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Vale Fertilizantes não negocia com os trabalhadores

Publicado: 03 Fevereiro, 2012 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Na Vale, eleita recentemente a pior empresa do mundo em votação internacional patrocinada por duas ONG’s, as peraltices vão além do desrespeito ao meio ambiente – motivação maior do indigesto título recebido.

Os direitos dos trabalhadores, incluindo aí a organização sindical, vêm sendo acintosamente desrespeitados na fábrica da Vale Fertilizantes, sediada em Araucária (PR).

A falta de negociação e de diálogo e a pretensão da empresa de impor suas decisões quanto a salário e condições de trabalho aos funcionários geraram um impasse cujo próximo episódio vai acontecer na sede do Ministério Público do Paraná nesta sexta-feira, dia 3.

A audiência vai ocorrer no MP, e não na Justiça do Trabalho, porque foi lá que, em 2001, a empresa firmou o compromisso de manter um número de trabalhadores na área de produção que previsse a chamada reserva técnica – grupo que poderia substituir ausentes a qualquer momento, sem a necessidade de um operário ter de dobrar a jornada de trabalho num mesmo dia, assumindo o turno de outro que faltou.

Como os trabalhadores da área são limitados a 185 para cobrir cinco turnos, a inesperada e imposta necessidade de dobrar o turno é uma constante, informa Paulo Roberto Fier, da direção do Sindiquimica-PR/CUT.

Pela inação da empresa, a tendência é que o cenário piore. Nos dois últimos anos, desde que a Vale comprou a antiga Fosfértil e ingressou no ramo de fertilizantes químicos, não há investimento na formação de novos quadros da área operacional, denuncia o sindicato. “São necessários cinco anos para formar um bom operador. Como não está sendo feito nada nessa área, vai chegar o momento em que não haverá gente para trabalhar”, comenta Fier. “E, enquanto isso, os que aqui estamos vamos adoecendo, sendo explorados”, completa.

Plano de saúde – Apesar da complexidade e insalubridade do serviço – lidar com reatores cuja temperatura varia de 200 graus negativos  a 1,2 mil graus positivos, ou ficar exposto ao barulho constante na casa de 100 decibéis, equivalente a uma motoserra em funcionamento, por exemplo –, a empresa insiste em retirar o plano de saúde dos aposentados, desrespeitando prática existente desde a criação daquela fábrica, há 30 anos.

Como os trabalhadores da empresa – 450, no total – se recusam a aceitar a proposta, a empresa decidiu unilateralmente garantir apenas o que prevê a CLT, ou seja, suspendeu os planos privados para todos.

“Eles querem renegociar um preço mais barato com a operadora, e para isso estão seguindo a recomendação de excluir os atuais e futuros aposentados”, diz o diretor do sindicato.

Entre os trabalhadores da linha de produção, os males auditivos chegam a 25% dos trabalhadores, segundo as CAT’s (Comunicação de Acidente de Trabalho), informa o Sindiquímica-PR/CUT. No período compreendido nos dois últimos anos em que a empresa mudou de proprietário, quatro desses funcionários foram aposentados por invalidez.

A prática despótica de lidar com seus trabalhadores, que já notabilizou a Vale por episódios dignos do livro dos recordes, como a greve de mais de um ano enfrentada no Canadá a partir de março de 2009, registrou em Araucária a façanha de conseguir a assinatura do acordo coletivo de 2010 apenas no mês de março do ano seguinte, com parte significativa da assembleia formada por trabalhadores coagidos pela empresa, segundo o sindicato.

A CUT Nacional vai enviar carta à direção da empresa e também ao BNDES, cobrando que a empresa e um de seus maiores financiadores pressionem a direção da unidade no Paraná para abrir negociações e a interromper imediatamente as práticas antissindicais, como a proibição de dirigentes de dialogar com os trabalhadores.

A empresa distribuiu nota oficial para contrapor à versão do sindicato. Nela, nada se fala sobre o plano de saúde e a falta de trabalhadores no setor operacional.

A negociação iniciou em outubro e, desde então, houve três reuniões com avanços significativos na proposta inicial. A composição final apresentada pela Vale Fertilizantes prevê a manutenção de todas as cláusulas anteriores para os empregados atuais, e um reajuste salarial linear de 9% para todos os empregados, sem teto. Além disso, foram incorporadas diversas melhorias como, por exemplo, implantação do cartão alimentação no valor de R$130,00 mensais, também para todos os empregados, sem exceção, e auxílio creche para filhos de empregadas até 6 anos.

A proposta da Vale Fertilizantes para celebração do acordo coletivo de trabalho 2011 / 2012 foi aprovada por todos os demais sindicatos, em todas as unidades da empresa.”

Fonte: CUT