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Scania-1978: A greve que mudou o sindicalismo no Brasil

Publicado: 10 Maio, 2007 - 08h00

Escrito por: CNM CUT

No próximo sábado, dia 12 de maio, completam-se 29 anos da greve de 1978 dos trabalhadores na Scania, em São Bernardo. Muito mais que uma luta salarial, a paralisação recolocou os trabalhadores na vida política do Brasil e transformou o sindicalismo.

29 anos da greve que mudou o Brasil

No dia 12 de maio de 1978 os trabalhadores na Scania bateram o cartão, trocaram de roupa, foram até seus locais de trabalho mas não ligaram as máquinas e cruzaram os braços.

Era uma greve por melhores salários que se espalhou pelo ABC e depois pelo País, abrindo caminho para uma nova proposta sindical.

O movimento foi uma decisão dos trabalhadores e já refletia a nova postura que o Sindicato havia adotado, de não se submeter às imposições políticas e econômicas da ditadura militar.

Era um tempo de sufoco. Em 1977, o general Ernesto Geisel, presidente do País, fecha o Congresso para baixar medidas tentando impedir o avanço da oposição.

Mas o movimento popular já estava nas ruas. Desde o início dos anos 70 a sociedade se rearticulava contra a repressão dos generais.

Os estudantes saem às ruas exigindo a democratização do País, o movimento pela anistia cresce e os trabalhadores participam de movimentos contra a carestia e a alta do custo de vida.

Em 1977, o Sindicato desencadeia campanha pela reposição salarial de 34,1%, já que os militares haviam manipulado os índices de inflação e imposto um reajuste menor.

A campanha não trouxe ganhos salariais, mas políticos. Ela mostrou um grande descontentamento da categoria contra um governo repressivo e também uma disposição de luta por um País diferente, com melhores condições de trabalho e mais liberdades políticas.

Sindicato denuncia farsa e muda cenário

Em fevereiro de 1978, Lula assume pela segunda vez a presidência do Sindicato e, em seu discurso, pede para a categoria ir à luta.

Na campanha salarial daquele ano os metalúrgicos denunciam a farsa da negociação já que, em nome dos sindicatos, a federação dos metalúrgicos fingia que negociava com os patrões até o governo militar determinar o índice de reajuste.

Por isso, o Sindicato rompe com a Federação, avisa que vai negociar em separado e, na pauta, não inclui o índice de reajuste salarial.

Nas assembléias, Lula avisa que os metalúrgicos não iam legitimar um índice de reajuste fixado arbitrariamente pelo governo, o que de fato acabou acontecendo.

A campanha não resultou em avanço salarial. Mas ela apontou para a categoria que as mudanças só aconteceriam com luta.

Mostrou para os trabalhadores que estava nas mãos deles a única maneira de mudar as condições de trabalho e de salário a que estavam submetidos.

Foi aí que, no dia 12 de maio, os trabalhadores na Scania receberam seus holerites com o reajuste fixado pelos militares e tomaram a decisão de desligar as máquinas e cruzar os braços.

Logo em seguida pararam os trabalhadores nas outras montadoras e o movimento se espalhou pela região e pelo País. Até o final do ano, centenas de greves foram realizadas, passando por cima da lei de greve, que impedia as paralisações, e da política econômica.

Assim, a campanha salarial dos metalúrgicos representou um marco no processo de mudança no sindicalismo brasileiro, pois além de começar a impedir que o governo decidisse sobre o reajuste salarial para os trabalhadores, iniciou uma nova prática sindical, que passou a ser chamada de novo sindicalismo.

Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos do ABC