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Agricultores familiares que alojam frangos sentem o impacto do coronavírus

O surto de coronavírus nos frigoríficos de Santa Catarina gera números altíssimos da doença na região oeste do estado

Publicado: 20 Agosto, 2020 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Divulgação
Covid-19 nos frigorificosCovid-19 nos frigorificos
Covid-19 nos frigorificos

A China, maior importadora de carne de frango do Brasil, encontrou no dia 13 de agosto, características do novo coronavírus em embalagens de frango produzidos em Santa Catarina. O lote era da empresa Aurora do Frigorífico de Xaxim e resultou em um protocolo feito pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) que obrigou a empresa a testar todos os seus funcionários e garantir o afastamento dos trabalhadores que testarem positivos à Covid-19, doença provocada pelo vírus.

Nenhuma das medidas determinadas pelas autoridades da área tem abrangido os Agricultores Familiares responsáveis pelo alojamento dos frangos. Os trabalhadores  estão expostos ao vírus e já sentem os prejuízos econômicos provocados pela pandemia.

Surto de Covid nos frigoríficos – O surto de coronavírus nos frigoríficos de Santa Catarina gera números altíssimos da doença na região oeste do estado, local que concentra o maior número de empresas frigoríficas em Santa Catarina.

Apesar da gravidade de contaminação, frequentes são as denúncias ao MPT sobre o não cumprimento das normas de seguranças exigidas de combate ao coronavírus, como a garantia do distanciamento social na linha de produção e a distribuição diária de novos EPIs. Esta negligencia resultou em 3.132 trabalhadores de frigoríficos contaminados pelo Covid-19 em 31 empresas de Santa Catarina, número divulgado pelo governo do estado em meados de julho.

Sem políticas de atendimento aos Agricultores Familiares – Responsáveis pelo cuidado dos frangos durante 42 dias, o alojamento em aviário é uma importante cadeia produtiva dos Agricultores Familiares, que se dividem entre diversas produções e a manutenção da parceria com grandes empresas do agronegócio. Com prazos maiores entre os lotes das aves, os pagamentos estão chegando mais tarde, gerando endividamento dos Agricultores que continuam com os mesmo prazos de pagamentos dos financiamentos e demais despesas.

De acordo com pesquisa do IBGE sobre os impactos da Covid-19, metade dos Agricultores Familiares perderam um terço de sua renda. Para Jandir Selzler, coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Santa Catarina – FETRAF-SC, a cobrança é que as estas grandes empresas responsáveis pela parceria, garantam rendimento aos Agricultores Familiares que estão tendo prejuízo com o aumento do intervalo do alojamento.

De acordo com Jandir, nenhuma medida de segurança foi adotada pela empresa, visando os cuidados com a saúde dos Agricultores e não há uma política de manutenção econômica destas famílias que dependem parte de sua renda do alojamento dos frangos. “Há uma determinação do MPT para com os trabalhadores, uma medida correta que cobra a responsabilidade da empresa. Mas precisa ter medidas também para os Agricultores que estão somando prejuízos e ainda se arriscando à contaminação do coronavírus”.

A relação comercial vai além do coronavírus no frango – Ainda que não comprovado o coronavírus no frango enviado a China, o descaso do governo brasileiro, da não adoção de protocolos de organizações internacionais, já refletem nas relações comerciais e começam a ter problemas que podem trazer impacto na Agricultura Familiar.

Para Elias Jabour, geógrafo e professor doutor de Ciências Econômicas, especialista sobre o desenvolvimento econômico chinês, é necessário avaliar essa relação comercial entre Brasil e China. Para ele, o pano de fundo desta questão comercial é uma questão claramente política. “Recentemente a Argentina e a China fecharam um acordo de livre comércio. Esse acordo faz com que o Brasil perca o seu principal mercado de manufaturados. Nosso país está em um processo de desindustrialização e a Argentina era praticamente o nosso único mercado e agora passa ser o mercado chinês”.

Segundo Jabour, os chineses não reagem de forma direta, ou seja, sabotando exportações, deixando de comprar coisas do Brasil, eles trabalham com essas ações indiretas, como o coronavírus no frango, fechando um acordo que cancela as exportações brasileiras para Argentina em prol dos chineses. “Acho que temos que tomar cuidado com o grau de deterioração das relações comerciais entre Brasil e China, principalmente durante o governo Bolsonaro”, alerta Jabour.

*matéria publicada no site da CUT