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Suíça confirma investigação da Alstom por suspeita de corrupção no Brasil

Empresa é suspeita, entre outros crimes, de pagar propina por contrato com o metrô de SP.Alstom ressalta que nenhuma ação legal foi movida contra a companhia

Publicado: 07 Maio, 2008 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

A justiça da Suíça confirmou nesta quarta-feira (7) a abertura de uma investigação sobre supostos subornos que o grupo industrial francês Alstom teria pago para obter contratos na América Latina, particularmente no Brasil, e na Ásia.

A Alstom está sendo investigada na Suíça e na França por uma suspeita de que tenha pago propina para garantir os contratos em obras como a expansão do metrô de São Paulo e a construção da hidrelétrica em Santa Catarina. Pessoas ligadas à multinacional estão sob investigação por corrupção e lavagem de dinheiro em obras em várias partes do mundo.

O Ministério Público suíço confirmou a investigação, que surgiu de um relatório da consultoria KPMG. A Alstom deixou claro que não existe nenhum caso aberto contra ela e que as pessoas citadas não têm contato com a empresa desde 2001.

"O Ministério Público (da Suíça) está conduzindo uma investigação com sua polícia judicial sobre pessoas que pertencem ao grupo francês Alstom por corrupção, lavagem de dinheiro e outros delitos que teriam sido praticados na aquisição de contratos de infra-estrutura na América do Sul e na Ásia", afirmou Walburga Bur, chefe de comunicação do Ministério Público da Suíça.

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"Não toleramos essas práticas em nossa empresa. E isso por várias razões: a primeira é ética. Mas também para preservar a nossa reputação. Faremos de tudo para defendê-la", afirmou Patrik Kronm, presidente da empresa de engenharia francesa. Apesar de dizer que não sabe do que se trata, o executivo aponta que "vai continuar a colaborar" com a Justiça. "São velhas histórias sobre pessoas que não têm relação com a empresa ou que a deixaram há anos", afirmou.

Contatos entre os suíços e os procuradores brasileiros também teriam ocorrido nos últimos meses para tentar reconstituir o percurso do dinheiro pago para garantir contratos. Um brasileiro estaria na lista de 24 suspeitos pelos crimes envolvendo a empresa. Por enquanto, porém, as autoridades suíças se recusam a dar informações sobre quem seriam as pessoas.

As suspeitas seriam de que pessoas ligadas à Alstom teriam separado milhões de euros para usar como propina para garantir contratos internacionais. Esse dinheiro estaria em empresas laranja criadas na Suíça e Liechtenstein, dois paraísos fiscais. No caso de Liechtenstein, até mesmo os nomes dos acionistas e do dono da empresa registrada podem ser mantido em sigilo absoluto.

Esse dinheiro seria enviado a pessoas da Alstom na Ásia - Indonésia e Cingapura - além de Brasil e Venezuela. Segundo a edição de terça-feira do jornal "The Wall Street Journal" (WSJ), esse dinheiro viajaria em pacotes com notas de US$ 100.

Brasil

No Brasil, o WSJ indica que a investigação aponta que um orçamento de US$ 200 milhões foi identificado para pagar comissões de 15% e garantir que um contrato fosse assinado para a construção de uma hidrelétrica em 2001. Trata-se da hidrelétrica de US$ 1,4 bilhão de Itá, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os documentos apontam que metade das comissões teria terminado em contas em bancos fora do país.

Outra obra suspeita seria a do metrô de São Paulo. Para conseguir o contrato de US$ 45 milhões, a empresa teria pago propinas de US$ 6,8 milhões para autoridades. Os suíços querem agora uma ajuda do Brasil para identificar 24 pessoas que teriam participado do esquema. Um deles seria até mesmo um representante de um político. O documento aponta que esse intermediário garantiria apoio político para a empresa na concorrência. O preço seria 7,5% do valor do contrato do metrô.

Alstom, metrô e governo

Pagar comissões a autoridades estrangeiras já foi permitido em muitos países europeus. Na França era possível até abater esses gastos do imposto de renda.

A lei antipropina, aprovada em 2000, proibiu esse tipo de pagamento no país. Mas as investigações indicam que a prática continua. No ano passado dois ex-representantes da Alston admitiram em depoimento que pagaram propina em nome da empresa.

Em nota, a Alstom diz que as acusações são baseadas em hipóteses e especulações. E ressalta que nenhuma ação legal foi movida contra a companhia.

O Metrô de São Paulo informou, também por nota oficial, que está averiguando os contratos com a empresa entre 1995 e 2003.

"[Esses são] Fatos supostos anteriores ao meu governo e eu vou tomar conhecimento de toda a investigação, seja feita na Suíça, na França, e será levada em consideração por nós, que vamos investigar a fundo os elementos que eles possam fornecer", afirmou o governador de São Paulo José Serra.