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Dois anos após a tragédia de Brumadinho, os problemas continuam no Vale

Trabalhadores terceirizados da mineradora Vale denunciam problemas de segurança no emprego e abuso de poder por parte da administração

Publicado: 25 Janeiro, 2021 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Jornalistas Livres
Brumadinho 2 anos depoisBrumadinho 2 anos depois
Brumadinho 2 anos depois

A segurança no emprego na Vale Brasil ainda está longe de ser desejada. O operador de retroescavadeira Júlio César de Oliveira Cordeiro morreu em dezembro de 2020, após um deslizamento na mina de ferro Córrego do Feijão. Oliveira era funcionário da Vale Verde, empresa subcontratada pela mineradora Vale.

Embora a empresa tenha divulgado comunicado em que informa que fará novos estudos e avaliações das condições de segurança porque mantém o “compromisso com a segurança de todos os seus colaboradores e das comunidades”, os trabalhadores terceirizados não se sentem assim.

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada de Minas Gerais, Eduardo Armond, disse à mídia Brasil de Fato que trabalhadores terceirizados denunciam reiteradamente que sofrem perseguições por parte dos dirigentes da Vale para realizar suas atividades, mesmo que estejam psicologicamente chocados. Além disso, denunciam que têm medo de realizar suas tarefas por falta de segurança no emprego.

O dirigente sindical explicou que desde 2020 a Vale é convocada para realizar reuniões para discutir a situação de saúde e segurança dos trabalhadores em todas as suas áreas de atuação. Eles querem criar comissões sobre a situação do trabalho na mineração para monitorar e prevenir acidentes. Até agora, eles não puderam se encontrar.

O acidente de dezembro reavivou o medo que há anos convive com trabalhadores vinculados à mineradora Vale. Em 25 de janeiro de 2019, ocorreu o rompimento da barragem de rejeitos da Vale, causando o derramamento de 10 milhões de metros cúbicos de lodo tóxico em Brumadinho, no estado de Minas Gerais. 272 pessoas morreram e 11 ainda estão desaparecidas. 

“A morte do subempreiteiro da Vale, Júlio César de Oliveira Cordeiro, é uma constante lembrança do assassinato de Brumandinho, que não vai desaparecer enquanto não houver justiça para todos e responsabilidade da Vale. É também um lembrete oportuno de que os direitos à saúde e segurança no trabalho são indivisíveis”, disse o Diretor da Indústria de Mineração e Saúde Ocupacional e Segurança do IndustriALL, Glen Mufane.

Nos últimos dois meses, representantes da Vale e do governo de Minas Gerais negociaram o valor da indenização pelo desastre de Brumadinho. O objetivo era chegar a um valor que levasse em consideração os impactos diretos do desastre sobre a economia, o meio ambiente e os danos pessoais a todos os habitantes da região afetada pela tragédia. Infelizmente, em 21 de janeiro, eles relataram que não conseguiram chegar a um acordo.

Em todo caso, o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) denuncia que as mesas de negociação do acordo não contaram com a participação dos atingidos. Isso representa um acordo secreto e injusto para eles, que só beneficiaria a Vale.

Por isso, desde dezembro desenvolvem uma série de atividades denominadas “Jornada de Lutas: 2 Anos de Crime de Vale em Brumadinho. Justiça só com luta e organização ”. Exigem auxílio financeiro emergencial, a contratação de assessores técnicos independentes para garantir a segurança das barragens e o direito de participar das negociações do acordo entre a Vale e o governo do estado de Minas Gerais, para a defesa dos direitos de o afetado.

Por fim, o presidente do CNQ / CUT (afiliado ao IndustriALL), membro da comissão executiva do IndustriALL e co-presidente do IndustriALL para o setor de mineração, Lucineide Varjão Soares, disse:

"Quanto vale a vida? Já se passaram dois anos desde o crime ambiental de Brumadinho, e até agora a Vale ainda não assumiu a sua culpa ou responsabilidade pelo crime contra os trabalhadores, a sociedade e o meio ambiente.

Durante esses dois anos, a Vale utilizou dispositivos legais para atrasar o processo e não apresentou uma proposta que atendesse aos anseios dos familiares das vítimas, aos danos à população e ao meio ambiente. Até a justiça "curva-se" ao grande capital, em vez de exigir ou decretar uma sentença de reparação.

É hora de a justiça realmente fazer justiça. Nesse sentido, o MAB junto com organizações do sindicato e do movimento social continuam exigindo uma solução definitiva ”.

*matéria publicada no site do Industriall