Em Rio Grande, chegamos a ter 21 mil postos de trabalho e hoje estamos reduzidos a três mil. Em 2016, entre outubro e novembro, tivemos mais de quatro mil demissões. Temos os maiores ativos do Hemisfério Sul em termos de indústria naval com altíssimo valor tecnológico agregado, com grande possibilidade de acúmulo. Países como Inglaterra, Noruega, Canadá, China, Coréia do Sul, Índia e Rússia seguiram esse caminho. Podemos fazer isso ou seguir o exemplo de Angola e Nigéria que só extraem o petróleo sem produzir valor agregado para os seus países”.

O prefeito destacou que essa pauta da defesa da indústria naval e da política de conteúdo local mobiliza hoje sete frentes parlamentares no Congresso, envolvendo os mais variados matizes políticos e partidários, inclusive do próprio PMDB. “Participei de uma reunião dessas sete frentes parlamentares com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB/CE), outros senadores e o prefeito de Angra dos Reis, que também é do PMDB. Tivemos várias manifestações entendendo que é estratégica para o país a defesa dessa indústria pelo que ela agrega em termos de oportunidade de emprego e de agregação de valor”.

No Rio Grande do Sul, porém, ressaltou Lindenmeyer, há uma política de silêncio por parte do governo do Estado. “Esse sentimento acaba gerando um sentimento de que há uma concordância com essa mudança de política industrial que a Petrobras está aplicando”. O prefeito relata que chegou a ser recebido pelo governador em uma audiência e que este, depois de alguma resistência, participou de uma reunião em Brasília com o ministro de Minas e Energia. Mas depois o que se seguiu foi o silêncio.

“Recentemente, o presidente do Legislativo de Rio Grande solicitou uma audiência com Sartori, mas ouviu do chefe de gabinete que esse tema não era da alçada do governador, mas sim do secretariado. Eu espero que haja uma revisão de posicionamento por parte do governador e que ele venha para a linha de frente dessa pauta. É difícil acreditarmos que o governo do Estado vá dar as costas para um tema desses, a não ser que essa seja uma decisão política do governo em favor da exportação de empregos, de tecnologia e de geração de impostos para outros países”.

O processo de desmonte do Polo Naval já afeta a economia de Rio Grande e do Estado como um todo. Lindenmeyer citou alguns números para ilustrar a natureza desse impacto. “Em Rio Grande, saímos de um orçamento de mais de R$ 200 milhões, em 2009, chegamos a algo em torno de R$ 700 milhões em 2016, mas, para este ano, estamos prevendo uma retração de algo entre 70 e 75 milhões, sendo que cerca de 55 milhões desse valor é de ICMS. Esses números mostram porque o governador do Estado precisa estar na linha de frente dessa pauta. O impacto dessa retração em termos de desemprego não se limita a Rio Grande. É por isso que a Associação dos Prefeitos da Zona Sul está apoiando a nossa pauta. Entre estaleiros e projetos já executados em Rio Grande tivemos investimentos de cerca de R$ 6 bilhões, um valor superior aos R$ 5,3 bilhões da Celulose Riograndense, apontado como o maior investimento no Estado nos últimos anos”.

Alexandre Lindenmeyer rebateu ainda as afirmações feitas recentemente pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente, em uma entrevista para a rádio Gaúcha. “Nós somos plenamente favoráveis à apuração de toda corrupção, com a responsabilização dos envolvidos, mas devemos seguir o exemplo de outros países que puniram os corruptos sem acabar com as suas indústrias e o conhecimento acumulado pelas mesmas ao longo de décadas. Parente também faz uma fala totalmente equivocada quando diz que a Petrobras não tem qualquer função social a cumprir, como se fosse uma empresa privada como a Shell e não tivesse nenhum papel estratégico a cumprir para o desenvolvimento do país. Pelas estimativas que recebemos, com 216 milhões de dólares terminamos a P-71. Já a construção dessa plataforma na China custará pelo menos 400 milhões de dólares. Agora, a Petrobras anuncia que vai, até 2021, construir dezenove plataformas. É inadmissível que esse emprego seja gerado lá fora e não no Brasil”.

“Está em curso de crime de altas proporções contra a economia brasileira e a economia gaúcha. O polo naval representa para o Rio Grande do Sul hoje o que o polo petroquímico representou há algumas décadas, constituindo-se em dos vetores mais potentes de política de desenvolvimento industrial, que está, progressivamente, sendo perdido. Isso está acontecendo com um silêncio omisso do governador Sartori que é quase inacreditável”, disse Henrique Fontana. Para o deputado, o governador deveria estar ao lado do prefeito Alexandre Lindenmeyer nesta luta que é de interesse de toda a população gaúcha. “O presidente da República tem que dizer se vai deixar a P-71 apodrecer ancorada no estaleiro em Rio Grande ou se vai concluí-la”.

O coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval lembrou que o Brasil passou, em razão da política de valorização do conteúdo local, de dois mil para 83 mil trabalhadores na indústria naval. “Em Rio Grande, nós tínhamos 21 mil trabalhadores. Perdemos cerca de 18 mil desses empregos aqui no Estado, o que representa um impacto muito pesado. Estamos mobilizados agora, em uma operação emergencial, pois o nosso paciente está na UTI. Se não forem tomadas medidas emergenciais para salvar a indústria naval brasileira, nós veremos o sucateamento de investimentos estimados em torno de R$ 30 bilhões. Não se pode usar o tema da corrupção para destruir empregos e política de desenvolvimento industrial de um país. A Siemens, por exemplo, esteve envolvido em graves problemas de corrupção, inclusive em São Paulo, mas os alemães não destruíram a empresa por conta disso. A solução para o problema da corrupção não é a Petrobras se tornar uma exportadora de empregos para a China, Taiwan ou Singapura”, defendeu Fontana.

Diretor Presidente da Associação Arranjo Produtivo Local Polo Naval e de Energia RS (APL) e vice-reitor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Danilo Giroldo, também contestou a recente fala de Pedro Parente, principalmente no que diz respeito ao papel da Petrobras no desenvolvimento econômico e social do país. “O fato de se criar uma estatal de economia mista, sob controle do Estado, por si só, já é uma política pública. As estatais de economia mista estão submetidas à Constituição Federal e têm que cumprir os interesses do Estado inclusive na questão do desenvolvimento. Isso está bastante claro na história da Petrobras e não é só o Brasil que faz. Muitos países fazem isso, especialmente em uma área estratégica como é a da indústria naval”.

Giroldo lembrou o que aconteceu em Rio Grande com o desenvolvimento dessa indústria. “Com o polo naval, a arrecadação municipal quadruplicou, a renda dobrou, o número de participantes no Bolsa Família caiu 35% em função da situação de pleno emprego. Ouvir o presidente da Petrobras dizer que ela não é um instrumento de políticas públicas é algo muito grave. Essa é a finalidade dela, senão o setor seria todo privado. Ela é, obviamente, um instrumento de política pública”.

(Fonte: Marco Weissheimer - Sul21)