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Airbus mantém cautela apesar de sinais de melhora

Publicado: 18 Setembro, 2009 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Apesar dos indícios de que o pior já passou no tráfego aéreo mundial de passageiros, a fabricante europeia de aviões Airbus pode ser obrigada a cortar a produção ano que vem, com base nos temores sobre a saúde financeira das companhias aéreas e a falta de crédito, disse ontem o diretor-presidente, Tom Enders.

A Airbus, filial da European Aeronautic Defence & Space Co., prevê que a produção deste ano será equivalente ou maior do que a do ano passado, de 483 aviões, um recorde para a empresa. Mas a deterioração da situação financeira das companhias aéreas, que enfrentam cada vez mais problemas para financiar suas compras de aviões, pode forçar a empresa a desacelerar, disse Enders em entrevista ao Wall Street Journal.

"Acho que os próximos dois anos serão difíceis para nós", disse Enders.

A Airbus engavetou em outubro planos de aumentar a produção e, em fevereiro, começou a diminuir a de vários modelos em até 22%. "Certamente não descarto cortar ainda mais a produção", disse Enders.

A mensagem cautelosa de Enders surge num momento em que o setor comercial da Airbus aumentou ligeiramente a previsão de demanda no longo prazo. A empresa prevê que as companhias aéreas mundiais precisarão de quase 24.100 novos aviões de mais de 100 assentos até 2028, disse o diretor operacional, John Leahy, numa entrevista coletiva ontem em Londres. No início do ano passado a Airbus previa demanda de 23.385 aviões novos nos próximos 20 anos.

A Airbus informou num comunicado que o tráfego aéreo nos próximos 20 anos "continuará resistindo aos efeitos cíclicos do setor" e crescerá 4,7% por ano. Na previsão anterior ela antecipava expansão anual de 4,9% no tráfego aéreo, levando em conta o número de passageiros pagantes e a distância viajada.

Tamanho otimismo no longo prazo é um forte contraste com as condições atuais. O tráfego aéreo vem caindo desde o início de 2008, embora a velocidade desse declínio tenha diminuído - para cerca de 3% em julho, ante 11% em março, segundo a Associação Internacional do Transporte Aéreo, a Iata. Mas a Iata alertou também que as companhias aéreas têm conseguido encher os aviões com descontos, o que enfraquece a saúde financeira delas.

Na segunda-feira a Iata informou que prevê que seus membros terão prejuízo de US$ 11 bilhões este ano e quase US$ 4 bilhões no próximo. Ela também aumentou a estimativa de prejuízo dos membros em 2008 para US$ 16,8 bilhões.

Muitos financistas do setor duvidam que as companhias aéreas vão se recuperar tão cedo. "Enquanto as pessoas dos países desenvolvidos continuarem perdendo o emprego, não há como a indústria dos transportes cogitar uma recuperação", disse Bertrand Grabowski, diretor-gerente do DVB Bank SE em Londres, que atua intensivamente no setor.

A Airbus e sua rival americana Boeing Co. estão monitorando a saúde financeira das companhias aéreas enquanto tentam modificar o cronograma de entregas para concluir primeiro os pedidos das companhias mais fortes. Em abril a Boeing afirmou que iria cortar a produção do popular modelo 777 em até 30% a partir de junho.

Ambas as empresas enfrentam uma onda de adiamentos e cancelamentos de pedidos, com a desaceleração radical do número de novos contratos. A Airbus teve 21 cancelamentos até 31 de agosto, ante 147 pedidos e um total líquido de 777 pedidos ano passado. A Boeing teve 91 cancelamentos e 161 novos pedidos até 7 de setembro, e um total líquido de 662 pedidos ano passado.

"O que podemos entregar depende da saúde de nossos clientes", disse Enders.

Os sinais de que algumas economias importantes pararam de encolher pode não ser motivo de alívio para as companhias, disse Enders. O volume de tráfego aéreo está intimamente ligado ao crescimento econômico, mas uma possível alta dos combustíveis pode ultrapassar qualquer reajuste do preço das passagens e espremer ainda mais as aéreas, dizem analistas do setor.

Fonte: The Wall Street Journal