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Scania vê dificuldades na recuperação global

Publicado: 12 Março, 2010 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

O fabricante sueco de caminhões Scania avalia que a recuperação em volume desse segmento da industria automotiva vai "demorar ainda alguns anos", por causa da enorme desaceleração da economia europeia.

Em entrevista ao Valor, Martin Lundstedt, vice-presidente do grupo sueco, disse que a capacidade de produção globalmente é suficiente, e, portanto, não está ainda na ordem do dia o plano de aumentar a capacidade no Brasil.

O projeto é de ampliar a produção nacional de 25 mil para 30 mil unidades de caminhões e ônibus no país. Mas isso continua sem data para ser implementado, mesmo o Brasil sendo hoje o maior mercado da Scania, representando 20% do total, e produzindo não apenas para a América Latina, mas para os mercados globais, conforme Lundstedt.

As vendas no Brasil aumentaram nos últimos três trimestres de 2009 e a expectativa é de que continuem a crescer este ano. Para isso, conta agora com seu próprio banco no país para facilitar o financiamento para os clientes.

Mas vê também "incertezas" sobre concessões para operadores que podem afetar o segmento de ônibus. O executivo admite que "dependendo do resultado da eleição", o mercado automotivo pode ser afetado "mais pelo fim do ano", evitando porém entrar em detalhes.

Lundstedt afastou, por outro lado, a possibilidade de cooperação proximamente entre Scania e o produtor alemão de caminhões MAN, ao contrário do que foi anunciado pela direção da Volkswagen. "Não há planos à vista de cooperação entre Scania e MAN na América Latina, mas não quero comentar o que diz a Volks", afirmou o executivo.

A WV detém 30% da MAN e 71% dos votos na Scania, e acredita que um aliança entre os três na área de caminhões pode gerar uma economia de até € 1 bilhão para as companhias.

No ano passado, o lucro operacional da Scania caiu 12,5% e as vendas líquidas diminuíram 30%. Para o Deutsche Bank, o segmento de automóveis começou a estabilizar um pouco globalmente, mas não o de caminhões e "não se pode esperar milagres" na Europa ocidental em 2010.

Na avaliação do banco, a industria automotiva global já passou pela pior fase de sua mais dramática crise de todos os tempos, ocorrida nos últimos dois anos, mas uma nova "turbulência" no setor parece inevitável por causa do excesso de capacidade.

Vários governos deram subsídios de bilhões de dólares para evitar uma queda maior na demanda de carros e a retirada desses estímulos pode "materializar" mais dificuldades no setor, de acordo com nota do analista Eric Heymann. A Alemanha foi particularmente generosa com um pacote de € 5 bilhões para os consumidores trocarem seus carros velhos por novos. Vários países europeus, os Estados Unidos e a China fizeram o mesmo.

As medidas foram, porém, mais bem sucedidas na China, onde a demanda por carros cresceu mais de 40% em 2009, mas este ano a expansão ficará em "apenas" 10%. Já do outro lado, nos EUA e na Espanha a venda de carros caiu 20%, ou seja, os subsídios apenas evitaram um desmoronamento ainda maior no comércio de automóveis.

Mesmo que haja sinais de alguma recuperação em alguns mercados, o fato é que o persistente excesso de capacidade é um "virulento problema" para o setor, diz o Deutsche Bank. Nos EUA, o ajuste na industria automotiva apenas começou. Ao mesmo tempo, novas fábricas estão sendo construídas ou em projeto na Ásia, mas tambem nos EUA.

Ou seja, o excesso de capacidade persistirá, apesar de a demanda global por carros continuar também a aumentar nos próximos anos. O preço que o setor pagará será uma concorrência mais dura e pressão para os preços caírem. E uma nova crise não parece distante.

Fonte: Valor