MENU

Um terço dos lulistas fica sem candidato

Publicado: 14 Dezembro, 2017 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

A pesquisa mais recente do Datafolha mostra que pouco mais de um terço dos apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passam a manifestar interesse em votar em branco ou nulo quando o petista não aparece como opção. É um contingente grande de eleitores que, em tese, irão esperar alguma manifestação de Lula para se reposicionar.

Outro segmento de lulistas dilui-se entre várias candidaturas. As figuras cotadas para disputar que mais crescem são a ex-ministra Marina Silva (Rede) e, novidade ainda pouco explorada nas análises, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Não há evidência de que os prováveis candidatos de direita e centro-direita ganhem algo muito relevante com a eventual exclusão de Lula da disputa eleitoral.

Líder isolado nas pesquisas com até 37% das intenções de voto, Lula foi condenado pelo juiz Sergio Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no controverso caso de um apartamento no Guarujá. Se o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) confirmar a condenação, o petista poderá ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa e ser impedido de concorrer. Poderá até ser preso. Imaginava-se no meio político que o TRF-4 julgaria o recurso de Lula por volta de abril ou maio. Na terça, os representantes da corte anunciaram que o caso será analisado em 24 de janeiro.

O melhor levantamento para fazer análises a respeito da possível exclusão de Lula da disputa é o Datafolha de 29 e 30 de novembro, com 2.765 entrevistas e margem de erro de dois pontos. É uma pesquisa recente, de um instituto com boa reputação e que oferece nove combinações de primeiro turno, o que permite muitas comparações.

Nessa análise, são considerados de direita ou centro-direita os seguintes possíveis candidatos: Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (PSD), Paulo Rabello de Casto (PSC) e João Amoêdo (Novo). Oriunda do campo lulista, Marina é indefinida. Acena para a direita em assuntos econômicos - falava em "independência do Banco Central" em 2014 -, mas não parece capaz de entusiasmar os principais atores desse campo: empresários, produtores rurais e agentes do mercado financeiro. Neófito em disputa majoritária e ainda mais isolado que Marina no meio político, o deputado Jair Bolsonaro (PSC) é considerado um personagem de extrema-direita.

Quando disputa contra todos esses nomes no cenário que hoje seria o mais provável, Lula alcança 36% das intenções de voto. Juntos, Alckmin, Dias, Meirelles, Castro e Amoêdo somam 12%. Numa outra simulação, o Datafolha apenas substitui Lula pelo petista Fernando Haddad no cardápio de candidatos. O ex-prefeito de São Paulo não vai bem, larga com 3%. Os cinco nomes de direita ou centro-direita, porém, não vão muito melhor. Juntos, crescem apenas quatro pontos, um avanço pequeno considerando a margem de erro.

Na simulação sem Lula, o que mais cresce é o contingente de eleitores sem candidato (os que optam por branco, nulo, nenhum ou que declaram não saber em quem votar). Esse grupo pula de 15% para 28%. São eleitores que perdem a referência imediata e, pelo menos no primeiro instante, abdicam de escolher um nome alternativo ao do ex-presidente. Em tese, é um relevante agrupamento de 13% do eleitorado que irá esperar o pronunciamento de um Lula manietado para então se posicionar. Isso equivale a pouco mais de um terço dos eleitores lulistas.

Os outros dois terços de "órfãos de Lula" optam por outros nomes. Sem o petista, Bolsonaro isola-se na liderança com 21%. Marina cresce de 10% para 16%. Ciro sobe de 7% para 12%, ficando à frente de Alckmin, que só varia na margem de erro (7% para 9%).

Que Marina herdaria parte dos votos de Lula já era sabido há meses. Pesquisas anteriores mostravam isso. Parte dessa migração pode ser atribuída à lembrança de sua participação no governo Lula como titular do ministério do Meio Ambiente e à associação simbólica entre os dois personagens de origem pobre: ele metalúrgico e sindicalista; ela seringueira e parceira de Chico Mendes.

Não há chance, porém, de Lula apoiar Marina em 2018. O rompimento político entre eles foi severo. Marina é entusiasta da Lava-Jato, acena até para o procurador Deltan Dallagnol, algoz do petista. Em 2014, colocou-se como vítima do "jogo sujo" do PT e depois apoiou o tucano Aécio Neves contra Dilma Rousseff no segundo turno. Os seis pontos que ela herda num cenário sem o petista, portanto, tendem a ser algo próximo de seu teto de aproveitamento na redistribuição de votos lulistas.

Novidade, dessa forma, é o desempenho de Ciro Gomes, que ganha cinco pontos quando Lula é excluído, um avanço de 71%. Ciro não é um lulista incondicional. No discurso, alterna críticas ao ex-chefe com elogios ao governo petista. Mas, sem dúvida, sua identificação com o ex-presidente, hoje, tende a ser maior que a do petista com Marina. Além disso, Ciro pertence a um partido médio, o PDT. Não é uma grande potência, mas pode considerado uma Ferrari perto da carruagem de Marina.

Em outras duas simulações sem Lula, Ciro aparece numericamente em segundo lugar, atrás de Bolsonaro. São testes em que Marina também não disputa. Em simulação de segundo turno com Alckmin, há empate técnico: 35% para o tucano, 33% para Ciro. Nesse caso, poucos duvidam: Lula é Ciro.

(Fonte: Valor Econômico)