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Região irrigada do rio São Francisco é polo de geração de empregos

Publicado: 27 Novembro, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

O Nordeste foi a única região do país a ter queda no PIB no segundo trimestre deste ano, ante o primeiro, recuo de 0,5%, contra alta de 0,2% no país, segundo cálculo mais recente da 4E Consultoria. E, junto com o Norte, tem o menor saldo de trabalho formal (cerca de 11 mil) no acumulado até outubro. Até setembro, era a única região com saldo negativo (-30,3 mil), segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Ali também está a maior taxa de desemprego do país, 14,8% no terceiro trimestre, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Uma área entre Bahia e Pernambuco, contudo, destoa desse cenário. A pernambucana Petrolina e sua vizinha baiana, Juazeiro, na outra margem do Rio São Francisco, e mais Casa Nova, que juntas contam com 615 mil habitantes, criaram 12,7 mil empregos formais, quase o mesmo número de vagas de São Paulo, cidade com 20 vezes mais habitantes, onde foram gerados 14,8 mil postos de trabalho de janeiro a outubro deste ano, segundo o Caged. São respectivamente o 5º, o 7º e o 18º no ranking dos municípios que mais criaram empregos no país em 2017. Em comum, essas três pequenas cidades formam, com outras cinco, a Região Integrada de Desenvolvimento (Ride) Petrolina-Juazeiro, polo produtor de frutas e vinhos no vale do rio São Francisco, criado no início dos anos 2000.

Dos 50 municípios com pior desempenho no Caged no país, 13 estão no Nordeste. Entre os 50 com maiores criadores de empregos, apenas quatro são nordestinos. Além de Petrolina, Juazeiro e Casa Nova, a lista tem Vicência, no leste pernambucano, que produz cana e banana. O agronegócio - e em parte a indústria, em Juazeiro - tem sido o motor do aumento do emprego formal nessa região do São Francisco, que não sofreu com a seca prolongada que atinge o Nordeste. Juazeiro foi o terceiro município que mais criou emprego formal no país em 2016.

"Como são atividades irrigadas, além de frutas existe a produção de vinhos, a seca não influencia na produção. No caso do vinho é até favorável alguma ausência de chuva", diz o economista Paulo Guimarães, da consultoria Ceplan, de Recife.

Andrea Raquel Cruz Ramos, gerente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), ressalta que as maiores exigências do mercado doméstico e dos importadores têm pressionado a formalização do setor, inclusive entre os pequenos produtores. Desde que começou a seca no semiárido, em 2014, a Codevasf liberou R$ 40 milhões para motobombas flutuantes, que permitem a captação de água do rio São Francisco em período de seca. Isso tem permitido, inclusive o crescimento das culturas de frutas tradicionais de climas temperados, como maçã, embora uvas e mangas sejam os principais produtos da região.

Guimarães afirma que boa parte da atividade econômica desses municípios também tem sido beneficiada pelo câmbio. "Nos últimos dois anos com o dólar entre R$ 3,2 e R$ 3,5 as exportações nessa região permanecem bastante atrativas. Desde 2016 dois voos semanais de carga saem de Petrolina para Europa", relata.

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), as exportações da baiana Juazeiro aumentaram 29% de janeiro a outubro deste ano, para US$ 57,463 milhões, ante US$ 44,581 milhões no mesmo período do ano passado. O saldo comercial, de US$ 36,850 milhões, é 8,6% maior que os US$ 33,915 milhões do mesmo período de 2016. A exportação de frutas como tâmara, figo, abacaxi, abacate, goiaba, manga, uva, melão e melancia, entre outros, responde por quase 60% das vendas externas do município, segundo o Mdic. Outros 27% são artigos de couro. Nas importações, maçã, pera e marmelo lideram as compras (23% do total).

No caso de Petrolina, as exportações aumentaram 7,4%, de US$ 118,413 milhões para US$ 126,933 milhões de janeiro a outubro ante o ano passado, enquanto o saldo comercial subiu 32,7%, de US$ 106,248 milhões, para US$ US$ 140,974 milhões.

A venda ao exterior de frutas como tâmara, figo, abacaxi, abacate, goiaba, manga, uva, melão e melancia, entre outros, responde por 56% das exportações de Petrolina no ano. Embalagens (20% do valor total) e adubos (16%) são os principais produtos importados, segundo o Mdic.

Para Miguel Coelho (PSB), prefeito de Petrolina, o bom momento na geração de emprego formal na cidade é resultado de um conjunto de fatores. Ele diz que durante o período da crise, a fruticultura irrigada, que representa um terço do PIB do município (o restante se divide entre setor público e serviços), foi protegida pelas exportações, pois o câmbio se manteve atraente. Mais especificamente neste ano, conta, há uma recuperação relativa dos empregos na construção com obras de infraestrutura urbana e, em paralelo, um esforço grande formalizar pequenos empreendedores, que estão saindo da informalidade. "Estamos fazendo um trabalho de simplificação de concessão de alvarás e de licenças ambientais e isso ajuda na formalização", afirma.

De fato, dos 5.057 empregos criados em Petrolina até outubro, 4.819 foram na agropecuária e 209 na construção civil. A indústria reduziu 110 postos de trabalho. Em Juazeiro, a indústria criou 2.159 vagas, quase tanto quanto a agricultura, 2.050. Mas a construção civil teve saldo negativo de 12 empregos.

A região irrigada ajuda a compensar o saldo negativo de empregos nas capitais. Recife tem o terceiro pior saldo de vagas formais no país até outubro (-7.372) e Salvador registra um resultado líquido negativo de 2.935 posições de trabalho. O resultado do vale do São Francisco está relacionado justamente à atividade agrícola. "Isso fica mais claro entre os municípios com melhor desempenho em Pernambuco", afirma Ademilson Saraiva, economista da Ceplan.

Na Bahia, no resultado parcial de 2017 vê-se que em Juazeiro e Casa Nova, de fato, ocorre o melhor desempenho, relacionado às atividades de fruticultura irrigada e à fabricação de açúcar, afirma Saraiva.

José Gualberto, presidente da Valexport, entidade que representa os exportadores do vale do São Francisco, diz que o momento do setor é bom, com colheitas produtivas. Ele diz que as contratações devem continuar crescendo até o fim do ano.

(Fonte: Valor Econômico)