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Combate à precarização do trabalho é principal desafio da IndustriALL, diz secretário geral

Valter Sanches avalia papel da federação internacional e as ações da entidade em conjunto com o sindicalismo no Brasil. Hoje (3), inclusive, teve início atividade mundial em Mariana (MG).

Publicado: 03 Novembro, 2016 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Teve início nesta quinta-feira (3), em Bento Rodrigues (distrito de Mariana/MG), a Missão de Solidariedade o encontro da Rede Sindical dos Trabalhadores na BHP/Billinton, a primeira de uma série de atividades organizadas pela IndustriALL Global Union – federação internacional dos trabalhadores na indústria, logo após o seu Congresso, realizado no Rio de Janeiro há um mês.

A reunião faz parte da Missão de Solidariedade a Mariana, cuja comunidade foi atingida, em 5 de novembro de 2015, pelo maior desastre ambiental no Brasil o rompimento de duas barragens da Samarco em Mariana, que atingiu mais de 130 residências e deixou um saldo oficial de 19 mortos, além de um rastro de lama e dejetos que chegou ao litoral do Espírito Santo.

A Samarco é de propriedade da BHP/Billington e da Vale e o encontro da Rede Sindical reúne representantes dos trabalhadores na empresa em vários continentes.

A ação sindical é a primeira encaminhada pela nova direção da federação internacional e acontece exatos 30 dias depois do Congresso da IndustriALL, realizado no Rio de Janeiro, e que elegeu Valter Sanches, dirigente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT(CNM/CUT), como secretário geral da entidade mundial (leia aqui).

Confira, na entrevista abaixo, o que Sanches avalia como principais desafios da IndustriALL no próximo período:
 

Crédito: Adonis Guerra
Valter SanchesValter Sanches
Valter Sanches

O que representa ter um brasileiro à frente da secretaria geral de uma entidade como a IndustriALL?
Acredito que minha presença como secretário geral muda um pouco a percepção da entidade. Por mais que as pessoas tenham sensibilidade e solidariedade, ter alguém de um país em desenvolvimento, do hemisfério sul, muda muito a perspectiva de uma organização que sempre foi comandada por europeus. Muda também porque venho de um país como Brasil, onde o sindicalismo enfrentou um período de ditadura, depois enfrentou o neoliberalismo e na sequência a construção de um projeto democrático-popular. Isso faz muita diferença numa organização mundial, porque uma experiência como essa e trará perspectivas não só para o Brasil, mas para os países em desenvolvimento e também para os trabalhadores que estão ameaçados de precarização no mundo inteiro.

Do ponto de vista dos metalúrgicos e dos trabalhadores na indústria da CUT, há perspectivas de se intensificar parcerias?
Com certeza. As resoluções do plano de ação sempre são voltadas para o combate da precarização, ao poder das transnacionais, focada em eixos como construção sindical, fortalecimento dos sindicatos e luta por uma política industrial sustentável. Assim, os princípios da IndustriAll se desdobram em várias atividades.

E o próprio Congresso foi marcado por resoluções emergenciais e redundaram em encaminhamentos sobre o fechamento da Ford na Austrália, sobre a repressão a líderes sindicais na Colômbia e em relação ao Brasil. No nosso caso, houve uma resolução muito forte, que condenou o golpe à democracia e o ataque aos direitos dos trabalhadores, mas também pelo engajamento na campanha da Confederação Sindical Internacional (CS), de apoio ao presidente Lula, na luta contra a perseguição policial-jurídica-midiática que ele vem sofrendo (leia aqui).

Todas essas resoluções já estão se desdobrando em ações que estão em andamento. E o Brasil já está no centro das atenções agora, quando se completa um ano da tragédia em Mariana e a IndustriALL realiza o encontro mundial da Rede Sindical dos Trabalhadores na BHP/Billington –uma das donas da Samarco – que vai discutir ações para combater a estratégia de precarização e o desprezo da empresa em relação às condições de trabalho.

Vai acontecer, inclusive, momentos de encontro com a comunidade de Bento Rodrigues e de Mariana. É um gesto muito importante, até porque no último dia 20, os dirigentes da Samarco foram condenados pela Justiça. Ou seja, a luta não para, como o próprio slogan do Congresso marcou: a luta continua.

Vale destacar que a IndustriALL não está nascendo agora. É uma continuidade de uma estrutura criada há quatro anos, com a fusão das federações dos metalúrgicos, têxteis e trabalhadores químicos e de energia. O calendário não para.

E em relação às redes sindicais, a IndustriALL vai intensificar sua atuação para fomentá-las?
Com certeza. Ainda este mês, vamos ter o encontro mundial do setor automotivo e nessa atividade também haverá reuniões por empresa. E teremos representantes brasileiros nessa atividade. Além disso, a IndustriAll está apoiando e a CNM/CUT está participando intensamente da formação da rede mundial dos trabalhadores na Fiat-Chrysler. A CNM/CUT representa metalúrgicos de quatro plantas da Fiat no Brasil e terá papel importante para ajudar a organizar a Rede.

Você avalia que a IndustriALL conseguirá atuar de maneira mais forte para consolidar os Acordos Marco Internacionais (AMIs)?
Em empresas onde ele foi bem negociado, tem um bom monitoramento e tem Comitê Mundial de Trabalhadores, os Acordos podem ser uma ferramenta importantíssima. Nós acabamos de ter uma experiência disso: durante o Congresso, houve uma denúncia de um dirigente sindical que foi demitido da Hydro Alunorte – que é uma empresa de mineração e de energia no Pará pertencente à norueguesa Norsk Hydro. Ele nos procurou e nós intercedemos, acionando o Acordo Marco, e o presidente da Alunorte foi demitido em função dessa denúncia.

Isso mostra que quando ele é bem utilizado e formulado, pode ser uma ferramenta importante para os trabalhadores. Acho que um desafio da IndustriAll, em conjunto com seus filiados brasileiros, é de conseguir emplacar Acordos Marco com as multinacionais brasileiras, como Gerdau, Marcopolo, Embraer, Weg e outras empresas do ramo industrial. Seria muito importante também para garantir o fim da precarização em suas plantas no mundo inteiro e na cadeia produtiva delas.

E como a IndustriALL vê a luta sindical no que se refere às mulheres e aos jovens?
É sempre prioridade, porque temos sempre que pensar que os vetores de crescimento da força de trabalho no mundo têm sido esses: cada vez mais mão de obra feminina e de jovens e cada vez mais mão de obra técnica-administrativa. Esses setores, que têm menor índice de sindicalização, que são desiguais nos benefícios e nos salários, têm que ser priorizados. Precisamos também levar em conta a resolução do Congresso, de ter 40% de representação feminina na própria direção da entidade até 2020. Isso é um marco importante para esse foco de atuação.

Também entre as resoluções do Congresso, está o de construirmos uma estratégia de política industrial que dê conta do que se chama de “Indústria 4.0”, ou a 4ª Revolução Industrial, que vai mudar todos os setores deste ramo, que vai extinguir setores inteiros, já está representa um salto com a aplicação da Tecnologia da Informação. É um desafio para o movimento sindical entender, tentar resistir e poder negociar essa transição, assim como foi tempos atrás com o toyotismo.

E o que você leva para a IndustriALL da sua experiência como sindicalista brasileiro e representante dos trabalhadores no Conselho Administrativo Mundial da Daimler?
Minha experiência de anos de sindicalismo no Brasil será importante porque eu ficava entre esses dois mundos – trabalhando numa subsidiária de uma multinacional, mas ao mesmo tempo participando do conselho de Administração como representante dos trabalhadores. Eu tinha a perspectiva de olhar os dois modelos e tentar aproximá-los.

Outra coisa que precisamos melhorar muito é a comunicação da IndustriALL. A experiência um pouco mais recente na minha vida, de seis anos para cá, de liderar um projeto de comunicação (a TV dos Trabalhadores, TVT), com certeza vai contribuir também. Não tem jeito: precisamos driblar as distâncias do mundo. Se você precisa ir para o sudeste asiático, gasta 25, 30 horas para chegar; então, a gente precisa ter ferramentas e se aproveitar delas e de plataformas existentes para fazer com que a comunicação chegue com rapidez. Ao mesmo tempo, precisamos fazer com que o conjunto da sociedade perceba a importância de que melhorar as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores na indústria é de interesse de todos, não só da categoria profissional.

Basta ver uma nação que tem uma indústria forte, como a Alemanha, que oferece boas condições de trabalho e de salários, é um dos países mais ricos do mundo, e tem estabilidade, tem democracia e tem prosperidade. E é através da comunicação que poderemos fazer com que a sociedade entenda o nosso papel e esteja com a gente nessa jornada.

(Fonte: Assessoria de Imprensa da CNM/CUT)