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EUA: solidariedade internacional marca encontro em defesa dos metalúrgicos na Nissan

Publicado: 13 Outubro, 2014 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Divulgação
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Sindicalistas no encontro em Canton. Cayres é o terceiro em pé a partir da direita

A IndustriALL Global Union realizou um encontro de suas entidades filiadas para apoiar a luta em defesa da filiação dos trabalhadores na fábrica da Nissan/Renault em Canton, no Mississipi (EUA) ao United Auto Workers (UAW), o sindicato nacional dos trabalhadoras nas montadoras. O evento aconteceu em Canton entre os últimos dias 8 e 10 e nele os dirigentes debateram a dificuldade em sindicalizar os trabalhadores, as práticas antissindicais da montadora e as diferenças das leis trabalhistas dos trabalhadores norte-americanos com os demais países.

A IndustriALL representa 50 milhões de trabalhadores do ramo industrial em 140 países e se tornou uma das principais referências na luta por condições dignas de trabalho e pelos direitos sindicais em todo o mundo. Ela foi criada em 2012, a partir da fusão das entidades internacionais FITIM (metalúrgicos), ICEM (químicos) e FITTVC (têxteis/vestuário).

O encontro em defesa dos metalúrgicos na Nissan no Mississipi contou com a presença de sindicalistas do Brasil, Japão, Espanha, Reino Unido, África do Sul, França e lidranças do UAW. A delegação brasileira foi composta por João Cayres, secretário geral e de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), Monica Veloso, vice-presidente da Confederação dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM/Força Sindical) e Paulo Pissinini, do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (Força Sindical). 

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Delegação brasileira: a partir da esq., Paulo Pissinini, Monica Veloso e João Cayres


Nos EUA, a sindicalização só é permitida numa fábrica se tiver a aprovação de 50% mais um dos trabalhadores, por meio de eleição secreta. A Nissan pressiona os metalúrgicos para que essa votação não aconteça. Por isso, o UAW lançou uma campanha mundial contra as atitudes antissindicais da montadora.

Segundo João Cayres, para evitar a organização dos trabalhadores, a empresa ameaça demitir e até fechar a fábrica se o trabalhador votar pela filiação ao sindicato. “Os metalúrgicos têm muitas queixas sobre problemas de saúde e segurança no trabalho, assédio moral e aumento do número de trabalhadores precarizados por meio da terceirização. Na fábrica, os companheiros se sentem acuados e aqueles que se manifestam a favor da representação sindical são perseguidos e, muitas vezes, demitidos”, contou.

Foi o caso de Calvin Moore, trabalhador que foi demitido por sua militância sindical. Moore é um dos mais ativos militantes em defesa do direito de sindicalização dos trabalhadores na Nissan. Depois de pressão do sindicalismo internacional, a empresa readmitiu o trabalhador.

Para Cayres, os Estados Unidos precisam de uma lei geral para regulamentar a representação nas empresas e assim acabar com a intimidação e ameaças das empresas. “O Sul deste país merece o direito de ter sua representação sindical, assim como os trabalhadores de todo o mundo têm nessa mesma multinacional. No que diz respeito a direitos trabalhistas é impressionante verificar como estamos à frente dos norte-americanos. Lá, os trabalhadores não têm o direito à livre associação, à representação sindical e nem acordos coletivos de trabalho”, contou.

Segundo Cayres, o encontro evidenciou mais a luta para melhorar as condições de vida e de trabalho em Canton e no mundo e ganha mais destaque com a solidariedade internacional. “É preciso romper fronteiras para dizer que direitos sindicais são direitos civis. Juntos, somos mais fortes para avançar e vencer”, ressaltou o secretário.

Práticas Antissindicais
A metalúrgica Cristiane Neves, trabalhadora na Mercedes Benz de São Bernardo do Campo (SP),  também conheceu a realidade de empresas que têm práticas antissindicais pelo mundo. Ela representou o Brasil no Encontro do Setor Automotivo da IndustriALL Global Union, realizado entre os dias 24 a 26 de setembro, em Jakarta, na Indonésia. 

Segundo Cristiane, que integra o Comitê Sindical dos Trabalhadores na Mercedes, o quadro apresentado no encontro mostra que em alguns países a organização sindical é complicada. “A situação está difícil na Tailândia, Indonésia e no sul dos Estados Unidos (caso da Nissan). Os países e as empresas têm práticas antissindicalistas e os sindicatos não podem agir em defesa do trabalhador. O encontro em Jacarta reforçou também a presença brasileira nos debates globais do setor e permitiu o intercâmbio de informações regionais com países de todo mundo”, disse.

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Cristiane Cristiane
Cristiane ao lado de representantes da Tailândia e Estados Unidos 

Em sua apresentação sobre o Brasil, Cristiane explicou o papel da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT na elaboração da política industrial para o setor e a luta para preservar os empregos no país. “Expus que a CNM/CUT tem um diálogo direto com ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Mauro Borges, para solicitar iniciativas de incentivo à indústria e, consequentemente, a preservação e geração de empregos. Os participantes ficaram impressionados com o crescimento e a abertura de novos caminhos para a política industrial no país”, relatou a metalúrgica, referindo-se ao Plano Brasil Maior, criado no governo Dilma, que estabeleceu a política para fortalecer a indústria nacional. 

Cristiane também destacou o debate sobre os Acordos Marco Internacionais (AMIs), que têm as diretrizes baseadas nos princípios da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e no relatório dos direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas). “Tudo tem uma interligação. Os AMIs são frutos do trabalho das redes sindicais. Já é uma realidade que normatiza os códigos de conduta global das empresas e que foca a responsabilidade social”, simplificou.

(Fonte: Shayane Servilha - Assessoria de Imprensa CNM/CUT)