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Golpe destrói setor naval e deixa mais de 300 mil trabalhadores desempregados

Publicado: 25 Maio, 2018 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Cerca de 300 mil trabalhadores e trabalhadoras de estaleiros e de empresas de apoio à indústria naval perderam o emprego com a política de desinvestimento da Petrobras promovida pelo governo ilegítimo e golpista de Michel Temer (MDB-SP). Só na indústria naval, 60 mil foram demitidos. Para cada desempregado direto do setor, outros quatro postos de trabalho da cadeia produtiva foram fechados - mais 240 mil trabalhadores.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos dos Municípios de Niterói, Itaboraí e Tangá, Edson Carlos Rocha da Silva, responsabiliza o governo, a atual gestão da Petrobras e a Operação Lava Jato pelo desmonte do setor - ao contrário de países da Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão, que punem corruptos, preservando as empresas e a economia de seus países, no Brasil, a operação comandada pelo juiz Sérgio Moro está punindo as empresas, sem avaliar o impacto econômico.

A Operação Lava Jato pode ter tirado R$ 142,6 bilhões da economia brasileira em 2015, o equivalente a uma retração de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo documento da Subseção do Dieese CNM/CUT e FEM-CUT/SP, divulgado no ano passado. Isso acabou diminuindo a massa salarial, o consumo das famílias, arrecadação de impostos, sem contar as obras paradas, ou seja, impactou e continua impactando a economia como um todo.

Antes da política do desmonte comandada por Temer e dos impactos da Lava Jato na Economia, o Brasil registrou recordes de geração de emprego e renda. Edson lembra que no setor naval, “o auge da empregabilidade foi em 2014, no governo Dilma”.

“Éramos mais de 82 mil trabalhadores diretos, hoje são pouco mais de 20 mil. Ou seja, perdemos mais de 60 mil postos de trabalho depois do golpe”, resume  o dirigente.

Segundo ele, que também é secretário de Administração e Finanças da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM /CUT), a Petrobras, nos governos Lula e Dilma, foi responsável pelo aumento de demanda na construção naval, com as encomendas de fabricação de navios e sondas para atender sua produção.

Edson lembra que antes dos governos Lula e Dilma, o setor naval tinha pouco mais de sete mil trabalhadores. O cenário mudou, segundo ele, porque  “Lula tinha um projeto de país, de empregabilidade”.

“Em 2003, em seu primeiro mandato, Lula criou uma comissão tripartite dentro do Conselho Diretor do Fundo de Marinha Mercante para que um percentual do frete das embarcações fosse voltado à construção de uma indústria naval brasileira forte para atender a Petrobras”, conta o dirigente.

O BNDES, como gestor do Fundo de Marinha, liberou cerca de R$ 15 bilhões para reformas e construção de estaleiros, que fabricavam navios de bandeiras brasileiras para as empresas, principalmente as embarcações de cabotagem, que são os navios que percorrem a costa do País.

A Petrobras encomendava aos estaleiros, dutos, navios e plataformas para suas subsidiárias, como a Transpetro. “Hoje tem R$ 2 bilhões para serem investidos no setor naval, mas ninguém pega esse dinheiro por não acreditar na retomada do crescimento, já que estão encomendando navios e plataformas da China, da Coréia e Singapura”, diz Edson, que complementa: “Enquanto isso, o trabalhador brasileiro está desempregado”.

Mais dados sobre os impactos da Operação Lava Jato na economia e no setor naval

O impacto mensurado desse processo, segundo o Dieese, foi o fechamento de mais de 2 milhões de empregos diretos e indiretos envolvendo uma série de investimentos da Petrobras e toda uma longa cadeia de produção que foram travadas.

No setor naval, o estudo mostra que de dezembro de 2014 a dezembro de 2016, foram fechados nos principais municípios em que concentram os trabalhadores do naval mais da metade de toda a base.

Casos emblemáticos como o município do Rio de Janeiro que encolheu sua base em mais de 80%, saindo de um estoque de 12,5 mil trabalhadores e fechando em 1,5 mil trabalhadores diretos. Fatos semelhantes podem ser observados nos municípios de Niterói, Rio Grande, Maragogipe e Navegantes.

Desde os anos 2000, foram construídas no país 549 embarcações e a carteira de pedidos no final de 2016, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), era de 152 embarcações.

Em dezembro de 2013, um ano antes de todo desenrolar da crise, a carteira de pedidos estava em 381 embarcações. Uma queda de mais de 60%, impactando no fechamento de milhares de empregos diretos e indiretos, além de toda desestruturação de diversos municípios que viviam de uma economia aquecida puxada pelo segmento.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos dos Municípios de Niterói, Itaboraí e Tangá, Edson Carlos Rocha da Silva, acusa ainda que as investigações sobre a Petrobras é uma desculpa do governo golpista para acabar com os investimentos da estatal.

O Estaleiro Ecovix , no Rio Grande (RS), envolvido na Lava Jato e condenado pelo juiz Sérgio Moro, parou a construção de dois navios, é um exemplo que o dirigente cita.

“O estaleiro investiu R$ 600 milhões em aço para a construção de navios com recursos do BNDES – dinheiro nosso – e a Petrobras, ao invés de continuar a construção decide vender o aço como sucata para a Siderúrgica Gerdau por R$ 100 milhões, gerando um prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres públicos”, diz o presidente do sindicato dos metalúrgicos de Niterói.

Edson cita também os casos dos estaleiros Mauá, em Niterói, que demitiu 3.800 funcionários por causa de uma briga jurídica entre o proprietário e a direção da Transpetro,subsidiária da Petrobras. A empresa não pagou nenhum direito aos trabalhadores, seja o INSS, seja o Fundo de Garantia.

“Tem três navios parados lá. Um está 90% pronto, outro 80% e o último 50% e estão virando sucata. O governo e a Petrobras são omissos em relação aos trabalhadores e ao dinheiro público”, afirma

Outro estaleiro que é um exemplo de descaso da Petrobras é o Enseada de Paraguaçu, na Bahia, que fechou antes de abrir.

“Tem 40 pessoas lá vigiando um patrimônio de R$ 2 bilhões que está enferrujando”

O dirigente se revolta ainda com o fim da Sete Brasil – empresa de capital misto, com 10% de participação da Petrobras e os demais 90% divididos com empresas privadas como os bancos Bradesco e Santander, os Fundos de pensão da Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil,entre outros.

Segundo Edson, a Sete Brasil foi criada para desburocratizar e facilitar a fabricação e compra de navios; sondas e a contratação de funcionários pela Petrobras, a preços mais baratos. Hoje a empresa entrou em recuperação judicial, por falta de investimentos no setor naval brasileiro.

“Este é um desgoverno que quer privatizar tudo, entregar o Brasil”.

Antes, trabalhavam direta e indiretamente para a Petrobras, 17 estaleiros. Desses, 12 pararam as atividades ou estão em recuperação judicial. Hoje são apenas cinco estaleiros trabalhando para a estatal, dois nos estados do Rio de Janeiro, dois em Pernambuco e um no Espírito Santo.

“O valor das embarcações construídas na China é 1% mais barato que as construídas no Brasil. 1% não vale o desemprego de milhares de trabalhadoras e trabalhadores brasileiros”, critica o dirigente.

(Fonte: Rosely Rocha, especial para Portal CUT)