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Sanção dos EUA à Bombardier ajuda Brasil na OMC

Publicado: 28 Setembro, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

A queixa do Brasil contra o Canadá, devido a subsídios bilionários dados à Bombardier, recebeu um forte impulso ontem com a decisão dos Estados Unidos de impor sobretaxa preliminar de 220% na venda de jatos do construtor canadense no mercado americano.

Como informou o Valor, o Orgão de Solução de Controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC) vai automaticamente instalar amanhã um painel (comitê de investigação) contra o Canadá, a pedido do Brasil, com o objetivo de defender a Embraer. Essa nova briga entre os dois grandes produtores de jatos regionais será influenciada pela sobretaxa americana, que poderá ser anunciada como definitiva em dezembro. Poderá até ser menor, mas ainda significativa.

O governo dos EUA atendeu reclamação da Boeing e considerou que os jatos da C Serie da Bombardier negociados com companhia aérea Delta receberam subsídios públicos ilegais e foram vendidos bem abaixo do custo de produção. Quando perdeu a encomenda bilionária da Delta, de 75 aparelhos, a Embraer queixou-se de que a Bombardier tinha ganho com ajuda do Tesouro canadense, baixando o preço em até 35%.

A decisão de Washington vai ajudar o Brasil no caso na OMC também em razão de documentos que o Canadá certamente deve ter apresentado para se defender. Assim, não terá como argumentar de que não pode entregar os mesmos documentos na OMC.

O Canadá reagiu duramente à decisão dos EUA de sobretaxar os aparelhos da Bombardier. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, já tinha ameaçado suspender negociações para compra de jatos Super Hornet, da Boeing, para o exército canadense, caso Washington adotasse sobretaxa contra a Bombardier. Agora é ver o que ele vai fazer.

O Reino Unido também reagiu. A Bombardier é um dos principais empregadores na Irlanda do Norte - cerca de 8 mil pessoas -, onde são fabricadas as asas e outras partes dos aparelhos da C Serie. Para analistas, a situação de Bombardier se complica, tanto do lado da aeronáutica como do transporte ferroviário. Existe o risco de a encomenda dos 75 jatos para a Delta ser anulada.

Quanto à Bombardier Transport, pode ficar isolada agora com a fusão anunciada de seus dois concorrentes europeus, a alemã Siemens e a francesa Alstom.

O presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, disse ontem que a decisão americana de questionar o programa de financiamento de aviões da Bombardier é positiva para a fabricante brasileira. "O que está em jogo é a Bombardier recebendo muito dinheiro do governo e utilizando esses recursos para vender os aviões abaixo do custo", afirmou Souza e Silva.

Para o presidente da Embraer, a decisão do governo americano e a batalha brasileira na OMC contra o Canadá são fundamentais para trazer de volta o equilíbrio de mercado ao setor de jatos comerciais, segmento que representa 60% do faturamento anual da empresa brasileira.

"Vemos um mercado em que há novos entrantes da China, Rússia e Japão, e todos eles muito apoiados por governos. O encaminhamento dessa disputa contra o Canadá pode ter reflexos nesses projetos", disse Souza e Silva.

"Se a gente não achar uma equação, a gente pode sair do mercado, fechando empregos no Brasil para gerar empregos no Canadá. Afinal, cada vez que a gente perde uma venda hoje, só teremos hoje outra oportunidade daqui a 15 ou 20 anos", disse o presidente da Embraer. "No momento entretanto, tenho uma visão otimista, de que vai prevalecer a concorrência em mesmo nível, na qual somos competitivos", afirmou.

(Fonte: Valor Econômico)