MENU

Representante da CNM/CUT reúne-se com presidente da Alcoa

Publicado: 27 Abril, 2007 - 08h00

Escrito por: CNM CUT

Confira abaixo um artigo do jornal estadounidense Tribune-Review sobre o encontro do presidente Alain Belda e acionistas da Alcoa com sindicalistas de vários países. Mais abaixo, uma entrevista com José Maria Araújo, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Luis-MA, que representou a CNM/CUT no encontro.

Alcoa: Belda diz que empresa continua comprometida com as raízes

No último ano a Alcoa mudou sua matriz de Pittsburgh para a cidade de Nova York sob o rumor de que isso seria uma fusão global na mineração almejando lucros recordes.

Apesar da mudança, Alain Belda, presidente executivo, disse sexta-feira que a empresa, que é a gigante do alumínio se mantém comprometida com Pittsburgh na medida em que tem um centro corporativo na costa norte, um centro tecnológico em Upper Burrell. e cerca de 2000 funcionários no Oeste da Pensilvânia.

O Centro Tecnológico, em particular 'é a chave para o nosso sucesso em renovação e aplicação tecnológica além do desenvolvimento de novas tecnologias', disse Belda no encontro anual de acionistas da Companhia. Ele ainda diz que o Centro encontra soluções para as necessidades dos clientes e está conectado com outros centros de pesquisa da Alcoa na Rússia, China e Índia.

Enquanto a Alcoa não está diretamente endereçada nos noticiários como um alvo de US$ 40 bilhões tanto da gigante da mineração australiana Billiton e da companhia baseada em Londres, Rio Tinto, Belda diz que o 'suas folhas de balanço dizem que eles têm muito dinheiro'.

Mas se uma companhia tivesse a Alcoa na sua mira, Belda disse acreditar que alguém teria telefonado para ele 'antes de colocarem as notícias nos jornais. E ninguém me ligou'.

Apesar de tudo isso, Belda avisou aos acionistas que a Alcoa está se movendo em 2007 'com grande força'.

Na última semana, Alcoa divulgou que teve o melhor trimestre de sua história, com renda líquida 9% maior (US$ 662 milhões) e crescimento de 11% nas vendas, atingindo US$ 7,9 bilhões. Em todo o ano de 2006 o lucro líquido da empresa foi de US$ 2,16 bilhões, um crescimento de 72% se comparado aos US$ 1,2 bilhões de 2005.

'Este não é uma maravilha de trimestre', disse Belda, citando a razões por um forte 2007. Uma fundição de alumínio na Islândia entrará em operação; as operações na China e na Rússia vão  atingir o equilíbrio nas receitas; os preços do alumínio são bons e a demanda é forte.

'Não é como se nós tivéssemos maus resultados, e não é como se nós tivéssemos um crescimento inconsistente', Belda disse em resposta para um acionista que quis saber porque deveria manter suas ações da Alcoa.

Em pontos específicos, Belda disse que a Alcoa está revisando a performance do segmentos de  embalagens e consumidores. Embalagens têm 'resultados adequados', mas a companhia terá que considerar que isso 'pertence ao portfólio da Alcoa', disse.

Belda foi informado pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Luis-MA, José Maria Araújo, qua a Alcoa terá problemas no Brasil na próxima semana, quando 5 mil trabalhadores - maioria mineiros - planejam brigar por aumentos salariais. Falando com a ajuda de um interprete, Araújo disse que o sindicato está negociando por um aumento salarial porque a Alcoa aumentou a carga diária de trabalho para 8 horas.

Belda, um marroquino naturalizado brasileiro, respondeu que os trabalhadores brasileiros têm trabalhado 36 horas semanais, mas que o governo tolera uma jornada de 44 horas semanais.

Os rumores de uma aquisição desperta o interesse dos 9 mil membros do USW que trabalham nas plantas da Alcoa, disse James Robinson, presidente da comissão do USW que negociou um contrato com a Alcoa no último ano.

'BHP Billiton e a Rio Tinto podem quebrar a companhia' se algum deles comprarem a Alcoa, disse Robinson, que liderou uma delegação oficial de sindicalistas das plantas da Alcoa na Austrália, Brasil, Islândia, México e Suriname.

O USW tem unido forças com representantes sindicais doa trabalhadores da Alcoa naqueles países que apóiam os esforços para o avanço dos direitos e do padrão de vida dos funcionários da Alcoa em todo o mundo, disse Robinson.

José Maria Araújo, que foi aos EUA como representante da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), conta mais detalhes de seu encontro com Alain Belda:

Como foi o encontro com Alain Belda?

José Maria - Durante a reunião com os acionistas e, nós, representantes dos trabalhadores da Alcoa, ele não 'reconheceu' o esforço dos trabalhadores que produzem todo este lucro. No Maranhão, somos recordistas mundiais de produção de alumínio. A nossa planta é o maior complexo integrado de alumínio e alumina no mundo. Mostrei que a empresa não respeita as leis trabalhistas ao formar turnos fixos de 8 horas diárias, por seis dias da semana, que somam 48 horas de trabalho. Também disse que na planta em Juruti-PA, estão cometendo crimes ambientais, ao desmatarem e despejarem dejetos, mas mesmo assim ele continua afirmando que cumpre todas as leis. Ele foi prepotente ao ponto de dizer que plantou a primeira árvore em São Luiz, e que o crescimento da cidade se deve à Alcoa. Mas a Alcoa só está a pouco mais de 20 anos numa cidade que tem quatro séculos de história. Uma árvore plantada não é suficiente para recuperar os desmatamentos. É apenas um símbolo, nada mais.

Quais são os problemas específicos?

O problema é que a Alcoa, se comprometeu a ajudar a comunidade de Juruti, por meio de um acordo, onde cuidariam da infra-estrutura da cidade, fariam escolas e postos de saúde, entre outras coisas. Mas na verdade, toda a infra-estrutura montada até agora só é para benefício da empresa e não da população. Durante o meu discurso, eu só podia falar o equivalente a uma folha, mas digo aqui que a situação é cruel. Funcionários da Camargo Correia (que presta serviços para a Alcoa) têm um banco de débitos em caso de chuva. Ou seja: se chover durante o horário de trabalho, os trabalhadores interrompem a produção, mas essas horas inativas eles ficam devendo para a empresa, que por sinal se dispôs a pagar apenas R$ 0,05 por metro quadrado de terra desmatada. Os trabalhadores chamam isso de 'proposta imoral', pois com o extrativismo natural, a empresa acabou com a qualidade de vida da população local. Mas por outro lado, a Alcoa passa a ser auto-suficiente na produção de alumínio.

Mas voltando ao discurso...

Então, por só poder falar uma folha, enfoquei mais na questão de crimes ambientais cometidos pela companhia e do desrespeito às leis trabalhistas em São Luiz  e Poços de Caldas (MG), em que como já disse, os trabalhadores passaram de 6 para 8 horas de trabalho diário, em uma jornada fixa de seis dias por dois de intervalo. Este tipo de jornada não permite o descanso do trabalhador e diminui o tempo de vida útil do profissional, pois trata-se de uma condição totalmente insalubre. Mas o pior de tudo, é que nestes dois dias, a empresa obriga o funcionário a se locomover até a planta sob a pressão de que se houver paralisações por conta do sindicato, os 'folguistas' devem assumir as posições para que a produção não seja interrompida. Por tudo isso, o índice de afastamento de trabalhadores (junto ao INSS) é muito alto.

E o que eles dizem sobre isso?

Na cabeça deles, a empresa prega o reconhecimento aos funcionários. Mas na minha opinião, reconhecimento é respeitar durante os diálogos, na melhoria dos salários e das questões trabalhistas. Todas as vezes que perdem um processo, recorrem. Há processos rolando há mais de 18 anos. Não pagam periculosidade nem insalubridade. Isso não é reconhecimento.

Há algum projeto dos trabalhadores para reverter esta situação?

No Brasil, foi dado o alerta e por isso, estamos em estado de greve em São Luiz. E na questão mundial, fizemos um encontro separado dos acionistas durante essa viagem aos EUA, em que discutimos a criação de um comitê mundial dos trabalhadores na Alcoa.  Há a necessidade do sindicato global nas empresas globais e, por isso, a necessidade de quebrar barreiras com a união de trabalhadores do mundo tudo, independente da questão de idiomas ou de cultura.

E quais são os planos daqui por diante?

Primeiramente as ações serão centralizadas por meio virtual, na USW de Pittsburgh. A periodicidade de encontros será de acordo com a continuidade e crescimento do comitê. E isso só virá com o tempo.

Fontes: Tribune-Review e Assessoria de Imprensa CNM/CUT