MENU

PSA Peugeot Citroën planeja dobrar presença no Brasil

Para tornar a montadora menos europeia e mais global, seu presidente mundial foca no Brasil e na China

Publicado: 28 Setembro, 2010 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Em junho de 2009, a indústria automobilística vivia a pior crise de sua história quando o francês Philippe Varin, então presidente mundial da companhia siderúrgica Corus, foi convidado para assumir o comando da operação global do grupo PSA, dono das marcas Peugeot e Citroën.

Embora distante da situação calamitosa de alguns de seus pares como a General Motors e a Chrysler, a PSA atravessava um momento também delicado, registrando queda nas vendas e o primeiro prejuízo financeiro em uma década. Responsável por um processo de reestruturação que recuperou a anglo-holandesa Corus, então próxima da falência, e tornou sua venda possível para os indianos da Tata, em 2007, por 13 bilhões de dólares, Varin trouxe sua experiência como executivo global para dar uma chacoalhada na tradicional montadora francesa.

Uma das metas que definiu é a de tornar a PSA menos europeia e mais global. Hoje, dois terços das vendas da companhia vêm dos países da Europa. "Minha meta é que as vendas nesses países representem metade do total até 2015. Para chegar lá, precisaremos acelerar nos emergentes, como China e Brasil", afirmou Varin, em entrevista exclusiva à EXAME.

No país asiático, o executivo deu início a essa estratégia ao reforçar parcerias com montadoras locais. Em maio deste ano, firmou uma joint-venture com a chinesa ChangAn para produzir carros de passeio e comerciais leves. Ele também pretende dobrar a capacidade de produção em suas duas unidades industriais. O plano, agora, é lançar nove modelos novos na China até o fim de 2011 e, assim, elevar a participação da PSA no mercado chinês dos atuais 3% para 8%.

"Queremos criar massa crítica para poder adaptar nossos modelos de forma mais rápida às necessidades dos consumidores não-europeus", diz Varin. No Brasil, onde a fatia de mercado das marcas Peugeot e Citroën, juntas, é de cerca de 5%, a missão é a mesma. "Temos potencial para fazer muito mais que isso."

Por isso, vamos investir 1,4 bilhão de reais no país nos próximos três anos, uma quantia equivalente ao total investido na última década inteira, para trazer mais produtos e ampliar nossa produção. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Exame - Em 2009, você definiu como meta fazer da PSA uma empresa mais global. Por quê?
Philippe Varin -
O fato de estarmos muito apoiados no mercado europeu foi uma desvantagem durante a crise. Se estivéssemos mais fortes em países emergentes, ela seria menos dura. Mas, comparados a outros concorrentes, conseguimos reagir de forma rápida e forte à turbulência. A existência da companhia não foi ameaçada. No entanto, dois terços de nossas vendas ainda vêm de países europeus. Queremos que, em 2015, metade das vendas venha de fora da Europa. Por isso, estamos focando na Ásia - com a China no topo da lista - e a América Latina - onde a prioridade é, logicamente, o Brasil. O país já tem um mercado de 3,2 milhões de carros, o quarto maior do mundo, à frente da Alemanha.

Exame - Esse não foi um despertar tardio da companhia para a globalização?
Varin -
Estamos há bastante tempo em mercados como Brasil, China e Rússia. Ser global é algo que está no DNA do grupo há muito tempo, mas talvez o esforço para ganhar tamanho nesses países tenha sido menos forte em nossa companhia que em outras. Mas isso está mudando. Um dos sinais disso é que acabamos de reforçar nossa posição na China, firmando uma segunda joint-venture para produção de veículos, com a empresa local ChangAn. Também queremos aumentar nossa participação de mercado no Brasil. Não temos um número mágico, mas certamente podemos fazer muito mais do que fazemos hoje. Minha sensação é que, com nossas duas marcas, em um país como Brasil, estaríamos mais confortáveis perto de 10% do que com os 5% do mercado que temos atualmente.

Exame - Nenhuma das montadoras que se instalou no Brasil na década de 90 conseguiu ultrapassar esse patamar de participação de mercado. Como o senhor pretende fazer isso agora?
Varin -
Estamos investindo 1,4 bilhão de reais apenas nos próximos três anos para trazer mais produtos, ampliar capacidade de produção e aprimorar serviços. Trata-se de um montante equivalente ao total investido na última década inteira. O caminho para ganhar espaço também inclui fazer com que nossas marcas atendam às expectativas dos consumidores brasileiros. Por isso, estamos trazendo, pela primeira vez, modelos desenvolvidos apenas para as necessidades e gostos do brasileiro. Temos um bom número de novos produtos no "pipeline" nos próximos anos. Se formos olhar o que fizemos no passado, podemos dizer que não seremos mais tão lentos.

Exame - Como a PSA Brasil está se preparando para essa nova fase?
Varin -
Nos últimos quatro anos, cerca de 1.000 pessoas, entre profissionais de design e engenheiros, passaram a circular pelos nossos centros técnicos no Brasil para identificar mercados e desenvolver novos produtos, mais adaptados às preferências locais. O C3 Aircross, que lançamos recentemente, é um bom exemplo desse movimento. Ele inaugura nossa participação no segmento de carros esportivos, no estilo "aventureiro", muito apreciado pelo brasileiro. A picape Hoggar, da Peugeot, lançada em maio desse ano, também faz parte de uma categoria bem peculiar. A PSA não lançava uma picape há quase 30 anos. Porém, não deixaremos de trazer os modelos da Peugeot e Citroën que vendemos na Europa. Haverá uma mistura dessas duas estratégias.

Exame - Você mudou boa parte da diretoria da PSA quando assumiu. Por quê?
Varin -
Como passei a maior parte da minha carreira fora da França, pensei que poderia ajudar a PSA a se tornar menos europeia através da minha experiência como um executivo internacional. Fiz uma reformulação no grupo de executivos-chave do grupo. Hoje, dos 11 profissionais que se reportam diretamente a mim, sete vieram de outras empresas. O novo presidente da PSA América Latina, o português Carlos Gomez, é um exemplo disso. (Gomez comandava a operação da Fiat na Espanha e em Portugal). Outro sinal forte da nova fase da companhia, mais global, é que, a partir de setembro, um dos membros da nossa diretoria ficará baseado em Xangai, na China.

Exame - E isso é algo novo para a PSA?
Varin -
A PSA é uma empresa internacional. Porém, antes, basicamente mantinha executivos franceses em outros países. Não é exatamente a mesma coisa que ter uma administração global. Estamos mudando isso.

Exame - A PSA cogita entrar no segmento de veículos populares - os mais vendidos no mercado brasileiro - como uma forma de ganhar mercado mais rapidamente no Brasil?
Varin -
A resposta é sim. Globalmente, estamos trabalhando em uma série de produtos voltados a mercados emergentes, e queremos estar presentes no coração de cada um deles. Então, para o Brasil, lançar um veículo de entrada é algo que estamos avaliando. Mas ainda não há nenhuma decisão concreta a respeito disso.

Exame - Muitos brasileiros criticavam as marcas do grupo por apenas trazer para o Brasil os modelos desenhados e pensados para o público europeu - e ainda com muito atraso. Você concorda com essa visão?
Varin -
Em parte, sim. Quando você tem um modelo global, você precisa fazer seu lançamento em diferentes mercados. É impossível sincronizar todos. Ao mesmo tempo, não é preciso esperar dez anos entre uns e outros. Mas o futuro da PSA será diferente. Estamos empregando todos os esforços para reduzir o tempo de lançamento de nossos veículos em diferentes mercados.

Fonte: Exame