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Sem sindicatos fortes, futuro da indústria brasileira estará na contramão do mundo, alerta CNM/CUT

Sindicalistas, sociólogos e representantes de entidades internacionais debateram o futuro da indústria e o papel dos sindicatos para mudar os rumos do país

Publicado: 26 Março, 2021 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Divulgação
Valter Sanches, secretário-geral da IndustriallValter Sanches, secretário-geral da Industriall
Valter Sanches, secretário-geral da Industriall

Em painel digital intitulado “Rumos da Indústria no Brasil”, realizado na manhã desta quinta-feira (25), dirigentes da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT) e da IndustriALL Brasil apontaram que sem sindicatos fortes e uma política de fortalecimento do setor, o futuro da indústria no Brasil será majoritariamente extrativista, de baixos salários e ambientalmente insustentável.

O cenário vai na contramão do mundo e de países desenvolvidos da Europa e Ásia, que apostam na energia limpa e complexo da Saúde como alternativas para a reconversão da indústria global, apontou a socióloga do Departamento Intersindical de Economia e Estatista (DIEEESE), Adriana Marcolino fez um resgate histórico da indústria brasileira no Encontro Nacional dos Segmentos da Indústria Metalúrgica da CNM/CUT, nesta quinta-feira (25). 

Segundo ela, após um período de consolidação no final dos anos de 1970, a atividade industrial no Brasil só veio caindo sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) do país.

“Enquanto a indústria extrativa mineral manteve o número de trabalhadores entre 1980 e 2019, a indústria de transformação caiu de 15% para 11% neste período. A participação mais expressiva ficou na indústria de construção”.

“Considerando o rumo que estamos tomando, a indústria extrativista, com ocupações mais insalubres e de baixa remuneração, será a tendência industrial dos próximos 30 anos. A política de indústria nacional da Petrobrás de 2014 a 2016 era um caminho para o país, pois apesar de ser danosa ao meio ambiente, tinha um caráter de fomento ao desenvolvimento das cadeias produtivas da tecnologia de baixa e média intensidade” avaliou Marcolino.

Desmonte da Petrobrás contribui para cenário alarmante

O desmonte da Petrobrás levou junto a indústria de máquinas, bens e capitais mudou o cenário econômico brasileiro. A política industrial da petrolífera possibilitava recursos para investimento em ciência e tecnologia, o que culminou no golpe de 2016 e a Lava Jato.

“Hoje vemos que mais do que um juiz Ladrão, Sérgio Moro foi um vendilhão do Patrimônio Nacional. Com sua operação que dizia combater a corrupção ele ajudou a destruir a indústria naval e acabar com milhões de empregos em todo o país. A CUT, a CNM e movimentos sociais precisam bater nesta tecla todos os dias, a sociedade não pode esquecer o que aconteceu no Brasil”, denunciou Paulo Cayres, presidente da CNM/CUT conhecido como Paulão.

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Paulo Cayres, o PaulãoPaulo Cayres, o Paulão
Paulo Cayres, o Paulão

Sem governo, sindicatos e trabalhadores devem ficar juntos

O Secretário-Geral da Industriall, Valter Sanches, disse que é preciso transformar os sindicatos para construir um futuro melhor porque não dá para depender o governo brasileiro, “que não faz nada”.

“Temos uma necessidade imperativa da transformação dos sindicatos, senão não será possível fazer frente à gama enorme de desafios que estamos enfrentando. A pandemia turva a nossa análise porque ela afeta todas as questões nacionais. Os trabalhadores estão fazendo acordos para evitar um novo confinamento e aqui no Brasil o governo nacional não faz nada para salvar vidas. É um genocídio”, afirmou.

Sanches também destaca que, atualmente, o trabalhador do chão de fábrica não é mais a vanguarda das lutas sociais e que é preciso ampliar a luta.

“Assim como aconteceu com os ferroviários, que eram uma categoria muito importante no final do século XIX e perderam espaço para os metalúrgicos no final dos anos de 1970, os trabalhadores por aplicativo, extremamente precarizados são os que podem liderar as novas mobilizações por direitos trabalhistas. Nesta conjuntura, ou os sindicatos encontram uma forma de se aproximar dos profissionais técnico-administrativos, que também são explorados no tele trabalho, dos jovens e das mulheres ou perderá representatividade junto à sociedade”, analisou o dirigente.

Para ele, o caminho para o protagonismo sindical do futuro é justamente atraí-los para a luta. 

Futuro da indústria em 30 anos depende das lutas de agora

Um futuro melhor para a indústria brasileira e consequentemente do sindicalismo depende da relação direta de uma produção industrial que esteja atrelada ao problemas sociais brasileiros, não apenas voltada para a exportação ou o atendimento do mercado de consumo interno.

“Temos de conceber em uma política de energia limpa, ambientalmente sustentável. O Brasil precisa pensar melhor a reciclagem e um plano industrial ligado aos gargalos econômicos e sociais brasileiros. Durante a pandemia, conseguimos pensar nisso em relação ao complexo da Saúde. Agora temos de refletir sobre quais são as necessidades das políticas industriais para resolver problemas como o acesso à internet, o problema da habitação e do déficit de atendimento na Saúde”, avaliou. 

Para Valter “não podemos nos apegar à velha indústria, nossos companheiros do Chile e da Bolívia e da Argentina possuem 90% das reservas naturais do Lítio. Lá eles querem não só exportá-las, mas utilizar o material para o desenvolvimento de baterias para celulares e carros elétricos. O caminho do Brasil deveria ser este. Pode ser uma solução para o desenvolvimento industrial brasileiro”. 

Machismo precisa ser combatido

Paulão ainda destacou a necessidade do feminismo ser incorporado definitivamente como pauta essencial pelas entidades sindicais.

“Só vamos combater o Machismo e o feminicídio se de fato o praticarmos dentro das nossas direções. A falência ao combate ao machismo está no crescimento dos crimes de ódio contra mulheres durante a pandemia. Por isso temos uma prática de paridade de gênero dentro das nossas mesas e debates. Isto precisa entrar na cabeça dos dirigentes sindicais de uma vez por toda”, pontuou.

*Escrito por Marcus Perez (STIMMME-SL), especial para a CNM/CUT