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Renault descobre como é difícil o mercado russo

Publicado: 21 Outubro, 2009 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Investir na Rússia é um negócio complicado. Basta perguntar à BP ou à Shell. Agora, é a vez do Carrefour e da Renault sentirem na pele.

A maior rede varejista da Europa anunciou na semana passada a saída do mercado da Rússia, apenas quatro meses depois de ter inaugurado sua primeira loja no país. Nesta semana, foi a vez do grupo automotivo francês descobrir que a Rússia não é o eldorado que muitas montadoras pensavam que seria há dois anos.

No fim de 2007, a Renault surgiu como a vencedora inesperada de uma disputa para formar uma aliança estratégica com a Avtovaz, maior montadora russa. Os favoritos eram Fiat, ex-parceiro histórico do grupo russo, e a General Motors. Parece, contudo, que os russos ficaram impressionados com as credenciais do chefe celebridade da Renault, Carlos Ghosn, e, especialmente, com seu sucesso em recuperar a Nissan, do Japão.

A Renault, na ocasião, também parecia preparada para investir mais do que os rivais no empreendimento na Rússia. De fato, pagou cerca de US$ 1 bilhão por sua participação e descreveu a aliança como um "acordo em que os dois lados ganham".

O grupo francês - como também muitos analistas do setor - sentiu que havia conseguido uma grande vitória. Afinal, o acordo dava à Renault uma base significativa no que se considerava, então, um dos mercados automotivos de maior crescimento no mundo. A Rússia parecia destinada a se tornar o maior mercado de carros na Europa, superando a Alemanha.

A aliança ajudaria a Avtovaz, e sua marca Lada, a renovar e expandir sua linha de automóveis, criando valor tanto para os russos como para a Renault.

Dois anos depois, os sonhos expansionistas da Renault na Rússia tornaram-se um pesadelo. O mercado russo despencou, as vendas da Avtovaz desabaram 55% em 2009 e a companhia prevê prejuízo em torno de ? 800 milhões neste ano. Seu diretor de finanças alertou para o risco de quebra, a menos que seus bancos a resgatem e a ajudem a reestruturar dívidas superiores a 60 bilhões de rublos.

Os russos vêm pressionando seu sócio francês minoritário a ajudar no resgate. Mas a Renault parece pouco inclinada a por mais dinheiro no empreendimento.

Ghosn disse esta semana estar preparado para apoiar a Avtovaz. Porém, embora a Renault esteja disposta a continuar apoiando o parceiro russo por meio do fornecimento de conhecimento gerencial e tecnologia, não tocou no assunto de injetar mais recursos.

O banco estatal russo Sberbank e o VTB são os maiores credores da Avtovaz. Até agora, resistiram em ajudar a montadora, supostamente confiando em que a Renault faça o trabalho por eles. O Sberbank parece concentrar seus esforços no setor de carros no apoio à oferta da Magna International pela Opel.

A Renault pode muito bem ter sentido que havia se tornado a sócia automotiva internacional favorita do Kremlim há dois anos. Desde então, no entanto, o quadro mudou, e a empresa, assim como muitos outros investidores estrangeiros, vem aprendendo como é difícil fazer negócios na Rússia. Mesmo companhias com participação majoritária em empreendimentos na Rússia tiveram dificuldade. Novamente, basta perguntar à Shell como ela foi obrigada a abrir mão do controle de seu gigantesco projeto Sakhalin.

Fonte: Valor