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Setor auto: Salão de Frankfurt mostra 'distância' entre mercado brasileiro e estrangeiro

Publicado: 15 Setembro, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Nos próximos dias, o consumidor europeu terá a oportunidade de apreciar, no salão do automóvel de Frankfurt, que abre ao público amanhã, uma vitrine de inovação tecnológica automotiva e exemplos de um dos maiores saltos vistos nesse setor desde que Henry Ford inventou a linha de montagem. A reinvenção do carro em si, da energia que o move e a mudança no seu uso revolucionam essa indústria.

A edição deste ano do maior salão do automóvel do mundo confirma tendência que há vários anos tem marcado outras grandes feiras do setor, como Paris e Detroit, e mesmo edições passadas em Frankfurt: o aprimoramento dos veículos elétricos e início dos testes dos carros autônomos se transformaram numa quebra de paradigma.

O que surpreende, no entanto, agora é a velocidade com que essas mudanças têm avançado. O engajamento de diversos governos, pressão de ambientalistas e mudança nos hábitos das novas gerações formaram o cenário ideal para indústria automobilística e seus novos parceiros do setor de tecnologia juntar esforços para acelerar o desenvolvimento do meio de transporte de um futuro que não está mais distante.

O ano de 2020 parece ser, a se confirmarem os anúncios que têm sido feitos pelas montadoras em Frankfurt, o ano da virada. Com o apoio do governo, até 2020 será criada na região oeste da França uma rede inteligente de energia. A Honda decidiu aproveitar esse projeto e apresenta em Frankfurt um sistema que incorpora veículos elétricos a uma rede inteligente de fornecimento. A ideia é integrar residências e veículos. A eletricidade recebida pela rede ou gerada em painéis solares poderá ser usada em estabelecimentos ou carregar veículos. Enquanto o carro estiver na tomada a energia pode ser armazenada e usada na residência ou vendida de volta à rede.

A Volkswagen também promete para 2020 o lançamento de uma nova família de veículos elétricos, que vai do modelo compacto até uma van, incluindo um utilitário esportivo cujas portas poderão ser abertas por comando de voz.

Mas o maior salto rumo à eletrificação veicular vem da China, o maior mercado do mundo, que fixou regras rigorosas para estimular o uso do veículo elétrico. O presidente do Sindicato da Indústria de Componentes no Brasil (Sindipeças), Dan Ioschpe, lembrou esta semana que os chineses criaram uma nova ordem mundial que surpreende pela velocidade em que evoluiu em apenas um ano, pressionando a Europa a seguir o mesmo caminho. A China é o mercado de veículos com energias alternativas que mais cresce no mundo.

Há quem alerte que a geração de energia por termoelétricas faz com que os chineses poluam mais. Mas até americanos se rendem ao que prega o maior mercado de veículos do mundo. Há poucos dias, a Ford anunciou parceria com a Anhui Zotye Automobile, fabricante de carros elétricos chinesa para desenvolver, produzir e vender uma nova linha de modelos movidos a eletricidade naquele mercado.

Mas não apenas energias alternativas estão na agenda do setor automotivo. No Reino Unido, a Jaguar Land Rover anunciou que vai aumentar o uso de alumínio reciclado nas carrocerias dos seus veículos. A iniciativa servirá para reduzir desperdícios e também emissões de carbono.

O Brasil é o 10º maior fabricante de veículos do mundo. Mas o debate em torno dos avanços, principalmente relacionados à matriz energética, distanciou-se do que acontece no mundo desenvolvido. Na próxima política industrial para o setor, o Poder Público vai fixar metas de economia e emissão de poluentes para veículos. Mas são movimentos muito tímidos em relação ao que se vê em outras partes do planeta.

Governo e montadoras negociam um novo modelo de cobrança de IPI que estimula veículos mais econômicos e menos poluentes, mas que, ao mesmo tempo, preserva a velha fórmula de cálculo do imposto de acordo com a cilindrada do motor a combustão. Além disso, inspeção veicular, renovação da frota e reciclagem foram jogados para o longo prazo.

Os argumentos para explicar o distanciamento do cenário brasileiro do que a indústria apresenta em importantes vitrines da Europa assemelham-se a justificativas usadas numa época em que o país, com mercado fechado, colocou sua indústria automobilística dentro de uma redoma. No caso dos carros elétricos, as explicações apontam para a falta de infraestrutura para recarga.

Indústria e governo aproveitam o momento para fazer propaganda em torno do etanol. A iniciativa brasileira de investir numa energia alternativa a partir da cana e a consequente criação do carro flex, que usa álcool, gasolina ou a mistura de ambos, foi, de fato, marcante. Mas será que em tempos de globalização de projetos as montadoras estão dispostas a desenvolver um tipo de carro para os países do Primeiro Mundo e outro para o Brasil e demais regiões emergentes?

Nos últimos anos, os automóveis vendidos no Brasil aproximaram-se significativamente dos que se veem nas ruas dos países desenvolvidos. Mas agora corremos o risco de reviver, num futuro não muito distante, os tempos das "carroças", forma como, em 1989, durante campanha à Presidência da República, Fernando Collor de Mello referiu-se aos carros brasileiros.

(Fonte: Marli Olmos – Valor Econômico)