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Positivo Informática nega nova oferta para vender controle à Lenovo

Publicado: 17 Fevereiro, 2009 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Exatamente dois meses após ter recusado publicamente a oferta de aquisição feita pela chinesa Lenovo, a fabricante de computadores Positivo Informática volta a ser alvo de notícias sobre sua eventual venda. No mercado de ações, a história se repetiu. Ontem, os papéis da companhia negociados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) dispararam e chegaram a registrar alta de 91,3% durante o dia. No encerramento do pregão, fecharam cotados em R$ 9,30, com alta de 78,8%. 
As atuais negociações - mais uma vez - envolveriam o interesse da Dell e da Lenovo, duas companhias que, nos últimos anos, têm se esforçado para ganhar espaço no mercado de varejo brasileiro. 

Ontem, segundo informações da Bloomberg, especulações davam conta de que a Lenovo, maior fabricante chinesa de PCs, teria aumentado sua oferta de compra da Positivo para R$ 31 por ação, valor bem superior à proposta feita em dezembro, de R$ 18 por ação. As negociações, no entanto, não foram confirmadas pelas empresas. 

Para alguns analistas que acompanham o desempenho da Positivo, o pagamento de R$ 31 por ação superaria as melhores expectativas. Em dezembro, quando a Lenovo formalizou uma proposta para compra da Positivo, a aquisição dos papéis dos controladores - que detêm participação de 70,7% da companhia - atingiria R$ 1,117 bilhão. Se fosse fechada em R$ 31 por ação, essa negociação saltaria para R$ 1,924 bilhão.

"Seria um prêmio muito alto, dada a situação atual do setor", diz Luciana Leocadio, analista da Ativa Corretora. "A Positivo é um ativo interessante, mas é preciso considerar o momento atual, que não é nada confortável para aquisições." 

Em relatório, a Itaú Corretora informou que, embora veja na aquisição uma atitude estratégica para qualquer multinacional interessada em ganhar espaço no país, mantém uma visão conservadora sobre a potencial venda da Positivo, especialmente após a Lenovo ter anunciado, recentemente, reestruturações em sua operação. 

Seja qual for o preço, a aquisição da Positivo daria ao seu comprador a liderança imediata do mercado de PCs no país, posição que a companhia ocupa há quatro anos, favorecida principalmente pelas compras feitas pelo consumidor final. Até o terceiro trimestre do ano passado, a Positivo detinha 13,2% do mercado total de computadores. Se considerado apenas o mercado oficial - um terço do setor ainda é engolido por produtos contrabandeados ou montador ilegalmente -, a participação da companhia sobe para 21,5%, segundo a empresa de pesquisas IDC. Em 2008, mesmo com o enfraquecimento das vendas no último trimestre, a Positivo colocou 1,6 milhão de computadores no mercado, um aumento de 15%. 

"Apesar do momento pessimista do setor, a Lenovo tem US$ 1,8 bilhão em caixa para investir e o Brasil continua a ser uma prioridade de crescimento da empresa", avalia a Brascan Corretora. 

Fundada em 1989, a Positivo abriu seu capital e lançou ações no mercado em dezembro de 2006. Na ocasião, o papel valia R$ 23 e atingiu o pico de R$ 47 em novembro de 2007. Em 2008, no entanto, as ações vinham em queda e, em outubro, a desvalorização chegou a 90% no ano. A reação começou em dezembro, quando vazaram informações de que a companhia estava em negociações para ser vendida. Em um único dia, as ações chegaram a ter valorização de 125% no decorrer do pregão. Com o fato relevante que tratava da recusa da oferta da Lenovo, em 17 de dezembro, o preço dos papéis voltou a cair. Ontem, antes da agitação do mercado, as ações abriram o dia cotadas a R$ 5,22. 

"É incrível o que está acontecendo. Não há sequer conversa com nenhuma empresa", afirmou, ao Valor, Ariel Szwarc, vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Positivo. Com a frase, o executivo descartou a possibilidade de que, além da Lenovo, poderia ter surgido outro interessado no negócio. Acrescentou que, até agora, não avançou a ideia de fazer parceria com a fabricante chinesa, como havia sido informado em dezembro. Szwarc recebeu um ofício da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com pedido de explicação sobre a alta das ações e os rumores de mercado e, antes de responder, falou com o presidente da empresa, Hélio Rotenberg, sobre o assunto. "Ele reconfirmou que não há nada acontecendo", disse. "Creio que há pessoas lucrando com essa especulação", comentou. 

A crise atrapalhou os planos da Positivo para 2008. Como muitos componentes são cotados em dólar, a alta da moeda encareceu os produtos, e a falta de crédito afetou as vendas no varejo. Com o cenário desfavorável, os investidores passaram a ver a venda do controle para uma multinacional como uma boa saída para a empresa. 

No quarto trimestre, as vendas somaram 409,3 mil unidades, uma redução de 8,7% em relação a igual período do exercício anterior. A receita líquida anual chegou a R$ 1,99 bilhão, com alta de 12,3% sobre o resultado obtido um ano antes, mas de outubro a dezembro (R$ 527 milhões) houve queda de 5% em relação aos três últimos meses de 2007. 

Para aumentar as vendas, a Positivo decidiu fazer promoções. Na semana passada, reduziu em até R$ 300 os preços dos netbooks Mobo. No início do mês, informou que vai sortear computadores, motos, carros e uma casa entre os consumidores que comprarem equipamentos da marca até 31 de março, ação que conta com a parceria da Microsoft. A empresa também fez parcerias com distribuidoras de produtos e quer reforçar a venda no segmento corporativo. 

Além de sua força no varejo, puxada pela parceria com a Casas Bahia, a Positivo também chama a atenção dos rivais pelo espaço que conquista nas compras governamentais. Em 2008, a empresa vendeu 319 mil PCs ao setor público, volume 86,3% superior ao de 2007. Em dezembro, assinou um acordo com o MEC para fornecer 171 mil PCs e 323 mil monitores para laboratórios de escolas públicas, um contrato de R$ 292,8 milhões. "O importante é não perdermos o foco", disse Szwarc. "Sempre dissemos que havia empresas interessadas. Agora não há nenhuma." Ontem, após o fechamento do mercado, a Positivo recomendou, por meio de nota, "que os acionistas não tomem qualquer decisão de investimento com base nessas especulações."

Fonte: Valor