MENU

Trabalhadores da Argentina, Brasil e México debatem ação frente às multinacionais

Publicado: 21 Março, 2016 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Divulgação/IOS
ProjetoProjeto
Cayres (microfone) destaca papel das redes sindicais para organizar trabalhadores

De que forma o avanço do capital globalizado sobre os países em desenvolvimento pode levar ao desrespeito dos direitos trabalhistas? Como as empresas multinacionais, com suas cadeias de produção espalhadas pelo mundo, buscam tirar vantagens sobre legislações fragilizadas e pouca fiscalização das condições de trabalho? A organização de trabalhadores e trabalhadoras em redes sindicais pode fortalecer a luta por direitos e por trabalho decente? Esses foram alguns dos questionamentos que guiaram os debates de seminário que reuniu trabalhadores metalúrgicos, químicos, da construção e do vestuário, em Buenos Aires, na Argentina, entre os últimos dias 15 e 17.

O evento fez parte das atividades promovidas pelo projeto Ação Frente às Multinacionais na América Latina, que envolve redes de trabalhadores das quatro categorias no Brasil, Argentina e México. Estiveram presentes nas atividades cerca de 100 representantes de trabalhadores dos três países, dirigentes de sindicatos globais, além de representantes do atual e do governo passado na Argentina.

“As multinacionais dominam nossas indústrias. Devemos trabalhar juntos para criar um poder sindical mundial, e é isso que estamos fazendo. Estamos criando redes sindicais nessas grandes indústrias. Essa é um pensamento muito lógico: se as empresas possuem estratégia mundial, também precisamos de estratégias sindicais mundiais”, ressaltou o secretário-geral da IndustriALL Global Union, Jyrki Raina. “Somente 7% dos trabalhadores em todo o mundo são sindicalizados. Se quisermos manter nossa legitimidade como sua voz no mundo, devemos lutar por maior sindicalização, por organizar trabalhadores, por envolver mais jovens e mais mulheres”, completou.

A IndustriALL é a confederação internacional dos trabalhadores na indústria, representando mais de 50 milhões em todo o mundo.

Dificuldades comuns
Durante a atividade, também foram apontadas dificuldades comuns para os sindicatos nos três países, entre elas de conseguir informações em diferentes unidades de empresas, de negociações unificadas, e de garantir que as multinacionais não mudem suas plantas para lugares que não possuem sistemas fortes de fiscalização e garantia de direitos.

“O processo de fragmentação dos acordos coletivos permite que as empresas mudem suas plantas, desloquem suas fábricas como for mais conveniente. Isso gera salários menores, gera descumprimento de direitos”, afirmou o pesquisador do Instituto Observatório Social e coordenador do projeto, Hélio da Costa. “Hoje, cerca de 40 empresas concentram mais da metade das riquezas mundiais. Elas possuem monopólio não apenas na economia mundial, mas influenciam diretamente a política de vários países. Isso coloca em risco o direito dos trabalhadores”, completou.

“Vemos no México, por exemplo, uma empresa fechar em um dia e, no dia seguinte, abrir em outro lugar e recontratar os trabalhadores com salários inferiores”, completou o diretor da IndustriALL João Cayres. “No Brasil, conseguimos consolidar redes que trocam informações sobre diferentes plantas. Essas redes ajudam os sindicatos, trabalham com eles para garantir que os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras sejam respeitadas”, assinalou Cayres, que é metalúrgico e secretário geral da CUT/SP.

“Em nosso país, há uma máfia sindical composta por centrais integradas ao Congresso. O movimento sindical mexicano se encontra fragmentado. Há 5 mil confederações controladas por essas máfias”, criticou o representante do ramo químico mexicano, Victor Flores. “Esses fatos explicam a queda alarmante dos salários, que hoje estão em cinco dólares por jornadas de oito horas de trabalho, e o desrespeito sistemático aos direitos dos trabalhadores. Por isso é importante continuarmos fortalecendo a organização em rede”, considerou.

“Os antecessores das redes sindicais foram os comitês europeus de empresas. Chegaram a existir 300, 400 comitês na Europa. Eles sempre foram conhecidos por defender os direitos trabalhistas no continente e lutar para que esses mesmos direitos fossem respeitados também nos países periféricos onde as empresas abriam plantas”, lembrou o secretário geral da Federação dos Trabalhadores na Indústria ligado à Central dos Trabalhadores da Argentina (Fetia-CTA), Eduardo Menajovsky. “Neste mesmo pensamento, é fundamental a construção de redes sindicais, para fortalecer o sindicalismo mundial. As redes, com suas lutas, com formação sindical e com o uso da informação, conseguem desarticular a estratégia das multinacionais”, defendeu.

Sobre o projeto
Além dos debates, as atividades incluíram a formação de trabalhadores membros de redes sindicais. Cerca de 40 trabalhadores e trabalhadoras em multinacionais nos três países participantes do projeto debateram ações localizadas para o fortalecimento global das redes, conscientização sobre direitos e acordos globais, além de estratégias que possam ser desenvolvidas em suas bases dentro dos objetivos do projeto.

Os conteúdos debatidos fazem parte do primeiro de três módulos de formação que serão promovidos ao longo de 2016. Os objetivos gerais, ao final do projeto, são promover o trabalho decente por meio do fortalecimento das redes sindicais, reduzir as desigualdades e o trabalho precário na região, aprofundar as democracias e promover a formação de trabalhadores e trabalhadoras para agir frente ao avanço das multinacionais.

O projeto Ação Frente às Multinacionais na América Latinaé gerido em parceria com a CUT, o Instituto Observatório Social, CNM/CUT, CNQ/CUT, Conticom/CUT e CNTV/CUT, e apoiado pelo centro de formação DGB Bildungswerk (DGB BW), ligado à central sindical alemã DGB.

Nesta etapa do projeto, pelos metalúrgicos da CUT estão participando Fabiana dos Anjos (Gerdau do Espírito Santo), Roberto Hatadani (Toyota de Sorocaba) e Thiago dos Santos Oliveira (Toyota do ABC).

(Fonte: Observatório Social)