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Usiminas quer aeroporto ao lado de parque estadual

Local é a última reserva intacta de mata atlântica de Minas Gerais

Publicado: 24 Novembro, 2008 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

A Usiminas quer construir um aeroporto ao lado de um parque. O Parque Estadual do Rio Doce já deu sinal verde para que seja analisado o licenciamento da obra. O projeto permitirá à empresa ampliar suas instalações em Ipatinga, no Vale do Aço, e criar 16 mil novos empregos na construção de uma nova usina e 3,5 mil quando ela estiver em operação. Empregos faltam nessa região de cidades muito pobres que desconhecem o sentido da palavra progresso. Progresso que, por outro lado, pode causar danos à última reserva intacta de mata atlântica de Minas Gerais.

Pesquisadores e ambientalistas não se opõem ao desenvolvimento da região, mas rejeitam a obra a 600 metros da divisa com o parque. Para a Usiminas, não há outra saída, pois no terreno onde hoje fica sua atual pista, em Ipatinga, será construída uma nova usina de aço. Num levantamento em 100 localidades, a empresa visitou 14 e concluiu que só em uma, em Bom Jesus do Galho, caberia o novo aeroporto. A meta é concluir em agosto de 2009, a um custo de R$ 78,8 milhões, o empreendimento, que prevê pista de 2 mil metros. Será a segunda maior do Estado.

O Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) elaborado pela empresa Brandt Meio Ambiente é criticado pelos que são contra a obra. Eles alegam que o documento seria omisso em relação a espécies ameaçadas de extinção - mais de uma dezena delas não foi citada -, teria sido feito às pressas e apresentaria soluções impraticáveis.

O muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxathus) foi uma das espécies de primatas ignoradas pelo estudo. Extinto na Bahia, por perda de hábitat, ele tem no parque do Rio Doce um dos seus últimos refúgios. Nos 36 mil hectares da unidade, o biólogo Luiz Gustavo Dias avistou 12 grupos do mamífero e viu a reação dos animais a helicópteros sobrevoando baixo ou caminhões que transitam pela estrada ilegal dentro do parque: pânico, stress, quedas e fugas.

"É importante frisar que a obra fica fora do parque. Haverá impacto, mas existem medidas para prevenir que ele chegue a esse ecossistema", garante o biólogo Eduardo Figueiredo, assessor ambiental da Usiminas. Figueiredo ressalta que o atual aeroporto já é colado ao parque do Rio Doce. Quando aterrissam, os aviões sobrevoam a mata por mais tempo (14 quilômetros) e a altitudes menores (140 metros). No trajeto futuro, o sobrevôo será de 6 quilômetros e a 310 metros de altitude.

O terreno do novo aeroporto fica na zona de amortecimento do parque, considerado Reserva da Biosfera. Segundo a lei que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, só são aceitas nas vizinhanças atividades que não resultem em dano para as áreas-núcleo. Mas no local havia uma floresta de eucalipto. Agora, a Usiminas afirma que, ao tocar o projeto, ajudará a comunidade científica ao bancar estudos que aprofundem os conhecimentos da relação entre ambiente e obras. E arcará com custos de preservação ambiental e também o zoneamento econômico-ecológico, que ordenará a ocupação no entorno do parque. Até 1º de dezembro, a empresa promete entregar as informações que faltaram no EIA-Rima.

Professores de seis universidades - Federais de Minas Gerais, de Ouro Preto, de Viçosa e de Goiás, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e do Centro Universitário do Leste Mineiro - exigem que a Superintendência Regional de Meio Ambiente, ligada à secretaria estadual, suspenda a análise do licenciamento. Querem que a siderúrgica opte por outro local, mesmo que custe mais.

O promotor de Justiça Walter Freitas de Moraes Júnior assinou com a Usiminas um termo de compromisso impondo 17 condicionantes caso a obra saia do papel. Entre as exigências, estão limitar sobrevôos de aeronaves, respeitando o comportamento das aves, manter uma base de combate a incêndios e promover a regularização fundiária da unidade de conservação.

Apoio a comunidade

"Cerca de 99,9% das pessoas apóiam o projeto", diz Delson Tolentino, assessor de relações institucionais da Usiminas. O prefeito de Bom Jesus do Galho, padre Aníbal Borges (PT), afirma que a polêmica é desproporcional, já que há aeroportos na Amazônia, inclusive em áreas protegidas, e para os 15,3 mil habitantes da cidade e moradores dos municípios vizinhos os benefícios sociais serão enormes. Os 32 membros do conselho consultivo do parque, que podiam vetar o projeto, aprovaram a discussão sobre o licenciamento. A Usiminas vê esses argumentos como um trunfo.

Para os acadêmicos, não se pode permitir a construção do aeroporto e estudar, depois que ele estiver operando, os efeitos à fauna e à flora. Em Minas, só 3% da mata atlântica está preservada e o parque do Rio Doce é um de seus últimos abrigos.

Fonte: O Estado de S. Paulo